O projeto “PARADOR DA POESIA CRIOULA E DA MÚSICA INSTRUMENTAL PAMPEANA - 2014” é aprovado.
1 - O projeto é apresentado por JBA PRODUÇÕES CULTURAIS LTDA. Foi submetido à análise técnica por parte do Sistema Pró-Cultura e habilitado pela Secretaria, tendo sido encaminhado a este Conselho, para parecer, nos termos da legislação em vigor.
A responsável legal é Irma Aiala Rodrigues, e a produtora se responsabiliza pela captação de recursos. Constam igualmente relacionados os responsáveis pela contadoria, coordenação e administração.
Trata-se de projeto sem data fixa, constituído por festival de poesia e música instrumental, “(...) abordando vários tipos poéticos e musicais que caracterizam a produção literária e musical do Estado do Rio Grande do Sul, com ênfase total nos temas gauchescos e regionalistas”.
De caráter competitivo, o evento se desenvolveria em um único dia, no Centro Nativista Gaspar Silveira Martins, no Município de Bagé.
Está previsto, ainda, um espetáculo de música regionalista.
Serão apresentados sete poemas e sete temas instrumentais inéditos, previamente triados por uma comissão julgadora.
Haverá premiação em dinheiro até a terceira colocação em ambas as categorias, assim como aos três melhores acompanhantes das declamações (chamados “amadrinhadores”, em alusão ao trabalho de acompanhar a cavalo o ginete que doma ou gineteia), aos três melhores declamadores, ao melhor instrumentista e ao melhor arranjo.
O processo está devidamente instruído, e os objetivos apresentados giram em torno da promoção da cultura regional e de sua melhor difusão.
Para sua completa realização, os custos do projeto alcançam o valor de R$ 169.640,00 (cento e sessenta e nove mil, seiscentos e quarenta reais), sendo R$ 2.000,00 (dois mil reais) objeto de doação e R$ 167.640,00 (cento e sessenta e sete mil, seiscentos e quarenta reais) solicitados ao Sistema Pró-Cultura.
É o relatório.
2 - É original e grata a proposta de reunir poesia e música instrumental em um mesmo festival. Proliferam os festivais de canções, no âmbito regionalista, sobretudo – raras, ao contrário, as iniciativas que contemplam aquelas duas expressões. Mais destacável, ainda, vale repetir, que elas se apresentem juntas num evento, o que constitui um interessante conceito.
Valoriza-se texto e composição musical, da mesma forma que no formato de canção – talvez até mais intensamente, pelo destaque que proporciona a apreciação isolada de uma e outra.
De passagem, recorde-se um belo programa da rádio FM Cultura, Tons e Letras, em que o escritor Luís Dill faz exatamente essa mescla, com êxito e reconhecimento.
No que diz respeito ao âmbito regionalista, há uma forte tradição poética, aparentada à gauchesca platina e partícipe também do universo da payada – e que foi apresentada ao jovem contemporâneo, nas últimas décadas, sobretudo a partir da militância de palco e microfone de Jayme Caetano Braun. O poeta da Timbaúva não apenas sobressaiu por seus improvisos e escritos, mas apresentou ao novo e imenso público regionalista que se formou a partir do boom dos festivais dos anos 80 nomes como Juca Ruivo, Balbino Marques da Rocha ou Aureliano de Figueiredo Pinto (este também resgatado por um belo trabalho de Noel Guarany). Importante mencionar a intimidade de Jayme com o espanhol e a poesia platina, inclusive apontando com frequência a influência que sofreu do mestre Sandalio Santos. Os mais inquietos, a partir desses incentivos, buscaram os Vargas Netto, Amaro Juvenal, entre tantos outros – como também souberam valorizar seus contemporâneos, como Apparicio Silva Rillo. Do conhecimento de tais fontes ao despertar do interesse pela declamação, tão caracteristicamente associado ao estilo, bem como pela própria criação poética, foi um passo natural. Recentemente, houve o importante resgate do alegretense João da Cunha Vargas para a contemporaneidade, por Vitor Ramil.
Esse informe incompleto e simples serve para apontar o lugar que a poesia crioula passou a ocupar, com justiça, no cenário da cultura mais difundida, a partir daqueles pioneirismos. É necessário fomentá-la, já que, de uma maneira geral, não tem a mesma facilidade de assimilação e difusão das canções. Não é diferente quanto à musica instrumental.
Importante recordar o incremento de qualidade e sofisticação no trabalho de instrumentistas e arranjadores, nos últimos dez ou quinze anos, com o número crescente de jovens artistas com formação e a franca influência argentina e uruguaia. Nada mais justo do que valorizá-los com um certame específico.
Ressalte-se que essas observações – quanto à oportunidade de valorização da poesia e da música instrumenta -, evidentemente, valem para outros estilos, para todos os estilos. Aqui nos atemos ao regionalismo porque o projeto claramente o privilegia.
A esse respeito, a propósito, uma ressalva secundária: um projeto aberto a todo o estado – e mais ainda se pretende acolher “vários tipos poéticos e musicais que caracterizam a produção literária e musical do Estado do Rio Grande do Sul” – não é, certamente, um parador restrito ao universo pampiano.
Bagé é referência histórica e simbólica obrigatória nessa região e não haveria reparos se o nome do projeto fosse Parador Pampiano da Poesia Crioula e da Música Instrumental. Nobre e legítimo parador da Santa Tecla e de Dom Diogo.
Essa observação não aponta a algo isolado; há uma difusão recente do conceito “pampa” e daqueles que dele derivam que não respeita com rigor critérios linguísticos, geográficos, simbólicos. Disseminou-se, por exemplo, a afirmação de que Rio Grande do Sul e Prata constituem o “Grande Pampa” (ou, mais modístico ainda, “a” Grande Pampa...). Isso vem na esteira do reconhecimento recente e fundamental do bioma, mas apenas em parte: a poesia crioula e o universo gauchesco já forçavam essa licença com a eloquente palavra quíchua há bastante tempo.
Os custos do projeto estão bem discriminados, e seus valores são compatíveis com o proposto. Louvável a gratuidade, ao público previsto de 2000 pessoas, bem como a contrapartida prevista em doação de 250 CDs e 100 DVDs à rede pública de ensino.
3. Conclui-se, diante do exposto, pela aprovação do projeto “Parador da Poesia Crioula e da Música Instrumental Pampeana - 2014”, por seu mérito cultural, relevância e oportunidade, que pode vir a receber incentivos até o valor de R$ 167.640,00 (cento e sessenta e sete mil, seiscentos e quarenta reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura – RS.
Porto Alegre, 25 de agosto de 2014.
Demétrio de Freitas Xavier
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Em razão do Of. N° 06/14 da SEDAC, os projetos aprovados por este Conselho são considerados prioritários, sendo, portanto, dispensados da Avaliação Coletiva.
Sessão das 14 horas do dia 25 de agosto de 2014.
Presentes: 19 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: André Kryszczun, Maria Eunice Azambuja de Araújo, Adriana Donato dos Reis, Élvio Pereira Vargas, Franklin Cunha, Fabrício de Albuquerque Sortica, Hamilton Dias Braga, Leoveral Golzer Soares, Daniela Carvalhal Israel, Lisete Bertotto Corrêa, Loma Berenice Gomes Pereira, Rafael Pavan dos Passos, Luis Carlos Sadowiski da Silva, Jacqueline Custódio, Susana Fröhlich (15)
Abstenções: Vinicius Vieira (01)
Ausentes no momento da votação: Walter Galvani da Silveira (01)
Neidmar Roger Charao Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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