O projeto “UM OLHAR ATRAVÉS DE” é recomendado para avaliação coletiva.
1. O projeto em tela tem como objetivo a circulação do espetáculo de dança UM OLHAR ATRAVÉS DE nas cidades de Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre. Além das apresentações, o projeto propõe 4 oficinas de dança – uma em cada cidade onde o espetáculo se realizará – acompanhadas de 4 sessões de bate-papo com o público a fim de discutir a concepção e encenação do espetáculo. A produção cultural está a cargo do grupo Transforma, cuja responsável legal é Suzana d´Ávila, também diretora do espetáculo. Na equipe principal ainda se destacam: Karina d’Ávila, como assistente de direção, Cristiane Marçal, como produtora, Cintia Bracht, Dante Saldanha, Fernando Muniz, Juliana Preussler, Luíse Robaski, Maurício Miranda, Gabriel Fragoso, Denise Almeida, Vinicius Mello e Paulo Renato Pinto da Costa, compondo o elenco de bailarinos do espetáculo, e Fabio Biehl, como contador. O valor solicitado à LIC/RS, totalmente habilitado pelo SAT, é de R$ 230.000,90, sendo este a única fonte financiadora informada. Todas as atividades serão gratuitas, não havendo qualquer cobrança de ingressos.
O espetáculo UM OLHAR ATRAVÉS DE foi concebido a partir do conceito de Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, reconhecidamente um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade, sendo utilizado como fonte de reflexão para as ciências sociais, ciências humanas, artes e comunicação. Segundo o proponente, a montagem leva ao palco uma reflexão sobre as novas configurações da sociedade contemporânea no espaço urbano, encenando o ir e vir das multidões, as efêmeras relações sociais e a inserção das inovações que facilitam a comunicação ao mesmo tempo que a superficializam. A proposta enfoca um dia-a-dia cada vez mais atarefado, onde as pessoas acabam vivendo em um limbo entre o virtual e o real, onde “tudo virou olhares que só veem e não enxergam. A sonoplastia do espetáculo intercala os sons e ruídos do cotidiano urbano a uma trilha inspirada em composições de artistas contemporâneos.” UM OLHAR ATRAVÉS DE foi indicado ao Prêmio Açorianos de Dança de 2015 em 5 categorias, tendo vencido na categoria Melhor Bailarino. A principal linguagem de dança utilizada é a do jazz dance.
As apresentações acontecerão em universidades ou em espaços próximos a estas, já que um dos públicos-alvo são os universitários, em função do conceito utilizado na concepção do espetáculo, o qual pretende ser foco nas sessões de bate-papo. Também nesses espaços acontecerão as oficinas. O outro público-alvo para as apresentações, segundo o projeto, é a Classe C. Ao citar uma pesquisa conduzida pelo Ministério da Cultura e publicada em 2015, o projeto informa que somente 25% das pessoas oriundas da Classe C haviam frequentado espetáculos de dança no ano anterior à pesquisa. A fim de proporcionar a inserção deste segmento nas apresentações em cada uma das cidades, a metodologia do projeto prevê a contratação de assessoria de imprensa e divulgação específica em cada uma das localidades onde o espetáculo deseja se apresentar. Segundo o proponente, os objetivos do projeto no que diz respeito a atingir a Classe C serão melhor atingidos em função da presença e envolvimento de agentes culturais locais, buscando parcerias com instituições que trabalhem diretamente com este público-alvo e já tenham uma rede de contatos estabelecida. O proponente cita diversas entidades com as quais pretende estabelecer parceria, tais como: Federação das Entidades Comunitárias e Associações de Moradores de Curitiba e Região Metropolitana, Associação de Moradores da Vila Residencial da UFRJ, Rotary Clube, Lions Clube, Associação Comunitária do Centro Histórico de Porto Alegre, Associação dos Amigos da Vinte e Quatro de Maio e Adjacências, entre outras. A divulgação também explicita exemplos de onde o material gráfico será colocado a fim de atingir o público-alvo desejado.
É o relatório.
2. Quanto à formatação do projeto, a maneira como este é descrito em cada etapa permite visualizar planejamento detalhado, especialmente no que diz respeito à preocupação com a produção e uma divulgação atenta a fim de alcançar os objetivos no que diz respeito a atingir o público-alvo desejado. Em seus anexos, o projeto apresenta descrição do espetáculo (acompanhada de link para visualização do mesmo) fotos, clipagem, currículos e anuência de todo o elenco e dos demais envolvidos na equipe principal, além da proposta da oficina.
Quanto ao mérito de sua relevância, cabe salientar a importância do grupo Transforma, que completa, em 2017, 30 anos de existência, sendo hoje uma referência para a evolução da linguagem do jazz dance tanto em Porto Alegre, quanto no estado e, até mesmo, em cidades fora do Rio Grande do Sul. Ao longo dessas quase 3 décadas, o trabalho liderado por Suzana D’Ávila vem demonstrando um crescimento para além da preocupação com a excelência técnica de seus bailarinos, sendo que, especialmente nos últimos anos, percebe-se um salto de qualidade no que diz respeito à execução cênica dos conceitos pretendidos na concepção dos seus espetáculos. UM OLHAR ATRAVÉS DE é talvez um dos melhores resultados dessa incessante dedicação. Lançando mão de uma temática atual e relevante, o espetáculo consegue traduzir em uma linguagem acessível e não hermética o conceito de modernidade líquida de Z. Bauman. Nesse sentido, a ideia de juntar ao projeto a proposta de sessões de bate-papo e oficinas dentro de ambientes universitários parece não só apropriada como necessária, especialmente porque a elaboração conceitual de espetáculos de dança está, tradicionalmente, mais associada à dança contemporânea, sendo que o jazz dance na maioria das vezes se limita a uma preocupação técnica e estética. Finalizando este ponto, parece que o grupo Transforma não só é merecedor como está preparado para uma circulação em nível nacional.
Além disso, percebe-se também como relevante e meritosa a proposta de viabilizar a participação efetiva da Classe C nos espaços universitários onde os espetáculos acontecerão. Salienta-se aqui que a simples gratuidade de ingressos em um evento de natureza cultural não o torna automaticamente democrático e acessível. A meu ver, o verdadeiro acesso só é proporcionado quando há um conjunto de ações efetivas por parte da divulgação para que o público-alvo realmente se faça presente. Neste sentido, o projeto detalha, através de sua metodologia e das respostas às diligências, um caminho concreto para, de fato, propiciar este acesso. Ao contratar divulgação específica em cada cidade, citando entidades com as quais pretende estabelecer parceria e exemplificando locais onde o material de divulgação se fará presente, a proposta demonstra de forma concreta como pretende inserir a Classe C como um dos públicos-alvo do projeto. A título de sugestão, esta Conselheira gostaria de acrescentar à lista das ações de divulgação o contato com as Secretarias Municipais de Cultura locais, especialmente com os Centros de Dança e os setores ou departamentos de Descentralização da Cultura. Na cidade de Porto Alegre, por exemplo, uma ação conjunta poderá, por exemplo, propiciar a participação das centenas de alunos dos projetos vinculados à Cia Jovem de Dança de Porto Alegre e à Cia Municipal de Dança.
Quanto à diligência solicitada sobre o detalhamento acerca da diferenciação entre as rubricas de assessorias de imprensa locais e da assessoria de imprensa da turnê, esta Conselheira dá-se por satisfeita. No entanto, a rubrica Assessoria de Imprensa da Turnê deverá contemplar as ações de divulgação e inclusão a serem efetuadas na cidade de Porto Alegre, as quais não foram inicialmente incluídas na proposta, sendo a recomendação deste projeto condicionada ao comprometimento com as ações elencadas na resposta à diligência, de forma que o relatório de prestação de contas deverá comprovar o efetivo cumprimento das ações de divulgação junto à Classe C também nesta praça. Além disso, uma vez que o processo de divulgação nesta capital será mais fácil do que nas demais capitais, em função do grupo ser originalmente desta cidade, glosa-se parcialmente a rubrica 2.8 - Assessoria de Imprensa da Turnê – para o valor máximo de R$ 2.500,00. Acredita-se que este valor é suficiente tanto para a divulgação na cidade de Porto Alegre, quanto para a coordenação das ações nas demais cidades, juntamente com as assessorias de imprensa a serem contratadas nas demais localidades.
Quanto às rubricas referentes aos gastos com passagens aéreas, percebem-se os valores como excessivos. Naturalmente, entende-se que, quando do envio do projeto, o proponente não poderia trabalhar com o valor mínimo ou promocional por passagem, dada a volatilidade dos valores das passagens aéreas. Ainda assim, para dar um exemplo, no dia da finalização deste parecer, uma passagem de ida e volta a Curitiba nas datas pretendidas pelo proponente poderia ser comprada por menos de R$ 500,00, incluindo as taxas de embarque — menos de um terço do valor solicitado na planilha orçamentária. Dessa forma, glosam-se, parcialmente, todos os valores referentes às passagens aéreas, como segue: ida e volta a Curitiba – valor solicitado e habilitado: R$ 19.500,00; valor máximo após a glosa: R$ 7.500,00 (glosa de R$ 12.000,00); ida e volta ao Rio de Janeiro – valor solicitado e habilitado: R$ 26.000,00; valor máximo após a glosa: R$ 15.000,00 (glosa de 11.000,00); ida e volta a Salvador – valor solicitado e habilitado: R$ 32.500,00; valor máximo após a glosa: R$ 22.500,00 (glosa de 10.000,00). O proponente fica, logicamente, desobrigado de utilizar a empresa aérea especificada na planilha orçamentária. Por razões de oportunidade do projeto, fica também glosado o item 3.5 – Coordenação Administrativa – de R$ 4.000,00 para R$ 3.000, assim como o item 3.1 – Contador – de R$ 3.000,00 para R$ 2.400,00.
3. Em conclusão, o projeto "UM OLHAR ATRAVÉS DE” é recomendado à Avaliação Coletiva, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 195.780,90 (cento e noventa e cinco mil, setecentos e oitenta reais e noventa centavos) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 30 de outubro de 2016.
Marlise Nedel Machado
Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 07 de novembro de 2016.
Presentes: 22 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Luiz Armando Capra Filho, Élvio Pereira Vargas, Alessandra Carvalho da Motta, Marco Aurélio Alves, Gilberto Herschdorfer, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luciano Fernandes, Vinicius Vieira, Lucas Frota Strey e Walter Galvani.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Rafael Pavan dos Passos.
Abstenções: Bibiana Mandagará Ribeiro, Dael Luis Prestes Rodrigues e Maria Silveira Marques.
Ausentes no Momento da Votação: André Venzon.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 17/11/2016 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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