O projeto “Nuvens” é aprovado.
1 – “NUVENS”, projeto do segmento artes integradas, evento não vinculado à data fixa, propõe vivências musicais (residências) e intercâmbio entre músicos de Porto Alegre e músicos de diferentes cidades do interior do estado do Rio Grande do Sul, independente da forma como o fazer musical é absorvida, entendida e exercida por cada um destes. Sob uma ótica poética, os encontros serão registrados e documentados em vídeo, abordando um processo de criação instantâneo e praticamente de improviso, pois estes músicos não se conhecem e possuem referências musicais diferentes: de um lado, os músicos residentes em Porto Alegre, acostumados com determinados tipos de atividades musicais em linguagens urbanas e contemporâneas. Do outro, moradores de cidades do interior, distante dos grandes centros e que na música talvez tenham apenas uma atividade secundária, de lazer, para as horas de folga e encontros de amigos.
As músicas serão pré-produzidas em Porto Alegre e a estas serão somados os instrumentos dos músicos vivenciados no interior do estado. Estas gravações, assim como as gravações adicionais realizadas por cada um dos músicos, poderão ser reprocessadas em estúdio, em fase de pós-produção.
Serão produzidas dez faixas, todas elas disponíveis apenas em formato virtual, através de streaming e download no website construído especialmente para o projeto. Disponíveis sob licença copyleft e com seus canais em aberto, possibilitarão que outros músicos ou curiosos de qualquer lugar do mundo possam ressignificá-las, propondo novas mixagens, inclusão de novos instrumentos ou sampleá-las, dentre outros processos e técnicas, assim retroalimentando a criação e a obra artística.
Todas as vivências serão registradas em vídeo, sendo posteriormente editadas em formato mini-doc, em um total de 10 vídeos (duração média de 7 a 8 minutos, incluindo 1 música por vídeo). O último dia de vivência, sempre aos domingos, terá parte do encontro (a parte mais significativa, a gravação, a ‘jam session’ entre os artistas) transmitida ao vivo em áudio e vídeo, através de streaming no website do projeto. Estas gravações poderão ser realizadas em praça pública, em um galpão, varanda, quintal, rua, entre outras locais, sempre de forma aberta, gratuita e com classificação livre. Nesta etapa das vivências, também será realizada a pintura de cenário em living paint no local do acontecimento, assim perpetuando de forma visual e na cidade visitada o encontro ocorrido. Obs.: as cidades pré-definidas para realização do projeto foram escolhidas através de pesquisas, nas quais foram localizados 'músicos' com o perfil desejado.
A música, embora com suas teorias, é livre e não exige concessão de ninguém, qualquer um pode fazê-la. Da mesma forma, muitos são os 'músicos não-músicos' que lidam de forma íntima com a música no Rio Grande do Sul. E que não são apenas entusiastas, mas sim grandes talentos silenciosos, desconhecidos do público e do mercado musical. É o pescador que toca contrabaixo e conta suas estórias; o 'maluco da cidade'; a 'figura folclórica' local que assopra a sua gaita de boca; o guitarrista que tem mais de 50 anos de baile, mas não possui nem certidão de nascimento.
Através da tecnologia, seja a que permite criar músicas em softwares em estúdios caseiros, seja a que nos conecta com as mais distantes paisagens do mundo, o projeto “Nuvens” e seus realizadores vão de encontro a estes artistas para que se vivenciem, se experimentem e façam de cada um dos envolvidos neste projeto uma própria residência artística.
Muitos são os projetos musicais que evidenciam as velhas-guardas, os artistas em ostracismo, artistas de rua, músicos ligados a tradições populares, no Brasil e no mundo: Buena Vista Social Club, Playing For Change, Sierra Leones Refugee All Stars, Dj Tudo e Sua Gente de Todo Lugar, Owiny Sigoma Band, Velhas Guarda da Mangueira e da Portela, Siba e a Fuloresta do Samba, dentre tantos outros. Superficialmente, talvez, apenas uma tendência musical de nossa época, incentivada pelo mercado fonográfica. Em uma interpretação mais criteriosa e até mesmo afetiva, importantes (e excelentes) trabalhos de manutenção de nossas músicas e seus artistas.
Este projeto foi originalmente elaborado e submetido para a Seleção Nacional de Projetos Culturais 2013/2014 realizada pela empresa Oi, que atua nos segmentos de telefonia móvel, fixa, televisão e internet. Entretanto, este mesmo edital exige que os projetos enviados, caso sejam aprovados, estejam inscritos (em tramitação ou já aprovado) nas Leis de Incentivo à Cultura estaduais. Por isso, este projeto foi pensado e planejado único e exclusivamente para a seleção da Oi, independente de sua avaliação e posterior aprovação no Sistema Lic.
Através de pesquisas em internet e principalmente em encontros e diálogos com artistas e agentes de cultura do interior do Rio Grande do Sul, foram pré-definidos (para as vivências) os seguintes ‘músicos-não-músicos’: 1. Índios Caingangues e Toinho Paraguai, gaita-de-boca, personagem folclórico em Nonoai; 2. Mestre Julinho, contrabaixista e pescador, Cidreira; 3. Mestre Renato, luthier de rabecas e mestre de Terno de Reis e Maçambique de Osório, em Maquiné; 4. Chiquinho, guitarrista com mais de 50 anos de baile, apenas recentemente conseguiu sua certidão de nascimento, São Gabriel; 5. Nelson Thomas, tocador de serrote, Alto Feliz; 6. Jorge Bujes, tocador de viola, Sertão Santana; 7. Quicumbi e ‘Bandinha Alemã’, Rio Pardo e Santa Cruz; 8. Gaiteiros do Quilombo do Ibicuí, Santana do Livramento; 9. Noé Ferreira, tocador de qualquer tipo de gaita, São Miguel das Missões; 10. Cidade do Chuí, a procura de músicos de origem árabe, presentes no município. Todos estes músicos serão contatados na fase de PRÉ-PRODUÇÃO e, havendo algum motivo que impossibilite ou dificulte a respectiva vivência, será pesquisado músico na mesma cidade ou em cidade próxima, em uma mesma região geográfica do Rio Grande do Sul.
São produtos, objetivos e ações deste projeto:
O projeto Nuvens é uma realização da Dasluzes Produções & Projetos Culturais do produtor LUCAS JASKULSKI LUZ, CEPC 4861, em parceria com os demais colaboradores listados no projeto.
O projeto solicita a LIC/RS o valor total de R$ 295.690,00, valor total do projeto que tem como financiador a empresa OI que promoveu edital para esta seleção.
É o relatório.
2 – O projeto Nuvens traz diversos elementos que o tornam de grande valor estético, cultural e social. Primeiro, por promover a ideia do encontro através da estratégia da residência artística. Tal estratégia já é uma reconhecida ferramenta de integração e criação coletiva de arte no mundo. No Brasil, uma das experiências mais bem sucedidas são as interações estéticas – residências artísticas promovidas pelo Minc/Funarte em Pontos de Cultura entre as 05 regiões do país. Tal como no projeto Nuvens, esta experiência é capaz de promover trocas intensas entre artistas e comunidades, desencadear potenciais criativos latentes e processos socioculturais muitas vezes para além do que é originalmente proposto nos projetos de residência.
Por adotar esta estratégia de ação, o Projeto Nuvens se qualifica como um espaço sinergético, agregador da criatividade e de valorização e visibilização da cultura musical gaúcha. Outro elemento que é importante destacar é a produção coletiva e alternativa de música. Fazendo uso de tecnologia de informação libertária e licenças abertas para distribuição de seus produtos culturais, o projeto promove acesso amplo e irrestrito aos seus resultados, abrindo também espaço para a atualíssima discussão acerca da gestão livre e coletiva de direitos autorais e da produção artística colaborativa. Quantos bons artistas não são valorizados pela grande mídia, gerida hoje por corporações que fizeram da criação artística mero capital e fonte de exploração e enriquecimento? O “Nuvens” alia-se a um movimento contestador e contrário, que busca na união de forças criativas, nos suportes tecnológicos livres e na produção colaborativa o caminho para gerar arte e cultura para todos e todas. Tal movimento ainda permite que, a este fazer criativo, possam ser agregados novas ideias, novas contribuições, novas camadas de criação estética, permitindo misturas e resultados inusitados e elevadas ao infinito – hoje conhecida como “cultura remix” e amplamente difundida através de sites e plataformas de internet.
Por fim, cumpre ressaltar mais uma vez o potencial do projeto para divulgar e visibilizar o trabalho de músicos do Rio Grande do Sul, trabalhadores da cultura, reconhecidos e legitimados pelas suas respectivas comunidades como porta vozes de sua cultura local. O projeto permite assim a integração destes artistas, bem como um registro do trabalho deles com amplo alcance de distribuição e acesso, tornando-os melhor conhecidos e valorizados.
3. Em conclusão, o projeto “Nuvens” é aprovado, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos no valor de até R$ 295.690,00 (duzentos e noventa e cinco mil seiscentos e noventa reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró Cultura – RS.
Porto Alegre, 14 de Julho de 2014.
Leandro Artur Anton
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Em razão do Of. N° 06/14 da SEDAC, os projetos aprovados por este Conselho são considerados prioritários, sendo, portanto, dispensados da Avaliação Coletiva.
Sessão das 14 horas do dia 14 de julho de 2014.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Maria Eunice Azambuja de Araújo, Aldo Gonçalves Cardoso Júnior, Adriana Donato dos Reis, Demétrio de Freitas Xavier, Élvio Pereira Vargas, Franklin Cunha, Fabrício de Albuquerque Sortica, Hamilton Dias Braga, Leoveral Golzer Soares, Daniela Carvalhal Israel, Milton Flores da Cunha Mattos, Lisete Bertotto Corrêa, Loma Berenice Gomes Pereira, Luis Carlos Sadowiski da Silva, Jacqueline Custódio, Vinicius Vieira, Susana Fröhlich, Walter Galvani da Silveira.
Neidmar Roger Charao Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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