O projeto “THIAGO RAMIL: LANÇAMENTO DE DISCO – VOLTA E MEIA-” é aprovado.
1 – O projeto é apresentado por SOFIA RODRIGUES FERREIRA, também responsável legal. Foi submetido à análise técnica por parte do Sistema Pró-Cultura e habilitado pela Secretaria, tendo sido encaminhado a este Conselho, para parecer, nos termos da legislação em vigor. Trata-se de evento não vinculado a data fixa.
O projeto consiste na “gravação do primeiro disco do jovem músico e compositor Thiago Ramil e a realização de 3 shows de lançamento, em capitais do sul do país: Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. O projeto se destina a produzir e difundir uma musicalidade original e própria, em que o compositor, dialogando com referências musicais brasileiras, incorpora elementos do acalanto. Propomos a prensagem de 2000 CDs, a serem produzidos no Rio Grande do Sul, além da realização de registro de vídeo de making of das gravações, atividades formativas e realização de shows; produção de 3 tiesers de divulgação e programação de 1 site, onde o disco será disponibilizado para download gratuito. Como atividades formativas públicas, propomos a realização de 5 edições de oficina musical, a serem realizadas em diferentes sedes de acolhimento institucional (abrigos infantis) da cidade de Porto Alegre e região metropolitana, com ênfase na tradição musical e oral do acalanto. Também propomos um seminário teórico sobre ‘A Prática do Acalanto e suas Contribuições na Constituição Psíquica do Sujeito’, a ser realizado em local de fácil acesso, em Porto Alegre. As oficinas de musicalidade serão desenvolvidas a partir da pesquisa já realizada pelo músico no Projeto de Extensão/Pesquisa Acadêmica, no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.”
O processo está devidamente instruído. Para sua completa realização, os custos do projeto alcançam o valor de R$ 117.361,00, integralmente solicitados ao Sistema Pró-Cultura.
É o relatório.
2 – Eis um projeto que contempla uma multiplicidade de possibilidades da música, particularmente a música popular autoral.
Thiago Ramil tem vinte e quatro anos e, recentemente, uma atuação constante na música popular urbana do estado, para muito além da circunstância de seu círculo familiar, muitas vezes ao lado de nomes inquietos e propositivos como o do instrumentista Ângelo Primon.
Ainda que o objetivo principal deste projeto seja o lançamento de um primeiro registro solo, não se trata, é o que se quer demonstrar, de um músico sem trajetória, sendo de apontar o fato de que já traz em seu portfólio um período de atuação com a banda Cadiombleros, de intenção igualmente autoral e presença nos circuitos noturnos, sobretudo da capital.
Aqui se trata de situar da melhor maneira a adequação da pretensão do proponente e não de amparar o julgamento do projeto no gosto pessoal do parecerista, de resto, pouco importante – às vezes, para prejuízo, outras para o proveito daquele.
O que confere, talvez, mais interesse ao projeto, é o fato de o músico vir associando seu trabalho artístico a uma militância acadêmica na área da psicologia, cujo campo se dá com crianças albergadas em instituições públicas.
Em seu trabalho de conclusão de curso, disponível na internet (Lume), com o título “A Hora de Dormir: o acalanto com crianças em acolhimento institucional”, encontra-se a delineação teórica e científica do que, no projeto que se examina, constitui seu diferencial ousado e belo.
São presentes para todos nós os elementos desse gênero de canto folclórico na constituição de um patrimônio musical compartilhado.
A exemplo, talvez, das músicas de trabalho ou de cantos religiosos como os das tradições de sincretismo afro-americano, essas melodias e palavras se trançam à música popular de forma que confirma seu sentido social e histórico.
Chico Buarque ou o gauchesco uruguaio Osíris Castillos, com seus Acalanto para Helena e Canción sin cuna, são exemplos imediatos e certamente não isolados do retorno de grandes autores populares a esse fundamento tão carregado de afeto, essência e simbolismo, da música popular de nossa região.
Justo e oportuno que Thiago Ramil faça o registro de seu trabalho quanto antes, com o apoio público justificado pela transversalidade de sua condição de militante da arte e da saúde mental; pela necessidade de que tal abordagem seja dada a conhecer, inclusive fora do estado, pelos espetáculos e website propostos; pela disponibilização e compartilhamento de conhecimento e experiência em um seminário teórico e, talvez de forma preponderante, pela realização das oficinas junto à infância em acolhimento institucional.
Quanto a esta última ação, como não lembrar aquele mesmo Osíris Castillos. Em espanhol, chama-se à canção de ninar “arrorró” ou “canción de cuna” – canção de berço.
Sintético e inteligente, o poeta denomina o arrorró que compõe para a criança popular, mestiça, nascida neste sul da Terra sem estrutura de segurança familiar, uma “Canción sin cuna”.
Se o Estado considera que deve constituir, associado à sociedade civil, berço – primeiro provisório, depois pelo encaminhamento ao melhor âmbito familiar – à infância à qual o processo histórico nega esse berço; se, mais do que isso, é de sua obrigação considerá-lo assim, bem: é justo e natural que esse mesmo Estado facilite a inclusão, no tecido da rede desse berço, do conforto e do afeto do acalanto.
3. Em conclusão, o projeto “THIAGO RAMIL: LANÇAMENTO DE DISCO – VOLTA E MEIA” é aprovado em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 117.361,00 (cento e dezessete mil, trezentos e sessenta e um reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 30 de outubro de 2014.
Demétrio de Freitas Xavier
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Em razão do Of. Nº 06/2014 da SEDAC, os projetos aprovados por este Conselho são considerados prioritários, sendo, portanto, dispensados da Avaliação Coletiva.
Sessão das 10 horas do dia 30 de outubro de 2014.
Presentes: 17 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: André Kryszczun, Maria Eunice Azambuja de Araújo, Leandro Artur Anton, Adriana Donato dos Reis, Élvio Pereira Vargas, Fabrício de Albuquerque Sortica, Hamilton Dias Braga, Leoveral Golzer Soares, Milton Flores da Cunha Mattos, Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Jacqueline Custódio, Vinicius Vieira, Walter Galvani da Silveira (13)
Ausentes no momento da votação: Susana Fröhlich, Franklin Cunha (02)
Neidmar Roger Charao Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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