Processo nº 1076-11.00/16-7
Parecer nº 336/2016 CEC/RS
O projeto "SOBRE RODAS DE CHORO E CHIMARRÃO - CONECTANDO MANISFESTACOES CULTURAIS 1 ª EDIÇÃO 2017" é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto passou pela análise técnica do Sistema Pró-Cultura e foi habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura, sendo encaminhado a este Conselho nos termos da legislação em vigor e a este conselheiro no dia·31/10/2016. O projeto é da área de Música e ocorre de 05/02/2017 a 26/02/2017 em: XANGRILÁ - Praia de Atlântida; TORRES - Praia da Guarita; CAPÃO DA CANOA – Bar onda; CIDREIRA - Concha Acústica; BALNEÁRIO PINHAL - Largo Osso da Baleia; TRAMANDAÍ - Praça a Beira Mar; XANGRILÁ - Praça Central de Xangrilá; e ARROIO DO SAL - Praça Emancipação. O proponente é BLIMDOM - PLANEJAMENTO E PROJ CULTURAIS LTDA, CEPC 2572, e a contabilidade está a cargo de Idibar Vieira Pereira, CRC 45.663. O valor total do projeto é de R$ 240.000,00, habilitado pelo SAT dentro da legislação em vigor. O projeto é todo financiado pelo Sistema LIC e o proponente declara não haver outras fontes de receita.
“Sobre Rodas de Choro e Chimarrão - Conectando Manifestações Culturais" é um projeto que promove encontros que envolvem música, palestra, oficinas e uma exposição portátil. Utilizando hábitos populares tradicionais — a "roda de chimarrão" e a "roda de choro" —, estabelece a conexão entre essas manifestações culturais, enaltecendo a participação dos músicos gaúchos no movimento nacional do chorinho, e organiza diálogos para esclarecimentos e fomento da prática e fruição do gênero. Idealizado por Pedrinho Figueiredo e Samuca do Acordeon, o “Sobre Rodas de Choro e Chimarrão” conta com um regional formado por Fernando Sessé (pandeiro), João Vicente Macedo (violão de 7 cordas), Fábio Azevedo “Cabelinho” (cavaquinho), Pedrinho Figueiredo (sax soprano e flauta) e Samuca do Acordeon (acordeon). As intervenções e textos no Libreto sobre o chimarrão são de Heleno Cardeal e os textos do Libreto sobre músicas e compositores são de Arthur de Faria. As fotos que ilustram a exposição portátil são de Eduardo Rocha. Este projeto visa circular no Litoral Norte do Rio Grande do Sul nos balneários de: Capão da Canoa, Tramandaí, Torres, Pinhal, Cidreira, Xangrilá, Arroio do Sal, Atlântida.
Dimensão simbólica: o ritmo do choro está muito mais ligado à cultura gaúcha do que se pode imaginar. A utilização da "roda de chimarrão" como elo é para demonstrar que o chorinho tem uma relação tão atávica com a cultura do nosso estado quanto o mate. No início do século XX, Octávio Dutra, já reconhecido como um importante compositor, atingiu números de vendagens de suas partituras equivalentes a cifra de quinhentas mil cópias nos dias de hoje. Em 1921, recepcionou o menino Dante Santoro, exímio flautista, em um "cordão" (grupo carnavalesco) chamado "Os Batutas". Era mais um virtuose do choro que se revelava e que, em 1934, lançaria seu primeiro disco, com duas composições de Octávio Dutra. Foi também mais um gaúcho que escreveu seu nome de forma determinante na história do chorinho no Brasil, pois, quando se mudou para o Rio de Janeiro, foi atuar como diretor musical do Regional da Rádio Nacional, onde aconteciam os lançamentos nacionais de música e que, obrigatoriamente, passavam pelas suas mãos ou de outro gaúcho, Radamés Gnattali. Gnattali, compositor, orquestrador, instrumentista virtuoso e, o Diretor Artístico na Rádio Nacional, além de grande compositor erudito, fazia sucesso em 1929 com seu Quarteto Continental. Revolucionou a sonoridade das orquestras e, enfrentando críticas, escreveu o primeiro trio de saxofones para uma marcha de carnaval. Radamés Gnattali foi o orquestrador de gravações importantíssimas na história da música brasileira. Entre essas, são destacadas Aquarela do Brasil, Carinhoso e Copacabana. Foi também o primeiro compositor gaúcho a ter obras sinfônicas interpretadas pela sinfônica da rádio de Berlim e pela BBC de Londres. Com uma carreira que transitava entre todos os gêneros de música, teve presença marcante na formação musical de Tom Jobim (filho de gaúcho nascido em S. Gabriel) e Raphael Rabello, violonista virtuose que trouxe novamente o violão brasileiro para uma posição de destaque. Aqui vemos o quão entremeada está a história da música brasileira com a música do Rio Grande do Sul. Temos dois gaúchos como líderes do movimento musical nacional e toda a vivência de música popular de ambos vinha do nosso carnaval, dos nossos clubes e dos bares. O Rio Grande do Sul influenciava e era influenciado por uma brasilidade que hoje atestamos com alguma dificuldade. Este é o objetivo do projeto "Sobre as Rodas de Choro e Chimarrão - conectando manifestações culturais": trazer à tona a vivência magnífica, a troca e o amontoado de informações musicais que formaram os músicos do nosso estado, que foram influenciados por todo o rico movimento musical no país, mas que, devemos saber, também influenciaram esse crescimento. Chegando aos nomes que hoje ainda atuam na nossa música, encontramos Os Irmãos Bertussi, com a curiosa história da presença de dois acordeonistas nordestinos que frequentavam a residência de Adelar Bertussi para vê-lo estudar quando ele morou no Rio de Janeiro, maravilhados com a sua preparação técnica e sua habilidade como leitor de partitura. Eram os acordeonistas: Sivuca e Luiz Gonzaga. Os Irmão Bertussi, percussores da música de baile no estado do RS, são exemplo ainda maior da presença do chorinho na formação musical gaúcha. "Chorinho Campeiro" — é assim que está designado o ritmo da faixa 6 - Mistura Fina, do disco Coração Gaúcho, dos Irmãos Bertussi, lançado em 1955, com relançamento em 1958 e 1969. Este era um ritmo bastante encontrado nos bailes do estado do Rio Grande do Sul e nas apresentações em festas e teatros. "Sobre Rodas de Choro e Chimarrão - Conectando Manifestações Culturais" levará ao Litoral Norte do estado uma identidade nacional que também pertence ao gaúcho. O chimarrão andou longe, às vezes "costeado" por uma milonga, às vezes por um chorinho. O projeto já realizou circulação em cinco cidades do Rio Grande do Sul, com financiamento do FAC, e obteve o acolhimento da mídia e do público.
Dimensão econômica: o projeto “Sobre Rodas de Choro e Chimarrão – Conectando Manifestações Culturais” tem excelência artística, viabiliza a ampliação de mercado dos músicos no Rio Grande do Sul e dialoga com a comunidade acadêmica, musical e com público em geral. Este trabalho propicia a reflexão e o consequente desenvolvimento do estilo musical do ponto de vista humano e cultural, bem como a oportunidade de identificação dos espectadores com o conteúdo, hábitos e a estética deste, propiciando o crescimento cultural de cada um, o qual refletirá no coletivo.
Dimensão cidadã: é um projeto que permite acesso a todos indiscriminadamente, pois acontece em praças públicas, sem cobrança de ingresso, quando todos podem estar com amigos e familiares apreciando o chimarrão, bebida cultuada pelos gaúchos e está nos meios.
Metas:
8 apresentações musicais (Rodas de Choro);
8 Rodas de Chimarrão;
8 exposições portáteis;
Impressão de Libreto com partituras e biografia dos compositores (quantidade: 1000);
Intervenções textuais de Heleno Cardeal sobre Chimarrão (quantidade: 8);
4 oficinas;
Intervenções Textuais Libreto (quantidade: 8)
É o relatório.
2. O projeto em tela apresenta vasta documentação com currículos dos participantes na apresentação do projeto. O proponente faz uma pesquisa sobre o chorinho, ritmo brasileiro com forte traço histórico no Rio Grande do sul. Nisso, é inegável e meritória a ideia do projeto, que é levar ao Litoral Norte música da melhor qualidade de uma forma muito informal, para rodadas de conversa e chimarrão. O projeto contribui com a confecção de 1.000 livretos, oficinas e intervenções, uma exposição itinerante, própria e oportuna para período no litoral, quando se concentra um grande número de pessoas. Consideramos também importante que o projeto também circule em outros períodos do ano. O proponente cita que fará contatos com as secretarias municipais, porém entre todas as cidades que constam no projeto, apenas três municípios garantem participação. As demais ficam sem as respectivas cartas de anuência. Mesmo sendo meritório e relevante, chama a atenção deste relator os valores altos na área de administração do projeto, e, por outro lado, extremamente modestos aos cachês artísticos. Com o maior respeito aos profissionais de cultura, precisamos rever valores, como, por exemplo, quando um diretor de produção ganha o valor de R$ 24.000,00 e um músico, que a razão principal do projeto, e estamos falando de músicos de conceituados, ganha R$ 4.000,00, ou, ainda dentro desse quadro comparativo, a produção local de R$ 9.600,00. A pergunta que não quer calar é: onde fica a prefeitura nessa produção local? Este relator tem que ser objetivo e coerente. O projeto fere a oportunidade e, assim, aponto para glosas pontuais. Em tempo, lembro que sejam assegurados nos eventos espaços conforme resolução do CEC, espaço para cadeiras e pessoas com deficiências. A seguir, as glosas:
1. Direção de Produção, R$ 24.000,00 (LIC-RS) – R$ 10.000,00 = R$ 14.000,00
1.3 Direção Artística, R$ 12.000,00 (LIC-RS) - R$ 5.000,00 = R$ 7.000,00
1.4 Direção Musical, R$ 7.000,00 (LIC-RS) - R$ 3.500,00 = R$ 3.500,00
1.13 Produção Local, R$ 9.600,00 (LIC-R$) R$ 5.100,00 = R$ 4.500,00
1.19 Captação de Imagens, R$ 6.400,00 - R$ 2.400,00 = R$ 4.000,00
2.2 Assessoria de Imprensa, R$ 3.600,00 (LIC-RS) - R$ 600,00 = R$ 3.000,00
3.1 Coordenação Administrativa, R$ 14.000,00 (LIC-RS- R$) – 7.000,00 = R$ 7.000,00
3.3 Agenciamento, R$ 12.000,00 (LIC-RS R$) – R$ 7.000,00 = R$ 5.000,00
Total das glosas: R$ 44.000,00.
3. Em conclusão, o projeto “SOBRE RODAS DE CHORO E CHIMARRÃO - CONECTANDO MANISFESTACOES CULTURAIS 1 ª EDIÇÃO 2017”, devido ao seu mérito cultural, relevância e oportunidade, é recomendado para avaliação coletiva, podendo vir a receber financiamento até o valor de R$ 196.000,00 (cento e noventa e seis mil reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura – RS.
Porto alegre 19, de dezembro de 2016.
Ruben Oliveira
Conselheiro relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13:30 horas do dia 19 de dezembro de 2016.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Dael Luis Prestes Rodrigues; Élvio Vargas; Érika Hanssen; Gilberto Herschdorfer; Ieda Gutfreind; Ivo Benfatto; Jaime Antônio Cimenti; José Mariano Bersch; Lucas Frota Strey; Luciano Fernandes; Luis Carlos Sadowski da Silva; Marco Aurélio Alves; Maria Marques Silveira; Marlise Nedel Machado; Paula Simon Ribeiro; Rafael Pavan dos Passos; Vinicius Vieira de Souza; Walter Galvani da Silveira.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 21/12 2016 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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