Processo nº 1315-1100/16-4
Parecer nº025/2017 CEC/RS
O projeto cultural “ENCANTARTE – Mostra de Teatro Amador de Encantado 2017” é recomendado para avaliação coletiva.
1. O projeto “ENCANTARTE – Mostra de Teatro Amador de Encantado 2017” está apresentado pelo proponente Região dos Vales Comunicação Virtual Ltda-ME, CEPC 3083, que tem Luciano Fontana, seu responsável legal, que está encarregado da coordenação geral do projeto e da captação de recursos. O projeto está inscrito na área de Artes Cênicas: Teatro. Na equipe principal consta: Samir Xavier ME, responsável pela Coordenação Administrativa; Horn & Cia Ltda, assistente de produção e coordenação geral; e André Bergamaschi como contador.
A realização está prevista para o município de Encantado, de 01 de outubro a 05 de novembro de 2017, com a apresentações de 05 espetáculos amadores nos salões comunitários, tendo por meta conquistar público de 10.000 pessoas. Todas as atividades terão entrada franca e o projeto está orçado em R$ 90.500,00 (noventa mil e quinhentos reais), que são solicitados integralmente ao Sistema Pró-Cultura. O “Encantarte” reunirá resultado das produções de 05 comunidades que, ao longo de cinco meses, criarão seus espetáculos.
Antes de encaminhar o projeto ao sistema de financiamento, o proponente promoveu encontro com lideranças das 26 comunidades de Encantado, objetivando apresentar objetivos e metas. Das 15 comunidades representadas, cinco aderiram ao projeto através de carta de aceite entregue ao proponente.
Segundo o proponente, a “Mostra de Teatro Amador das Comunidades de Encantado – Encantarte” tem por objetivo realizar amostragem de espetáculos teatrais produzidos por cinco comunidades, com orientação de um instrutor, unindo moradores de cada uma das localidades envolvidas, despertando o espírito comunitário. As apresentações dos espetáculos acontecerão nas comunidades participantes e serão definidas através de sorteio, prevendo uma por semana.
O projeto pretende, também, desenvolver habilidades de profissionais nos moradores das localidades, como costureiras, marceneiros, artistas plásticos, pintores, construtores e músicos, entre outros. O processo criativo abrirá janelas para a descoberta de novas habilidades a começar pela elaboração de roteiros e dramaturgia, a elaboração de figurinos e cenários, e outras demandas dos espetáculos que serão criados por pessoas residentes nas comunidades.
Os espectadores serão brindados com espetáculos inéditos interpretados por seus vizinhos, amigos e familiares. Através do “Encantarte”, será incrementado o desenvolvimento das manifestações culturais espontâneas, do pensar e produzir a arte, incentivando a produção e promovendo a divulgação dos artistas, estabelecendo elo entre as comunidades. O projeto assume a arte como meio de identificação, de formação e ação do sujeito, espalhando saberes, produzindo e construindo identidade individual e coletiva, partindo do pressuposto de que as manifestações culturais alicerçam o comportamento social.
Está assegurada a democratização no acesso através dos processos criativos assim como através da fruição com entrada franca. Além disso, habilidades e competências serão ampliadas através de 100 horas/aula em oficinas de teatro que estão embasadas em um plano pedagógico anexado ao projeto, e outras 100 horas de ensaios realizados nas comunidades.
A justificativa do proponente para realizar o “Encantarte” é a grande necessidade de transformar o cenário local, fortalecendo a autoestima das pessoas, movimentando a economia criativa e contribuindo de forma direta para a qualidade de vida e a formação intelectual, cultural e cidadã de crianças, jovens e adultos.
Os idealizadores do projeto acreditam que oportunizarão a fruição do teatro amador, e consequentemente a pesquisa artística e diversidade de linguagens, estéticas e gêneros, pois serão valorizados o uso e a mistura de diferentes linguagens aliadas ao teatro, como a dança, o audiovisual, a música, as artes plásticas e as artes circenses. Será um espaço para que tais artistas apresentem seus trabalhos, abrindo oportunidades ao teatro comunitário.
Material impresso de divulgação dos espetáculos será disponibilizado aos atores, permitindo que cada um convide familiares, amigos e vizinhos. Tal iniciativa permitirá a formação de plateia, o que já está assegurado, considerando que desde o inicio do planejamento desta ação, a comunidade aderiu ao projeto.
A preocupação com a acessibilidade está evidenciada através da realização de vistorias, objetivando verificar as condições, e, quando necessário, implantar rampas, reservar vagas em estacionamento reservado e espaços especiais a cadeirantes. A equipe de produção estará devidamente instruída para acompanhar as necessidades das pessoas com deficiência.
Em cada salão comunitário que não dispuser de palco, será edificado um com estrutura de entradas e saídas laterais, assim como com sonorização e Iluminação que serão fornecidas pelo proponente. Os efeitos especiais serão responsabilidade dos grupos
O plano de divulgação prevê contemplar com material editorial toda a região em diversos meios de comunicação. O material gráfico será confeccionado com 30 dias de antecedência para ser distribuído na cidade e região. A assessoria de imprensa fará a divulgação através de releases que serão enviados aos meios de comunicação e à mídia alternativa.
Os encontros com o instrutor (ensaios) serão realizados conforme a disponibilidade dos grupos e do instrutor, de preferência nos salões das comunidades. Cada comunidade terá direito à 20h com o instrutor
O “Encantarte” ocupa-se com ações socioambientais a partir da utilização, sempre que possível, de material reciclado das peças publicitárias e decorativas, disponibilização de lixeiras de acordo com a necessidade de cada local e alertas sobre a importância da separação do lixo, por meio do sistema de sonorização.
É o relatório.
2. O projeto está fielmente apresentado dentro de todas as premissas, necessidades e determinações do Sistema Pró-Cultura, quer seja através do cumprimento ao previsto na IN 001/2016, assim como das constantes orientações, sugestões, proposições e condicionamentos do Conselho Estadual de Cultura através de pareceres ou resoluções. Ao ler este projeto, tem-se a certeza de que quem o elaborou conhece profundamente o pensamento e as manifestações deste Conselho.
Inexistem senões ou necessidades de ajustes neste projeto. Tudo está perfeitamente adequado, ajustado e plenamente justificado. Há que se lamentar apenas a ausência de participação da Prefeitura Municipal em uma iniciativa que, sem dúvida, irá impactar positivamente na vida de cinco comunidades de Encantado. Impossível que isso não sensibilize gestores que precisam entender que investir no cidadão não é apenas tratar de conservação de estradas ou obras públicas, ou as tão faladas educação e saúde. É imprescindível que os gestores compreendam que projetos como este servem como solução para os altos índices de evasão escolar, ao mesmo tempo em que podem ser utilizados para promoção da saúde, principalmente para prevenir psicopatologias que consomem milhões em medicamentos e geram uma constante necessidade de maiores investimentos em saúde curativa.
Através de projetos como este, a população pode alcançar informações que auxiliem no entendimento da necessidade de prevenção ao uso de substâncias psicoativas, sejam elas legais ou não. Projetos como o “Encantarte” podem dialogar com meninos e meninas, vitimas de desinformação sobre questões sexuais que geram a gravidez precoce e a paternidade irresponsável. Através dos espetáculos criados em projetos assim, conseguiremos estancar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis que matam por falta de conhecimento. Mais ainda, são essas iniciativas que podem evidenciar que a pior violência é aquela que está no interior dos lares, dentro das casas, no seio das famílias, que, muitas vezes, alimentam a misoginia, o machismo, a incomunicabilidade entre adultos, a incompreensão com os mais jovens e o abandono dos mais velhos, entregando pessoas vitimadas pela discriminação ou vitimadoras pelo preconceito para as ruas, e assim fazendo com que a sociedade seja violenta ao tempo que clama por segurança. Enquanto gestores ignorarem os projetos de desenvolvimento humano, social e cultural como este, só consumirão recursos públicos de forma irresponsável, sem investir naquilo que efetivamente é transformador. Espera-se que os novos gestores de Encantado, quando e se procurados para apoiar esta ou outra iniciativa do gênero, sejam sensíveis e invistam em projetos essenciais como este, e não apenas na emergencialidade e no curativo.
A relevância deste projeto fica evidenciada nos objetivos do mesmo quando definem a autoestima e a necessidade de mudança do cenário através de uma manifestação cultural — o teatro —, respeitando os saberes e fazeres de cada localidade, utilizando-se apenas de um instrutor que socializará seu conhecimento com os cinco grupos envolvidos. Esse objetivo deve ser o norteador de todas as políticas públicas, e por esta razão é relevante que sejam investidos recursos do Sistema Pró-Cultura em tal projeto.
Relevante também é a forma como proponente começa o planejamento de seu intento: reúne lideranças comunitárias e essas aderem à iniciativa. Aqui, temos o nascedouro que ouve as demandas e contempla os anseios da comunidade de Encantado, envolvendo suas diversas organizações comunitárias. Está claro que este projeto não nasceu para alimentar vaidades, o que, infelizmente, é incomum.
A democratização no acesso é tocante, dada a sensibilidade do proponente quando contempla a cada segmento do público, que poderá optar como deseja inserir-se na proposta: pode envolver-se na criação de espetáculos, estando presente no palco; pode estar ali através do aproveitamento de seus saberes nos mais diferentes quesitos técnicos, desde a dramaturgia, passando pela confecção de cenários e figurinos, até a trilha sonora ou iluminação. Poderá envolver-se através das oficinas que lhe permitirão o despertar da criatividade, o retomar da espontaneidade, ou ainda a exercitar a desinibição. Por último, poderá, se assim o desejar, sentar-se na condição de espectador daquilo que seus amigos, vizinhos e familiares apresentarem em cena.
Como recheio de tudo isso, a gratuidade das ações e o melhor dos complementos: tudo acontecerá onde as pessoas vivem. Só pela democratização já estão assegurados mérito, relevância e oportunidade ao projeto.
A oportunidade da iniciativa está assegurada quando se sabe que o proponente pensou nas pessoas com deficiência e a elas dedica atenção especial. Quem elaborou este plano, pensou em ações ambientais que começam com o material de divulgação, estendendo-se à difusão da necessidade de separação do lixo. Os criadores desta iniciativa definiram plano de divulgação coerente e consistente que vai além das fronteiras do município e envolve a região. Por último, existe um plano pedagógico para nortear as oficinas, o que assegura a maturidade e responsabilidade com aquilo que será ensinado aos interessados em aprender sobre a arte teatral. Aqui, mais uma vez, fica evidente uma preocupação que definirá o sucesso desta iniciativa: um projeto bem elaborado, baseado em planejamento consciente e racional.
A oportunidade se dá quando se vê um orçamento dentro da racionalidade e contemplando, prioritariamente, a criação e a fruição, promovendo o aproveitamento adequado dos recursos em todos os itens. Ainda mais oportuno é um projeto orçado em pouco mais de noventa mil reais, que contemplará dez mil pessoas.
O mérito está evidente em cada fase das ações previstas neste projeto. Aqui, estão presentes os planteamentos existentes no teatro desde o seu surgimento, VI séculos antes de Cristo, quando em uma praça de Atenas, vestido com uma máscara e uma túnica, um homem fez a plateia rir e chorar, mas, sobretudo, pensar. O mérito está configurado quando se percebe presente a lição de Bertold Brecht de que é preciso fazer conhecer o cenário para poder transformá-lo. O mérito está presente quando se utiliza das técnicas de Augusto Boal para mostrar que todos têm capacidade para dizer algo através do teatro. O mérito está presente porque o teatro poderá ser a ferramenta que possibilite à população de Encantado conhecer-se melhor e encantar-se com a magia de suas possibilidades, percebendo suas potencialidades e vivendo seus sonhos, pelo menos, no palco.
3. Em conclusão, o projeto cultural “ENCANTARTE – Mostra de Teatro Amador de Encantado 2017” é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o limite de R$ 90.500,00 (noventa mil e quinhentos reais) do Sistema Pró-Cultura.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2017.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 25 de janeiro de 2017.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Luiz Armando Capra Filho, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Bibiana Mandagará Ribeiro, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Ieda Gutfreind, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Vinicius Vieira, André Venzon e Walter Galvani.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 24/02/2017 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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