O projeto “PORTO ALEGRE EM CENA - 24ª EDIÇÃO” é recomendado para a Avaliação Coletiva.
1. O projeto cultural Porto Alegre em Cena 2017 é apresentado por Primeira Fila Produções, CEPC 5679, sob a responsabilidade legal de Leticia dos Santos Vieira, que, além de proponente, terá a função de produtora administrativa. O projeto, inscrito na área de artes cênicas, tem sua realização prevista para o período de 12 a 25 de setembro de 2017, tendo por locais de exibição dos espetáculos o Theatro Sâo Pedro, a Casa de Cultura Mário Quintana, o Teatro Renascença, a Sala Alvaro Moreyra, o Auditório Araújo Vianna, o Centro Cultural da Santa Casa e o Teatro do SESC.
A equipe principal está composta pela coordenadora geral e de programação Virginia Maria Schabbach, cabendo a Leonardo Melleu Duarte a atividade contábil. A Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre consta na ficha técnica como partícipe da promoção.
Desde 1994, o “Porto Alegre em Cena” traz a Porto Alegre uma mostra da produção nacional e internacional, já tendo apresentado, em edições anteriores, atrações da Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, China, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Lituânia, Perú, Suíça e Uruguai. As atrações conquistam expressiva quantidade de público, considerando a oportunidade de se assistir a diversificadas linguagens teatrais e nomes expressivos do teatro brasileiro (Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Marco Nanini, Marieta Severo e Denise Stoklos entre outros), juntamente com exponenciais representantes das artes cênicas mundiais, como Peter Brook, Pina Bausch, Bob Wilson Isabelle Huppert e outros tantos.
Segundo o proponente, o projeto “Porto Alegre em Cena – 24ª edição” tem por objetivo oferecer ao público gaúcho programação de qualidade, com espetáculos representativos da cena contemporânea local, nacional e internacional, em diversos espaços culturais da cidade, simultaneamente; democratizar o acesso à cultura por meio de ingressos acessíveis, além de oferecer apresentações, oficinas e seminários gratuitos, buscando atingir a maior gama possível de camadas da sociedade; promover a qualificação dos artistas através de participações em oficinas e debates; estimular o intercâmbio entre artistas e técnicos locais, nacionais e internacionais; fomentar o debate acerca das artes cênicas e o seu papel no contexto brasileiro atual, no seu contexto cultural e social; divulgar a produção artística gaúcha; contribuir para o desenvolvimento das artes cênicas no Rio Grande do Sul e a ampliação dos horizontes culturais do povo gaúcho; somar na consolidação do lugar de destaque do Rio Grande do Sul no cenário cultural nacional e internacional; fomentar novas plateias para 10 espetáculos produzidos com qualidade no Estado.
O proponente deseja alcançar 60 mil espectadores, dos quais 13 mil pagantes, e afirma que na edição de 14 dias deste ano serão disponibilizadas cerca de 40 produções, sendo 10 gaúchas e outras 30 brasileiras e internacionais, com valores de ingressos que variam dos R$ 20,00 aos R$ 80,00, com apresentações previstas para teatros, praças públicas e espaços alternativos da cidade. Planeja oportunizar trabalho a, aproximadamente, 250 pessoas durante o evento e outras 20 na sua preparação.
Na metodologia está expresso que o projeto do “24º Porto Alegre em Cena” é uma realização da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, produzido com financiamento do Sistema Pró-Cultura e da Lei ROUANET. Segundo o orçamento constante entre os anexos do projeto, verifica-se que o mesmo está orçado em R$ 2.723.130,00 (dois milhões, setecentos e vinte e três mil, cento e trinta reais), solicitando ao sistema Pró-Cultura o valor de R$ 265.000,00 (duzentos e sessenta e cinco mil reais). Segundo a planilha orçamentária, o projeto contará, além dos recursos do Pró-Cultura, com R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) de patrocínios ou doações sem incentivo fiscal e R$ 84.720,00 (oitenta e quatro mil, setecentos e vinte reais) oriundos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, totalizando R$ 399.720,00 (trezentos e noventa e nove mil, setecentos e vinte reais). O proponente descreve a comercialização de ingressos no corpo do projeto – plano de Comercialização – onde prevê faturamento de R$ 390.000,00 (trezentos e noventa mil reais), mas tal informação não compõe a planilha orçamentária. A Instrução Normativa vigente não obriga tal inclusão.
O projeto apresentado ao MINC, constante nos anexos deste projeto, está orçado em R$ 3.048.010,00 (três milhões, quarenta e oito mil e dez reais).
Além dos espetáculos selecionados pela Curadoria, o evento abriu inscrições para a análise e seleção das atrações, tendo recebido mais de 500 propostas. As produções locais serão escolhidas por uma Curadoria formada por profissionais das artes cênicas portoalegrenses.
O evento promoverá oficinas e seminários gratuitos, aproveitando a presença de profissionais dos rspetáculos e outros financiados pela Funarte. Segundo afirma o proponente, os participantes são escolhidos mediante prévia inscrição e análise de currículo, adequação e experiência. Não estão incluídos no projeto os conteúdos ou ministrantes de tais oficinas.
Integrando a proposta de formação, consta iniciativa intitulada “Caixa Cênica”, que ministrará aulas sobre cenotécnica destinadas a 10 jovens de baixa renda, previamente selecionados, aos quais será oportunizado estagiar nas montagens que comporão a programação do Festival. Serão contempladas 10 pessoas, entre os carregadores do Festival, com carga horária de 12 horas. No seu conteúdo programático consta: ergonomia aplicada à atividade de apoio e montagem de palco; introdução ao tema e glossário; visitas guiadas; exercícios teóricos e exercícios práticos. A oficina será ministrada por Yara Balbony - Arquiteta e Urbanista , Especialista em Ergonomia.
Quando do cadastramento do projeto, estavam selecionados os seguintes espetáculos: “As Guerrilheiras do Araguaia”, de Grace Passô dirigida por Georgette Fadel; Leite Derramado, releitura e direção de Roberto Alvim sobre a obra de Chico Buarque; “Líquido Tátil” texto e direção de Daniel Veronese; O orgulho da Rua Parnell - de Sebastian Barry, dirigida por Darson Ribeiro. “Testamento de Maria” escrito pelo irlandês Colm Tóibin, direção de Ron Daniels; “Psicotrópico” com o ator e diretor italiano Alvise Camozzi; Bianco su Bianco” da Compagnia Finzi Pasca; “Love, Love, Love” texto do inglês Mike Bartlett com o grupo 3 de teatro; “ Big Bang” direção de Andrea Arobba com a colaboração de Pablo Casacuberta.
É o relatório.
2. O projeto está formatado dentro dos padrões do Sistema Unificado Pró-Cultura e através de seu conteúdo e de seus anexos é possível compreender a proposta, assim como emitir parecer com relação a mesma. No corpo do projeto não estão contempladas medidas de acessibilidade, embora nos anexos conste currículo da empresa intérprete de libras para os espetáculos locais. Também não estão inclusos os Plano de Divulgação, Plano de Prevenção e Combate a Incêndios dos locais de apresentação e Demonstrativo de como serão operacionalizadas as iniciativas de democratização de acesso. Tais planejamentos deverão ser apresentados ao SAT antes do início da captação.
Consta entre os anexos a Carta de Anuência firmada por Luciano Alabarce, Secretário Municipal de Cultura, declarando estar ciente de que a empresa Primeira Fila Produções será a proponente deste projeto. Está implícito que, antes de firmar tal anuência, a Secretaria Municipal de Cultura cumpriu todos os ritos legais para tal anuência ficando exclusivamente sob sua responsabilidade.
Segundo a Lei 12.176, de 21 de dezembro de 2016, o município de Porto Alegre, em 2017, terá uma receita corrente e de capital somada a receitas intraorçamentárias no montante de R$ 6.949.142,987,00 (seis bilhões, novecentos e quarenta e nove milhões, cento e quarenta e dois mil, novecentos e oitenta e sete reais). Desse valor foi reservado R$ 65.417.882,00 (sessenta e cinco milhões, quatrocentos e dezessete mil, oitocentos e oitenta e dois reais) para a cultura, o que significa 0,94% do orçado para o Município. Na página 320 da LOA, foi previsto pelo gestor anterior e aprovado pelo Legislativo Municipal a aplicação financeira de R$ 674.000,00 (seiscentos e setenta e quatro mil reais) para o evento Porto Alegre em Cena.
A proposta foi apresentada ao Sistema Pró-Cultura sem previsão de participação financeira do Município, embora seja a Secretaria Municipal de Cultura componente da equipe principal e no corpo do projeto esteja explicito que a mesma é a realizadora do projeto. Através de diligência, o SAT solicitou a inclusão de contrapartida mínima ao projeto. Nesta fase, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre ofereceu “energia elétrica para os teatros da Prefeitura” no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) como contrapartida. Considerando que tais despesas não se darão exclusivamente em função do evento, foi rejeitada tal proposição que recebeu alteração com a previsão de investimento do Município no valor de R$ 84.720,00 (oitenta e quatro mil, setecentos e vinte reais) para locação de diárias para o teatro do SESI.
É inacreditável que, com um orçamento de quase sete bilhões de reais para este ano, o Município de Porto Alegre, através de sua Secretaria Municipal de Cultura, ofereça tamanho descompasso desrespeitoso para com um evento da importância e significância do “Porto Alegre em Cena”, repetindo o que já foi evidenciado em eventos da magnitude do Carnaval e da Semana Farroupilha, apenas para ficar entre os de maior repercussão, que atingem mais de um milhão de pessoas e que representam com força e vigor a cultura popular desta cidade.
Tentar transferir integralmente sua responsabilidade constitucional de investir na cultura para o Estado e a União é uma afronta a artistas, produtores culturais e o público, além de ignorar o previsto nos Planos Nacional e Estadual de Cultura aprovados pelos respectivos legislativos e, portanto, com força de lei. Arguir a existência de crise é inaceitável, já que a crise é tão ou mais grave no Estado e na União onde o Município busca seus recursos. Estranho, no mínimo, que a realizadora do evento não aporte o essencial previsto no orçamento municipal, porém, certamente, não se furtará em se fazer presente em todas as cerimônias e entrevistas atraindo para si os louros de tal realização.
Além disso, a Secretaria Municipal de Cultura disporá de 1.000 ingressos para o evento, com destinação não inserida no projeto, que pelo preço médio indicado pelo proponente, significará aproximadamente 40% do valor destinado pelo Município. Talvez ai, junto com outras desnecessárias doações, esteja a explicação para que tão rapidamente se esgotem os ingressos disponíveis para a venda, inviabilizando um aumento de arrecadação que permitiria a autosustentabilidade de um evento que já está em sua 24ª edição. Com bem dizia Cassilda Becker: “não peçam para dar o único que temos para vender”.
Ao se analisar o conjunto de informações constantes nos anexos, é possível verificar que o Porto Alegre em Cena investirá R$ 235.200,00 (duzentos e trinta e cinco mil e duzentos reais) nos custos com a contratação de equipe, R$ 282.500,00 (duzentos e oitenta e dois mil e quinhentos reais) com custos de pessoal de produção e outros R$ 229.100,00 (duzentos e vinte e nove mil e cem reais) com custos administrativos, somando R$ 766.800,00 (setecentos e sessenta e seis mil e oitocentos reais). Outros R$ 222.730,00 (duzentos e vinte e dois mil, setecentos e trinta reais) serão investidos em material gráfico, embora o projeto não apresente plano de divulgação. Enquanto isso, o mesmo evento destinará R$ 19.600,00 (dezenove mil e seiscentos reais) com oficinas e R$ 717.500,00 (setecentos e dezessete mil e quinhentos reais) com espetáculos, sua razão de existir.
Fica condicionada a recomendação deste projeto ao cumprimento do previsto no artigo 9º, Inciso primeiro, da Lei 6.533 de 24 de maio de 1978 que estabelece o direito do Artista a ter um Contrato de Trabalho visado por seu Sindicato.
Mas o projeto do “24º. Porto Alegre em Cena” é maior do que tais apontamentos e necessita ser viabilizado, porque este Festival é a porta aberta para que professores, atores, diretores, técnicos e o público se atualizem, sem sair da Cidade, com o que existe de mais diverso e contemporâneo nas artes cênicas através da criteriosa Curadoria de Virginia Maria Schabbach. A programação se mostra delicada, gentil e desafiante aos espectadores que serão conclamados a participar de um banquete, de sabores refinados, do fazer teatral.
Uma das características que faz o Porto Alegre em Cena especial para os que visitam os palcos da cidade é a existência dos “anjos” que acompanham e assessoram os elencos durante suas permanências por aqui. É através do olhar deles que a cidade e os teatros são desvendados. Por isso, cabe aqui uma homenagem à atriz e diretora Lucia Bendati, que por várias edições exerceu esta função no Em Cena. Lucinha deixou de ser anjo do Festival em 2015 para ser o anjo de todos os teatreiros. Que sua vibração sirva de inspiração a todos quantos participarem deste projeto.
O mês de setembro de Porto Alegre, segundo o que este projeto propõe, será um desfile do que há de mais inovador em cartaz pelos palcos do Rio Grande e do Brasil, alcançando destacados espetáculos internacionais. Uma iniciativa com esta abrangência está recheada de mérito, relevância e oportunidade, porque se o momento histórico vivido em Porto Alegre e no Brasil mostra ser duro, patético e triste, é imprescindível reforçar conquistas, preservar a significância transformadora da arte e oferecer perspectivas de que existem canais inquebrantáveis de comunicação e comunhão entre o artista e seu público.
3. Em conclusão, o projeto cultural “Porto Alegre em Cena – 24ª Edição” é recomendado para a Avaliação Coletiva em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 265.000,00 (duzentos e sessenta e cinco mil reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 04 de agosto de 2017.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 07 de agosto de 2017.
Presentes: 19 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes e Walter Galvani.
Abstenções: Rafael Pavan dos Passos.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 22/08/2017 e considerados prioritários.
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS