O projeto "UMA SÓ PORTO ALEGRE?" é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto cultural UMA SÓ PORTO ALEGRE? é de natureza audiovisual e pretende resultar em um média-metragem de 26 minutos para TV e em 6 vídeos de 3 minutos cada para internet. Trata-se de um documentário que se organiza como um filme-denúncia, de teor informativo, retratando parte da realidade urbana de Porto Alegre através de dados contemporâneos, mostrando a estrutura e planejamento implementados na cidade no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente e traçando um paralelo com as ações da população em busca de alternativas que primem pela sustentabilidade. O média-metragem terá sua estrutura narrativa dividida em 4 blocos temáticos abrangendo a mobilidade urbana, a educação ambiental, a permacultura e a questão da água. Estas unidades temáticas serão a base dos vídeos de 3 minutos. A execução acontece no período de 11 meses, dividido em 4 etapas, sendo: 5 meses de pré-produção, 5 dias de produção, 3 meses de pós-produção e mais 3 meses para a difusão das obras prontas. O filme, cujo roteiro e direção estão a cargo do jovem cineasta Lino Negri, traz como personagem principal a cidade de Porto Alegre abordada a partir da temática do meio ambiente e de como os governantes e a população se relacionam para fazer deste um bom lugar para se viver. Com interesse em instigar e provocar o espectador, o documentário apresenta informações alarmantes da realidade urbana de Porto Alegre, ao lado de alternativas empíricas que prezam pelo desenvolvimento sustentável. A apresentação dos dados se dá de forma lúdica e palpável a fim de estimular soluções viáveis que contornem, de forma criativa e rentável, o status quo contemporâneo. Em paralelo, é difundida uma maior compreensão do conceito de sustentabilidade e de suas possíveis aplicações, buscando atingir, assim, um maior número de pessoas. O formato se baseia no estilo dos filmes Uma verdade inconveniente (2006), Food, Inc. (2008) e Cowspiracy: the sustainability secret (2014), e se utiliza de uma narrativa em primeira pessoa – com uma personagem que apresenta dados e introduz alternativas sustentáveis – e em terceira pessoa, através de entrevistas e voice overs que constroem uma linha argumentativa. O conteúdo é compartimentalizado em seis blocos temáticos curtos, cada qual contendo casos específicos de acordo com o tema a ser explorado. Através de uma organização narrativa que permite tanto a segmentação dos trechos quanto a junção dos mesmos em um único filme é estimulada a propagação online do material através de mídias sociais, atingindo, assim, um público mais abrangente e diversificado. Trata-se de um tema de grande relevância local e mundial, em face de um alerta global para com nosso ecossistema.
O projeto faz menção aos episódios referentes às tragédias naturais ocorridas em Porto Alegre, relacionando a mudança climática à ação do homem na natureza. O pré-roteiro do filme, que descreve a estrutura do documentário, indica que este iniciará com cenas captadas logo após as fortes tempestades ocorridas no início do ano na cidade, acompanhadas por áudio de coberturas jornalísticas feitas na época, seguidas de entrevistas com autoridades falando sobre o ocorrido e outras manchetes a fim de estabelecer um contraponto entre o que está sendo priorizado em termos de investimento público. Após a introdução, o filme será dividido em quatro capítulos intitulados Terra/Mobilidade, Ar/Educação, Fogo/Eco-nomia e Água/Cidade. Segundo o projeto, espera-se despertar um sentimento de pertencimento em relação à cidade, não apenas pela identificação de se ver na tela a cidade em que vivemos ou com um tema que está no dia-a-dia, mas por todos serem parte desta realidade e sofrerem coletivamente as consequências de cada atitude individual. Dessa forma, espera o proponente mostrar um pouco da identidade da cidade e de seus habitantes, retratando a situação atual da questão do meio ambiente na esfera pública, carente de uma lógica sustentável, e a implementação de novas formas de se praticar a sustentabilidade.
Nos objetivos elencados no projeto, destacam-se:
- desenvolver um projeto audiovisual capaz de ser difundido em emissoras de TV e pela internet;
- facilitar o amplo acesso à produção audiovisual brasileira para plateias de todas as classes sociais através da difusão em emissora de TV;
contribuir para a produção audiovisual brasileira e gaúcha, especialmente no que diz respeito à concepção de um produto com potencial para atingir público abrangente e realizado com apuro artístico e técnico,
- fazer um alerta sobre um tema urgente à sociedade brasileira: a preservação do meio ambiente;
- incentivar atitudes e modos de vida sustentáveis que beneficiem o meio ambiente;
- valorizar as iniciativas que buscam incentivar a preservação do meio ambiente nas pequenas ações do dia-a-dia.
O projeto destaca a cedência gratuita dos direitos de exibição da obra audiovisual para a SEDAC e para o IECINE em eventos que sejam de natureza cultural, sem fins lucrativos, após 18 meses da entrega do filme finalizado ou vídeo. Destaca também a cedência gratuita dos direitos para exibições da obra audiovisual para a TVERS, onde fica assegurado à TVE-RS o direito de utilizar o conteúdo dos produtos (na íntegra e em partes) nos seus canais de mídia na internet, seja em transmissões sob demanda, WebTV, apresentações especiais ou streaming, ou ainda em canais de rede aos quais a TVE-RS esteja associada, após 18 (dezoito) meses da entrega do filme finalizado, e somente durante os 12 meses subsequentes.
Além da produção das peças audiovisuais, o projeto também propõe uma oficina intitulada Qual o papel do documentário hoje? Tal atividade busca suscitar um debate sobre as diferentes abordagens documentais e seus meios de propagação e objetiva dialogar sobre as manifestações documentais no audiovisual contemporâneo, com enfoque na produção nacional. Perpassando pelas diferentes manifestações temáticas, como o docudrama — um híbrido entre a ficção e o documentário — em Elena (2012), de Petra Costa, e Castanha (2014), de Davi Pretto; o documentário-denúncia, como em Estamira (2006), de Marcos Prado; o documentário ativista, como em Quebrando o Tabu (2011), de Cosmo Feilding Mellen e Fernando Grostein Andrade; o documentário de cunho jornalístico, como em Junho - o mês que abalou o Brasil (2014), de João Wainer, entre outros segmentos.
Além das discussões sobre a temática, também serão debatidos os meios de propagação desse conteúdo, com um crescimento de sua presença na internet — através de webdocs e séries documentais —, em plataformas de streaming, na televisão e no cinema.
O público-alvo para esta atividade são alunos dos cursos superiores de cinema, comunicação e demais interessados localizados em Porto Alegre e Região Metropolitana. A carga horária proposta é de oito horas.
A equipe principal destacada do projeto é formada por Graziella Calvano Ferst, como produtora, Lara Correa Ely, como pesquisadora, Aletéia Patrícia de Almeida Selonk e Regina Helena O´Donnel da Silva, ambas a cargo da produção, além do diretor e roteirista Lino Negri.
O valor solicitado ao sistema LIC/RS foi de R$ 210.430,00, sendo que foram habilitados R$ 195.430,00. Não há aporte de outras fontes de recurso.
É o relatório.
2. A proposta está descrita de forma clara, coerente e objetiva. Em seus anexos, é possível encontrar todas as cartas de anuência necessárias, bem como os currículos, que demonstram qualificação de toda a equipe envolvida. O pré-roteiro é detalhado o suficiente para que mesmo um leigo consiga ter uma ideia bastante clara do que a produção audiovisual pretende construir. Em sua metodologia, o projeto detalha de forma sucinta e organizada todas as fases essenciais do processo de produção e veiculação do filme, chamando a atenção para a preocupação de que este ganhe um grande número de espectadores.
Sobre o tema a ser abordado no documentário, este não poderia ser mais atual. Por menos atento que sejamos, é possível perceber, no mundo todo, um aumento com a preocupação ambiental nas últimas décadas. O Brasil mesmo foi protagonista nos debates ambientais ao sediar a Rio-92, mais conhecida como Eco-92, evento ao qual foi dado seguimento na Rio+10, realizado em Joanesburgo, e, posteriormente, na Rio+20, novamente no Rio de Janeiro no ano de 2012. Esta última conferência tinha por objetivo a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes. Os temas principais abordados na conferência foram o da economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
No entanto, por mais que a cada conferência ou outros eventos de natureza semelhante se renovem as esperanças para um mundo melhor, um olhar mais atento pode rapidamente perceber que os acordos firmados para a despoluição são sempre questionados em função do custo econômico envolvido. Lobistas de grandes grupos financeiros pressionam os governos para minimizar ou protelar as medidas de proteção ambiental. A tragédia de Mariana (MG), ocorrida há pouco mais de um ano e considerada um dos maiores desastres ambientais em nível mundial, é um bom exemplo de como a vida é negligenciada e colocada em risco, sempre em função da busca desenfreada por um lucro financeiro sem medidas. Ainda que os noticiários tenham dado destaque ao tema tanto na época, quanto no aniversário de um ano da calamidade, após alguns dias, ninguém mais fala sobre o assunto. Os espaços na grande mídia, via de regra, dedicam um tempo infinitamente maior para manchetes que discutem superficialmente assuntos como superávit primário, aumento ou diminuição do PIB, inflação, futebol, etc.
Neste sentido, num momento de grande crise de várias ordens, inclusive a financeira, assuntos como a sustentabilidade, a cultura, as artes são, na maioria das vezes, tratados como periféricos e de importância secundária. Paradoxalmente, são estas áreas que promovem a reflexão a partir de uma visão mais holística e integradora e que alavancam as grandes mudanças e avanços sociais. Sem elas ficamos relegados a um mundo mecanicista e sem sentido e acabamos abrindo mão das partes mais nobres de nossa humanidade. Assim sendo, penso que são precisamente nos momentos de maior crise que mais necessitamos desses instrumentos.
A proposta em tela vem ao encontro de tudo o que foi brevemente relembrado neste parecer. O investimento solicitado ao Sistema LIC/RS valerá cada centavo se a promessa descrita no projeto se cumprir quando de sua execução.
3. Em conclusão, o projeto "UMA SÓ PORTO ALEGRE?" é recomendado à avaliação coletiva, em função de seu mérito, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 195.430,00 (cento e noventa e seis mil, quatrocentos e trinta reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 11 de dezembro de 2016.
Marlise Nedel Machado Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13:30 horas do dia 14 de dezembro de 2016.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Alessandra Carvalho da Motta; André Venzon; Bibiana Mandagará; Dael Luis Prestes Rodrigues; Élvio Vargas; Érika Hanssen; Gilberto Herschdorfer; Ivo Benfatto; Jaime Antônio Cimenti; José Mariano Bersch; Luciano Fernandes; Luis Carlos Sadowski da Silva; Maria Marques Silveira; Paula Simon Ribeiro; Rafael Pavan dos Passos; Ruben Francisco de Oliveira, Vinicius Vieira de Souza.
Ausente no momento da votação: Walter Galvani da Silveira.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 21/12/2016 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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