O projeto “Andejos Culturais” é aprovado.
1 – O projeto é apresentado por M. HORN e CIA LTDA., do município de Encantado.
Foi submetido à análise técnica por parte do sistema Pró-Cultura e habilitado pela Secretaria, tendo sido encaminhado a este Conselho para parecer nos termos da legislação em vigor.
O projeto apresenta como responsável legal e coordenador Maurício Fabiano Horn. Constam igualmente relacionados os responsáveis pela contadoria, captação de recursos e assessoria administrativo-financeira.
A previsão de realização é de 22/11/2014 à 03/01/2015.
O projeto “Andejos Culturais” consiste na realização de uma série de eventos culturais em três bairros da cidade de Encantado.
Estão previstos quatro espetáculos musicais, três de teatro e dois de dança, nos bairros Centro, Jacarezinho e Planalto. Os eventos contarão com boa estrutura de produção e divulgação, bem discriminada na planilha de custos.
Em seu objetivo geral, o projeto se propõe a oferecer “...uma programação diversificada, com apresentações culturais de diversos segmentos, integrando a comunidade e promovendo o trabalho de artistas locais e regionais e buscando ampliar o acesso da população da Região dos Vales a produtos culturais de qualidade.”
Entre os objetivos específicos, figuram:
Democratizar as apresentações levando aos bairros da cidade de encantado os eventos que geralmente são apresentados no centro.
Promover a maior inserção de pessoas que não tem a possibilidade de se deslocar.
Para sua completa realização, os custos do projeto alcançam o valor de R$ 228.590,00 (duzentos e vinte e oito mil, quinhentos e noventa reais), solicitados integralmente ao sistema LIC.
É o relatório.
2 – A palavra “andejo” é eloquente na formação histórica do nosso estado e na construção simbólica de nossa identidade.
A primeira lembrança é, talvez, o tipo humano que resultou, simultaneamente, do desprezo da organização colonial por estas latitudes e da explosão populacional de gado sem dono nos melhores campos do mundo: o gaúcho.
A própria palavra gaúcho em alguma medida – e, plenamente, aquela que era vigente antes dela, gaudério – remetem ao ato de andejar, assim como as expressões “vagabundos do campo”, “cruzadores”, “teatinos”... Por essa, entre outras razões, concebe Manoelito de Ornellas uma obra como “gaúchos e beduínos”: o personagem que viria a protagonizar a autoimagem simbólica do nosso sul era homem sem paradeiro, nômade. Foi um predador em campos indivisos, primeiro; depois, alguém cada vez mais sem lugar no mundo dos imensos latifúndios distribuídos em gabinete ou circunscritos pela força. Não era agricultor, não foi proprietário. Vagava.
“Cuando necesito una camisa, me conchabo; cuando la tengo, me paseo”. “Viviam dentro de suas camisas, debaixo de seu chapéu”. “Blau Nunes só tinha de seu um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais.”
Libertários, corajosos, sim, como insiste a literatura mais ufanista e o Tradicionalismo; mas, fundamentalmente, andejos porque lhes era vedada a propriedade.
Quanto se assemelha esse andejar gaúcho – por definição, mestiço –, com outros andejares: o dos negros libertos ou fugidos, o dos índios expulsos ou deslocados, o das vivandeiras das campanhas guerreiras.
Tampouco é outra a situação dos imigrantes que não se assentaram na terra ou que a perderam. Aqueles que dominavam ofícios, os que mascateavam, os que se tornaram tropeiros.
O que dizer, então, dos artistas, sempre saltimbancos em alguma medida, sempre mambembes, sempre “ciganos”?
Talvez isso equivalha a dizer que onde a melhor posição social era a de proprietário de terras e onde eles sempre foram tão poucos, andejos somos todos nós.
Grato e justo nome, o deste projeto.
Feito esse recorte – talvez importante, ainda que quase digressão –, importante ressaltar que há um efetivo alcance popular e descentralizador na proposta. São espetáculos variados, com atrações – tomando como exemplo os shows musicais -, que passam pela música popular contemporânea, da mesma forma que por um importante resgate de um Terno de Reis tradicional. Estão presentes a dança, o teatro e a temática natalina, e há critério e cuidado na produção.
Chama a atenção a não participação da Prefeitura de Encantado, eis que se trata de projeto que contempla fundamentalmente o universo municipal, utilizando três bairros como cenário e tendo como público-alvo principal sua população.
3. Conclui-se, diante do exposto, pela aprovação do projeto “Andejos Culturais”, por seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos no valor de até R$ 228.590,00 (duzentos e vinte e oito mil, quinhentos e noventa reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura/RS.
Porto Alegre, 13 de agosto de 2014.
Demétrio de Freitas Xavier
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Em razão do Of. N° 06/14 da SEDAC, os projetos aprovados por este Conselho são considerados prioritários, sendo, portanto, dispensados da Avaliação Coletiva.
Sessão das 10 horas do dia 13 de agosto de 2014.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: André Kryszczun, Leandro Artur Anton, Adriana Donato dos Reis, Élvio Pereira Vargas, Franklin Cunha, Fabrício de Albuquerque Sortica, Hamilton Dias Braga, Leoveral Golzer Soares, Daniela Carvalhal Israel, Milton Flores da Cunha Mattos, Rafael Pavan dos Passos, Luis Carlos Sadowiski da Silva, Jacqueline Custódio, Vinicius Vieira, Susana Fröhlich, Walter Galvani da Silveira (16)
Neidmar Roger Charao Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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