O projeto “1ª Edição – Per Sempre Tchê” é aprovado.
1 – O projeto é apresentado pelo INSTITUTO TARCÍSIO VASCO MICHELON, com sede em Bento Gonçalves, tendo sido submetido à análise técnica por parte do Sistema Pró-Cultura, habilitado pela Secretaria e encaminhado a este Conselho nos termos da legislação em vigor.
Apresenta como responsável legal o produtor cultural Tarcísio Vasco Michelon, é vinculado à área de Tradição e Folclore e abarca dez municípios gaúchos onde se desenvolverá: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Flores da Cunha, Garibaldi, Guaporé, Nova Petrópolis, São Sebastião do Caí, Serafina Corrêa, todos tendo como local suas Casas de Cultura, e Porto Alegre, em local a ser definido pela SEDAC.
O evento é apresentado pelo proponente como “não vinculado a uma data fixa”.
A produção refere o nome do professor Darcy Loss Luzatto numa consultoria valiosíssima, sendo ele notório conhecedor dos hábitos e costumes gaúchos e das línguas e dialetos que aqui se praticam. O processo defende o uso do “Talian”, como é conhecido o dialeto resultante do falar dos colonos italianos, em sua maioria originários da região de Vêneto, Itália, que para cá vieram a partir de 1875, e passaram a utilizar no trabalho, na vida social, nos seus contatos internos e externos, uma fusão entre o português necessário para as relações oficiais e as suas conversações em italiano, em muitos casos dialeto de suas regiões de origem.
A cultura, trazida por esses imigrantes e manifestada em todos os momentos da convivência, o uso de instrumentos característicos da chamada “zona colonial italiana”, a gastronomia, o canto, o acordeon, foram elementos formadores desta sociedade que tinha também este dialeto, que hoje se pode chamar tranquilamente de “talian”, como um dos seus fundamentos.
Hoje, o dialeto em questão é valorizado principalmente por ser considerado patrimônio cultural pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e as influências da música praticada por estes imigrantes se consolida na contribuição dada à música tradicionalista do Rio Grande do Sul.
Nada disso evitou a perseguição movida historicamente contra o uso do “talian”, pois isso ocorreu especialmente no período das duas guerras mundiais em que a Europa e o mundo, e o Brasil e a Itália consequentemente, estiveram envolvidos.
Este projeto tem o objetivo de influir positivamente na formação cultural das crianças e dos jovens e de promover a integração da música e do dialeto “talian”.
É o relatório.
2 – Na própria descrição da proposta pode se verificar que as intenções culturais são as melhores, e que a contribuição do professor Darcy Loss Luzatto, profundo conhecedor da região, das línguas e dialetos falados no Rio Grande do Sul, e da própria literatura vêneto-brasileira, como autor respeitado e historicamente admirado, pôde colaborar nos diversos encontros que manteve com os organizadores, e influenciá-los no sentido de que a contribuição do “talian” e da cultura italiana foram fundamentais para o nascimento e a cristalização deste Rio Grande moderno.
Por outro lado, são extremamente significativos os dez municípios selecionados para funcionarem como sedes dos espetáculos a serem produzidos e que, por seu turno, tem pesquisa, ensaios, divulgação e ensino do idioma “talian”, este em 48 aulas previstas, além dos dez espetáculos que serão produzidos.
Isso sem falar nos aspectos desenvolvimentistas, pois economicamente a área abrangida por eles, depois do período de perseguição e estagnação que caracterizou a época de 19014-1918 e especialmente o período 1939-1945, quando o chamado “Estado Novo” estimulou e levou adiante a repressão às manifestações culturais que pudessem significar simpatia ao povo e ao país de origem da maioria daqueles colonos, a Itália, então integrante do chamado “Eixo”, contra o qual combateram as forças aliadas, cresceu e até hoje cresce e se projeta.
O diretor musical do projeto é o maestro Astor Dalferth e é preciso destacar também a coreografia que é do argentino Luiz Arieta, e que atua no Brasil há mais de quarenta anos e em outros países da América Latina e nos Estados Unidos e Inglaterra, além da própria Argentina e também pelo Brasil afora.
O roteirista é nada menos do que o premiado escritor e professor José Clemente Pozenatto, inclusive o coordenador da pesquisa “Inventário da Diversidade Cultural da Imigração Italiana” da Universidade de Caxias do Sul, e ponto de partida para que o IPHAN reconhecesse esta diversidade linguística sulina como “Patrimônio Cultural Imaterial”.
Outro ponto de destaque é o já citado professor Darcy Loss Luzatto, descendente de imigrantes que nasceu em Pinto Bandeira, 3º Distrito de Bento Gonçalves, e criador da editora DCLuzatto, além de professor de várias disciplinas até 1977, quando se aposentou para se dedicar mais livremente à pesquisa, à atividade literária e à edição.
O projeto destaca também a influência da gaita-ponto que teve grande uso e circulação no Rio Grande do Sul, originando indústrias que se destacaram nacionalmente como a Todeschini e que até hoje é uma referência nacional para a sanfona de oito baixos.
Aliás, destaca-se ainda a presença do renomado músico Renato Borghetti como convidado especial, nos dois ensaios finais.
Os municípios selecionados para as aulas e para os espetáculos estarão colaborando e participando através do franqueamento das instalações de suas Casas de Cultura, para que possam ser realizados os ensaios com orquestra e corais, participação de bailarinos e cantores convidados, e seleção de repertório e formatação e para as aulas de “talian” que em número de 48 ocuparão tempo e espaços.
3. Em conclusão, o projeto “1ª Edição – Per Sempre Tchê”, por seu mérito cultural, relevância e oportunidade, é aprovado, podendo vir a receber incentivos no valor de até R$ 419.980,00 (quatrocentos e dezenove mil, novecentos e oitenta reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura/RS.
Porto Alegre, 17 de setembro de 2014.
Walter Galvani da Silveira
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Em razão do Of. N° 06/14 da SEDAC, os projetos aprovados por este Conselho são considerados prioritários, sendo, portanto, dispensados da Avaliação Coletiva.
Sessão das 10 horas do dia 17 de setembro de 2014.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: André Kryszczun, Maria Eunice Azambuja de Araújo, Adriana Donato dos Reis , Fabrício de Albuquerque Sortica, Leoveral Golzer Soares, Milton Flores da Cunha Mattos, Lisete Bertotto Corrêa, Loma Berenice Gomes Pereira, Rafael Pavan dos Passos, Jacqueline Custódio (11)
Abstenções: Luiz Carlos Sadowski da Silva, Susana Fröhlich (02)
Ausentes no momento da votação: Leandro Artur Anton, Franklin Cunha, Élvio Pereira Vargas (03)
Neidmar Roger Charao Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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