O projeto “TEATRO LABORATÓRIO PARA IMAGINAÇÃO SOCIAL 2017 - 5ª EDIÇÃO” é recomendado para avaliação coletiva.
1. O projeto cultural “TEATRO LABORATÓRIO PARA IMAGINAÇÃO SOCIAL”, foi habilitado pelo SAT nos termos da legislação vigente. O proponente é a TERREIRA DA TRIBO PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA – CEPC nº 1384, responsável legal e coordenação geral PAULO FLORES. Valor total para execução do projeto R$ 299.850,00 (duzentos e noventa e nove mil, oitocentos e cinquenta reais), sendo R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) financiados pela Lei de Incentivo à Cultura no Estado do Rio Grande do Sul (LIC RS) e R$ 59.850,00 (cinquenta e nove mil, oitocentos e cinquenta reais) financiados pelo proponente. Há uma distribuição adequada e sensata dos recursos destinado à execução do projeto. A área do projeto é ARTES CÊNICAS: TEATRO. O período de realização é de 03/05/2017 à 01/09/2018, 18 meses. Os locais de realização do projeto são quatro bairros da região metropolitana de Porto Alegre, a saber: São Geraldo, na sede da Terreira da Tribo (Rua Santos Dumont, 1186); Humaitá, no Centro Cultural Esportivo Ferroviário (G.E. Ferrinho, Av. Dona Teodora, 1250, Vila dos Ferroviários); Bom Jesus, no Centro de Educação Ambiental (na Av. Joaquim Porto Villanova, 143 / Vila Pinto); e em Canoas (Local a definir). Serão ofertadas quatro tipo diferentes de oficinas, inteiramente gratuitas, com foco no público jovem (maiores de 16 anos) em situação de “carência econômica e cultural”, garantindo a acessibilidade democrática à cultura como direito, fomentando assim “a criação de grupos culturais nas comunidades, desmistificando e socializando os processos artísticos, possibilitando um autoconhecimento por parte do oficinandos e ampliando a consciência e atuação social dos mesmos”. A “Oficina para Formação de Atores“ (25 vagas), tem duração de 17 meses, com aulas diárias, onde os oficinandos estarão passando por um processo programado de desenvolvimento, cuja primeira etapa encontra-se organizada em torno do auto-conhecimento (conhecimento centrado no ator), passando, em seguida, para o estágio do reconhecimento (ênfase colocada no trabalho de construção de personagem), para o jogo teatral (ênfase na situação dramática) e, por fim, chegando à elaboração do produto estético: a encenação. A formação deste jovem ator terá um embasamento técnico-prático-teórico, com o desenvolvimento nas áreas de Interpretação, Improvisação, Expressão Corporal, Teoria e História do Teatro, Expressão Vocal, História do Teatro Brasileiro e História do Pensamento Político. A “Oficina de Teatro de Rua - Arte e Política“ (25 vagas) abordará os princípios básicos do teatro político e popular com a perspectiva que a rua seja palco de um teatro que se assuma como um constante repensar da sociedade, motivando uma releitura da vida cotidiana. Investigará o movimento, o gesto e a voz para a ampliação do corpo do ator e a ocupação do espaço urbano, proporcionando experimentação de linguagens para o desenvolvimento de personagens, situações, fábulas. Trabalhará elementos e recursos plásticos e musicais que auxiliam a criação poética da cena na rua. A “Oficina de Teatro Livre“ (25 vagas) se desenvolve durante todo ano com uma proposta de iniciação teatral a partir de jogos dramáticos, expressão corporal e improvisações, visando estimular o interesse pelo teatro e a busca da descolonização corporal do artista/cidadão. Com a ação “Teatro Como Instrumento de Discussão Social“, se realizam “Oficinas Populares de Teatro“ em 4 bairros da região metropolitana de Porto Alegre (15 vagas cada): Bairro São Geraldo (na sede da Terreira da Tribo, Rua Santos Dumont, 1186); Bairro Humaitá, no Centro Cultural Esportivo Ferroviário (G.E. Ferrinho, Av. Dona Teodora, 1250, Vila dos Ferroviários); Bairro Bom Jesus, no Centro de Educação Ambiental (na Av. Joaquim Porto Villanova, 143 / Vila Pinto), e em Canoas (provavelmente no prédio da antiga estação férrea) com o objetivo de fomentar a criação de grupos culturais nessas comunidades.
É o relatório.
2. Creio que a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz não necessitaria ser apresentada formalmente. Um grupo de teatro que nasceu no contexto da ditadura do estado brasileiro (1978) e chegou com UTOPIA, PAIXÃO E RESISTÊNCIA a 2016 contemplando um sonho: a ordem de início das obras da construção do Centro Cultural Terreira da Tribo de Atuadores Ó Nóis Aqui Traveiz, na esquina da rua João Alfredo com a avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, no histórico bairro da Cidade Baixa. A Terreira possui todas as competências, não só no seu site, para mostrar uma trajetória continuada e de realizações à favor da arte e da cultura do Estado do Rio Grande do Sul. Realizações tão significativas que a levou acumular premiações do regional Açorianos ao nacional prêmio Schell. Desenvolveu inúmeras montagens teatrais e socializações qualificadas de sua produção como pesquisas, apresentações de rua, oficinas, e publicações, como a revista especializada Cavalo Louco, um veículo de reflexão sobre a prática teatral, única no gênero, com periodicidade regular no sul do país, com distribuição nacional e gratuita, completou 10 anos em 2016 com a 16ª edição. Desse modo, a Tribo segue preservando sua memória e a autonomia da arte com espírito crítico e criativo. Certamente serão necessários mais do que a dezena de obras já publicadas, entre livros e documentários, para conhecer esse potencial de “tornar infinitas as fronteiras do que chamamos realidade”, conforme escreveu Artaud em seu prefácio “O teatro e a cultura”. São raros, em Porto Alegre, aqueles grupos que durante tão longo tempo, quase 40 anos, e de forma tão aguerrida que conseguiram, como a Terreira da Tribo, manter acesa essa criatividade, espírito crítico e capacidade de se sintonizar com os mais altos anseios de liberdade levados adiante em nosso meio cultural. A Tribo é exemplo de proponente que democratiza e deselitiza a produção e o acesso à cultura que sempre devem ser fomentadas, e o projeto em análise propõe atividades que promovem esse acesso, por parte das comunidades, à uma das formas de expressão artística e política, o teatro. É de extrema importância ter dentro das comunidades projetos que despertem uma maior consciência, atuação social e, sobretudo, disponibilizem uma nova linguagem e novas possibilidades de se atribuir significados à realidade e ao contexto que cerca os membros das mesmas.
A “Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz” articula e fomenta a criação desses espaços de empoderamento de jovens e adultos, por meio de suas oficinas, nas quais essas pessoas adquirem o conhecimento técnico sobre teatro e também desenvolvem uma atuação política, por meio de discussões sobre as temáticas sociais. É um projeto que está na sua quinta edição e desenvolve durante os dezoito meses uma proposta de iniciação teatral, a partir de jogos dramáticos, expressão corporal e improvisações, visando estimular o interesse pelo teatro. Só traz benefícios à comunidade na qual ele for realizado, visto que ele promove a formação não apenas de profissionais na área das artes cênicas, mas também contribui para a formação de cidadãos sobre as questões sociais que ainda sustentam os preconceitos e desigualdades em nosso país.
Em um país e um povo tão diverso quanto desigual, procuramos pertencer a um lugar em especial, à cultura, mas somos continuamente colocados à margem da civilização, devido a um sistema educacional que fracassou em razão do Estado não investir em inovações tecnológicas e na pluralidade que as questões artísticas contemporâneas representam. O estranhamento a esta realidade obtusa e autoritária, que violenta constantemente os direitos básicos, inclusive os culturais, está no âmago deste grupo teatral que levou, de forma pioneira, a situação limite de romper as paredes do palco italiano, subvertendo aquela caixa cênica, para levar a o seu teatro para o mundo, exercendo a liberdade do espaço da rua, resignificando o papel social do teatro entre nós numa perspectiva cultural transformadora. Popularizou a arte de Dionísio em praças, vilas, portas de fábricas, sindicatos, centros comunitários, instituições de reclusão de menores, penitenciárias, hospitais, manicômios, assentamentos rurais, conquistando os diferentes públicos com um movimento de cena dinâmico e personagens excêntricos, utilizando adereços e figurinos impactantes com máscaras e bonecos. A narração da fábula é toda influenciada pela música, o canto e a dança, mesclando os movimentos do coro com ações acrobáticas, cenas de humor irreverente e personagens clownescos com uma narrativa épica.
Desde o início da história brasileira, nossa identidade foi enquadrada pelo olhar exterior, no sentido clássico grego, como um espelho, um reflexo do outro, nomeando e tomando posse de tudo que esta visão exploratória abarcava. Depois de 500 anos e a caminho de alcançarmos a maioridade do século XXI, a Tribo, sem trair a sua vocação artística, quer com o seu teatro de rua continuar a instaurar a alegria e a indignação nos seus milhares de espectadores. Na busca de uma identidade, desenvolveu uma estética própria, fundada na pesquisa dramatúrgica, musical, plástica, no estudo da história e da cultura, na experimentação dos recursos teatrais a partir do trabalho autoral do ator, estabelecendo um novo modo de atuação. Assim se definem:
A determinação em experimentar novas linguagens a fez seguir caminhos nunca trilhados por aqui. Com base nos preceitos de Antonin Artaud e do teatro revolucionário, investiga com rigor todas as possibilidades da encenação. Seu centro de produção, a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, ocupa lugar de destaque entre os espaços culturais do Estado, sendo igualmente apontada como uma referência de âmbito nacional. Funciona como escola de formação de atores e, principalmente, como ponto de aglutinação de pessoas e profissionais dos mais diversos segmentos, fomentando a criação artística em diferentes áreas. A organização da Tribo é baseada no trabalho coletivo, tanto na produção das atividades teatrais, como na manutenção do espaço. Para a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz o teatro é instrumento de desvelamento e análise da realidade; a sua função é social: contribuir para o conhecimento dos homens e o aprimoramento da sua condição. Num mundo marcado pela exclusão, marginalização, pela homogeneização, pelo pensamento único, enfim, pela desumanização e pela barbárie, cada vez mais é vital e necessário denunciar a injustiça, as vendas de opinião, o autoritarismo, a mediocridade e a falta de memória. Esta é a defesa que o Ói Nóis faz: o teatro como resistência e manutenção de valores fundamentais que diferenciam uns de outros: a solidariedade, a honestidade pessoal e a liberdade. Fazendo um teatro a serviço da arte e da política, que não se enquadra nos padrões da ética e da estética de mercado. O teatro como um modo de vida e veículo de ideias: um teatro que não comenta a vida, mas participa dela!
Sua atuação representa o nosso embate cultural produzido performativamente que se opõe a traços culturais e de costumes étnicos preestabelecidos e inscritos na lápide fixa da tradição. Ao contrário de uma maioria organizada num sistema e sedes de poder, seu teatro parte da perspectiva das minorias, garantindo-lhes o direito de se expressar a partir da periferia e não depende da persistência da tradição, tampouco é alimentado por ela. É incontingente e contradizente. Não reencena o passado. É o que eu chamo de “MTH” - Movimento de Transformação Humana. Critica toda a identidade colonialista ou de uma tradição recebida. É um teatro que representa o signo de emergência das comunidades como projeto, que reflete sobre a necessidade de compreender a diferença cultural das identidades minoritárias que se articulam em um corpo coletivo. Por isto a rua é o palco da Terreira, sempre em movimento, por isto a comunidade é a tribo, pois é nômade, ou seja sempre em transformação. A Terreira diferencia e dignifica Porto Alegre, ela que insere definitivamente com sua atuação a cidade na paisagem cultural brasileira e que assegura à nossa cultura uma visão ampla e democrática entre os povos da terra. E é por ela que me orgulho de ser porto-alegrense, de pertencer a este lugar da cultura.
Contudo, solicita-se ao proponente observar o uso do termo correto para "pessoas com deficiência" ao invés de "portadores de deficiência"(conforme Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovado pela ONU), sendo que a liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais fica condicionada à comprovação do cumprimento das normas legais de prevenção a incêndios nos locais onde será realizado o projeto, desde que necessário, o que deverá ser feito pelo proponente junto ao gestor do Sistema.
3. Em conclusão, o projeto “Teatro Laboratório para Imaginação Social - 5ª EDIÇÃO”, em razão da sua relevância, mérito e oportunidade é recomendado para a Avaliação Coletiva podendo vir a receber a importância de até R$ 240.000,00 (Duzentos e quarenta mil reais) do Sistema Unificado Pró-cultura RS.
Porto Alegre, 17 de fevereiro de 2017.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 09h30min do dia 17 de fevereiro de 2017.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, José Mariano Bersch, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Marco Aurélio Alves, Bibiana Mandagará Ribeiro, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Ieda Gutfreind, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Vinicius Vieira, Lucas Frota Strey e Walter Galvani.
Impedimentos: Luciano Fernandes.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 24/02/2017 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS