O projeto “Letras do Sul” é aprovado.
1 - O projeto “Letras do Sul”, após análise do Setor de Análise Técnica da Secretaria de Estado da Cultura, é encaminhado a este Conselho, nos termos da legislação em vigor. A proponente é a produtora cultural BEATRIZ HELENA MIRANDA ARAÚJO – ME CEPC: 852.
O Projeto em tela propõe a criação de canções inéditas compostas por Kleiton & Kledir em parceria com grandes nomes da literatura gaúcha contemporânea: Caio Fernando Abreu, Luis Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, Carpinejar, Letícia Wierzchowsky, João Gilberto Noll, Alcy Cheuiche, Lourenço Cazarré, Claudia Tajes e Paulo Scott, com a curadoria do professor Luis Augusto Fischer. É prevista a gravação de CD e registro em DVD contendo cenas das gravações e depoimentos dos escritores. Haverá turnê de lançamento com 5 shows e 4 palestras sobre “A arte de escrever letras de canções” para alunos e professores de faculdades de letras, escritores e músicos locais. Kleiton Ramil comanda o programa O Sul em Cima, que vai ao ar pelas ondas da Rádio Roquete Pinto, no Rio de Janeiro, com transmissão em 11 emissoras de Universidades Estaduais e Federais em Pelotas, Caxias do Sul, Torres, Porto Alegre, São Paulo, Minas Gerais e Japão. A Música Popular Brasileira tem uma tradição de composições de alto nível, de especial requinte poético, que em determinado momento foi potencializada com a contribuição do poeta Vinícius de Moraes como autor de canções. É uma história bonita, de aproximação de duas áreas artísticas, que ajudou a elevar ainda mais o padrão de excelência de nossos letristas. Este projeto pretende buscar com isso, uma reaproximação do público com uma cultura verdadeiramente relevante e, em especial, com o livro que enfatiza a riqueza da literatura gaúcha. A apresentação das palestras será gratuita. Com os custos de criação e produção subsidiados, será possível diminuir os valores dos ingressos para os shows, o que contribui para a democratização do acesso à cultura. Excertos do registro serão disponibilizados no site de K&K, no intuito de revelar o caráter educativo do projeto, e o DVD será distribuído como um bônus integrante do CD. O carisma e a qualidade da obra destes artistas conquistaram plateias, e suas canções se propagam além fronteiras. Foram gravadas por Simone, Nara Leão, MPB4, Caetano Veloso, Xuxa, Claudia Leitte, Fafá de Belém, Fábio Jr, Nenhum de Nós, Zizi Possi, Ivan Lins, Chitãozinho e Xororó, Zezé de Camargo e Luciano, Leonardo, Belchior, Emilio Santiago, Mercedes Sosa e Fito Paez, a cantora portuguesa Eugenia Mello e Castro e a japonesa Chie. Formadores de opinião, na década de 80, a música dos irmãos Ramil aproximou o Brasil do tão distante RS. Com um sotaque diferenciado e nada caricato, eles expressaram as aspirações, a maneira própria do falar e cantar dos jovens portoalegrenses, com termos até então desconhecidos no Brasil: “Deu Pra Ti” e “Tri Legal”. Acabaram se transformando em símbolos do gaúcho contemporâneo, o que fez com que o Governo do Estado lhes conferisse o título de “Embaixadores Culturais do RS”.
O Projeto Letras do Sul, em sua metodologia, define turnê de lançamento do novo trabalho e as palestras que percorrerão quatro cidades: Pelotas, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Porto Alegre, sendo que a capital terá dois espetáculos. A equipe de produção dos espetáculos será composta pelo produtor executivo, produção local e coordenação. Essa equipe também entrará em contato com as universidades, teatros e escolas para firmar parcerias com vistas à promoção das palestras, e aqui cabe destacar a competência de Branca Ramil. Dos Teatros onde se realizarão os shows, nos anexos, são inseridas cartas de intenção em receber os shows e palestras. O valor de venda dos CDs será subsidiado nos espetáculos ao custo de R$ 25,00, lembrando que o DVD faz parte do Kit. Serão produzidas 1.000 cópias de cada peça. Serão entregues 100 CDs à SEDAC e 30 à empresa patrocinadora. Desta forma, sobrarão 870 CDs para venda. A estimativa de arrecadação com a venda de CDs, imaginando que todos sejam vendidos, é de R$ 21.750,00. Em Porto Alegre, onde ocorrerão dois espetáculos, a lotação do Teatro São Pedro é de 637 pessoas. 10% dos ingressos são da SEDAC (127 para as duas noites). Os ingressos serão vendidos a R$ 60,00 e R$ 30,00, inteira e meia. Em Pelotas, no Teatro Guarany, a lotação é de 1200 pessoas. Logo, serão 120 ingressos para a SEDAC. Ingressos a R$ 40,00 e R$ 20,00. Em Novo Hamburgo, no Teatro Feevale, a lotação é de 1200 pessoas. 120 ingressos para a SEDAC, R$ 40,00 e R$ 20,00. O Teatro Municipal de São Leopoldo tem lotação de 315 pagantes. 31 ingressos da SEDAC, ingressos a R$40,00 e R$20,00. A estimativa de arrecadação é de R$89.775,00, considerando uma lotação pouco acima de 70%. O total de ingressos entregues à SEDAC será de 398. Ao patrocinador serão dados 100 ingressos. O projeto foi inscrito sem data fixa e o cronograma prevê seis meses para sua realização.
O valor total do projeto é de R$ 546.270,00 (quinhentos e quarenta e seis mil com duzentos e setenta reais). O proponente aportará R$ 600,00 (seiscentos reais); a receita prevista com a comercialização de bens e serviços é de R$ 108.680,00 (cento e oito mil seiscentos e oitenta reais), e o valor do financiamento solicitado ao Sistema Pró-Cultura/LIC soma RS 436.990,00 (quatrocentos e trinta e seis mil cento e noventa reais).
Assina a assessoria contábil Cristiano Dettman - CRC 54634.
É o relatório.
2 - No intuito de justificar a aprovação do Projeto Letras do Sul, a relatora descreve em breve relato a trajetória das gravadoras nacionais e multinacionais que se instalaram no Brasil na primeira e segunda década do século XX. O Rio Grande do Sul mais uma vez se destaca pioneiro no cenário nacional. Por iniciativa dos irmãos imigrantes italianos Saverio e Emílio Leonetti, em 1913 fundaram em Porto Alegre a Casa Elétrica, fábrica de gramofones, a primeira no Brasil. Dada a distância que nos separava da produção nacional, intuíram aqui um mercado discográfico ímpar face ao manancial de talentos gaúchos e apostaram numa gravadora. Com o Selo Disco Gaúcho, investiram em nossos artistas, atribuindo-lhes visibilidade estadual, nacional e internacional. Gravaram o primeiro samba “Iaia Me Diga” com os Geraldos e, com o advento da segunda guerra mundial, que impediu sobremaneira o trâmite junto às fábricas americanas, firmaram sociedade com um empresário de uma grande gravadora argentina, Alfredo Mendola. Na via desta parceria, no estúdio da Casa Elétrica, foi gravado o Primeiro Tango na América Latina. Em 6 anos foram gravados 326 títulos de gêneros diferentes. Lamentavelmente, o que poderia ser nossa independência do centro do país desvaneceu-se em 1919, com o fechamento da fábrica. Sem produção local, o senso crítico da criança e do adolescente sofreu paulatina influência. No início desse vultoso empreendimento, o volume maior em exploração e visibilidade para domínio do mercado discográfico brasileiro era dedicado aos estrangeiros, entretanto, as multinacionais não contavam com o carisma e a força da música brasileira. Na década de XX detinham o monopólio da indústria nacional e, evidentemente, abafavam os selos ditos insignificantes as gravadoras Brunswick da Alemanha (primeira de Carmen Miranda), a americana Victor, representada pela RCA no Brasil e a inglesa Odeon, representada pela casa Édison. Cada gravadora tinha sua própria loja. Aquele modelo administrativo permanece nos dias atuais a nos atordoar os ouvidos e a confundir os jovens. Por muitas décadas de aculturação, a produção musical brasileira sofreu transformações profundas em conteúdo poético e musical. Kleiton e Kledir, de Porto Alegre, artistas que se pode tranquilamente intitular fenômenos, conquistaram espaço nacional a partir do sucesso em afluência de público e vendagem de disco com o Grupo Almôndegas, e, na gravadora que os contratou, conseguiram a muito custo manter a célula mater do estilo de composição que os consagrou. Ao se desvincularem das multinacionais, perderam o aporte financeiro que lhes conferia visibilidade constante junto à mídia nacional, contudo, com o espaço conquistado graças ao talento, carisma, conteúdo de repertório e qualidade dos espetáculos, continuam vivos na memória dos gaúchos e dos brasileiros. Atualmente sabemos que os artistas que se ajustam às exigências das gravadoras são os que mais têm espaço nos meios de comunicação. Já os que se tornaram independentes, ao se qualificarem na investida comercial de suas próprias carreiras deixaram de se curvar à indústria estrangeira. As Leis de Incentivo Cultural têm tido um papel determinante nesse processo. O projeto Letras do Sul expressa seu mérito cultural no objetivo explícito do congraçamento por meio da música com a literatura e no envolvimento de renomados escritores que certamente fomentarão a aproximação do público com o livro. Neste projeto, a música em sua abrangência universal pode exercer o poder de despertar o interesse e sensibilizar o ouvinte, o leitor. As palestras e debates “A arte de escrever letras de canções”, com foco nos alunos de faculdades de letras, escritores e músicos locais, são relevantes no que dizem da adequação letra e música para a criação estética elencada ao discernimento sobre a força e a influência da palavra. Entre os objetivos, há proposta de fomento na ação entre estudantes, professores, músicos e pessoas da comunidade ao interesse pelo processo criativo de composição; o estímulo à fruição da literatura e da música gaúcha por meio de espetáculos; o incentivo a novos talentos com palestras e debates nas cidades onde o espetáculo for apresentado; a troca de experiências na aproximação dos artistas com o público e a oportunidade de enriquecimento de valor imaterial a ser compilada no encontro entre a dupla com os escritores.
Além de apresentar uma seleção com alguns dos mais prestigiados nomes da nossa literatura gaúcha, o projeto conta com a curadoria de Luis Augusto Fischer, escritor, ensaísta e professor do Instituto de Letras da UFRGS. A palestra A Arte de Escrever Letras de Canções será ministrada por Kleiton & Kledir.
Kleiton Ramil é cantor, compositor e escritor. Cursou Composição e Regência e também Engenharia Eletrônica na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além de suas atividades artísticas, Kleiton foi professor da Escola de Música da UFRJ, tem curso de Maîtrise pela Universidade Paris VIII - França, e Mestrado em Música Eletroacústica pela UFRJ. Foi o criador do Curso de Produção Fonográfica da UCPel, Universidade Católica de Pelotas, onde também exerceu a função de orientador do curso.
Kledir Ramil é cantor, compositor e escritor. Cursou Composição e Regência (UFRGS/UFRJ), e também Engenharia Mecânica na UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além de suas atividades artísticas, com shows e gravações, Kledir tem apresentado palestras em escolas, universidades e feiras de livros por todo Brasil, falando sobre temas como “A palavra escrita e a palavra cantada”. O Conteúdo programático da palestra apresenta uma análise sobre os métodos de composição, com foco principal na parte técnica dessa atividade tão pouco estudada que é escrever LETRA de música. A apresentação faz um estudo detalhado de: PROSÓDIA - a acentuação tônica das palavras coincidindo com a acentuação melódica da frase musical. MÉTRICA – o número de sílabas em um determinado verso. RIMA - repetição de um apoio fonético; apresenta exemplos elencados de clássicos do nosso cancioneiro, revelando segredos e métodos dos grandes mestres da MPB; um depoimento final com relatos sobre a experiência de trabalhar em parceria com os escritores que participaram do projeto e curiosidades do processo de criação e a riqueza da contribuições que esses renomados autores da nossa literatura gaúcha trouxeram para o universo da música popular. A expectativa de público é de 300 pessoas em cada palestra, totalizando 1.200 participantes.
A Instrução Normativa 01/2010 Art.19, em que diz que “projetos que envolvam edição de livros, CDs, DVDs...”, em seu § 1º nos instrui que “os projetos que produzam peças audiovisuais deverão prever, além do depósito de cópia do filme ou vídeo no departamento competente da Secretaria de Estado da Cultura, a permissão de sua exibição gratuita pela TVE...” Em conformidade com as leis que regem o Sistema, solicitamos que esta instrução seja atendida pelo proponente e que seja encaminhada cópia de entrega protocolada ao setor da SEDAC responsável pela prestação de contas.
3. Em conclusão, o projeto “Letras do Sul” é aprovado para receber incentivos do Sistema Pró-Cultura no valor de R$ 436.990,00 (quatrocentos e trinta e seis mil novecentos e noventa reais). No entanto, condicionamos a liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais à comprovação junto ao gestor do Sistema, do rígido cumprimento das normas legais de prevenção a incêndios nos locais dos eventos.
Porto Alegre, 30 de janeiro de 2014.
Loma Berenice Gomes Pereira
Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, optou por: votar ( ), não votar (X) ou desempatar ( ).
Sessão das 10 horas do dia 30 de janeiro de 2014.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Graziela de Castro Saraiva, Maria Eunice Azambuja de Araújo, Adriana Donato dos Reis, Paula Simon Ribeiro, Adriano José Eli, Franklin Cunha, Gilberto Herschdorfer, Hamilton Dias Braga, Leoveral Golzer Soares, Milton Flores da Cunha Mattos, José Mariano Bersch, Nilza Cristina Taborda de Jesus Colombo, Vinicius Vieira de Souza, Susana Fröhlich (14)
Abstenções: Antônio Carlos Côrtes (01)
Impedimentos: Alcy Cheuiche (01)
Neidmar Roger Charão Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS