O projeto “DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA E OBRA DE LUIS FERNANDO Verissimo” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto “DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA E OBRA DE LUIS FERNANDO Verissimo”, habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Lazer e encaminhado a este Conselho, nos termos da legislação em vigor, refere-se à realização de um documentário de longa-metragem com duração de aproximadamente 120 minutos mostrando a trajetória do cronista, romancista, cartunista, roteirista e músico Luis Fernando Verissimo. Intelectual consagrado, dono de um estilo literário peculiar, Verissimo é admirado e reconhecido nacional e internacionalmente. O filme mostrará as múltiplas facetas do escritor, com imagens do arquivo pessoal de Verissimo, entrevistas com ele, amigos e parceiros literários. Serão explorados aspectos particulares de seu processo criativo e a relevância de sua produção. A exibição do filme na televisão, em cinemas e escolas mostrará sua vida e obra para diferentes públicos no país. O projeto é da área Audiovisual: produção de cinema em longa-metragem e é proposto por STRICHER COMUNICAÇÃO LTDA, CEPC nº 2223. Como responsável está a cineasta Luzimar Batista Stricher, que assina a direção geral e roteiro do documentário. O período de realização é de 18 meses. Integram a equipe principal do projeto o Sr. Alfredo Soares de Barros, com a edição e montagem do filme, a empresa Besouro Filmes Ltda, encarregada da direção de fotografia, e a Sr.ª Maria Nadir Hilbing como a contadora responsável. A proponente se apoia na versatilidade da biografia do documentado, Luis Fernando Verissimo, que dispensa apresentações. Segundo a proponente, “o documentário será uma homenagem a este escritor notável, que contará a sua história desde a infância até os 80 anos recém-completados [...] com linguagem simples e didática, o filme pretende sensibilizar o público para incentivar a leitura. Além disso, vai possibilitar um aprofundamento na obra de Verissimo e enriquecer o acervo de memória da cultura gaúcha e brasileira, sendo um legado para as próximas gerações”. Quanto à dimensão econômica, o projeto envolverá cerca de 50 colaboradores entre equipe de produção e finalização do documentário, fomentando a cadeia produtiva deste setor. Em relação aos aspectos de cidadania, em especial no que diz respeito às medidas de acessibilidade, o projeto em tela não traz nenhuma proposição. Portanto, este conselheiro, antes tarde do que nunca, faz coro à RESOLUÇÃO Nº 001/2014 do CEC/RS que “estabelece orientações sobre o tema acessibilidade, para análise de projetos que buscam incentivos pela LIC”, e define: “as seguintes orientações para a análise de projetos de incentivos culturais para financiamento conforme segue: Da Acessibilidade - Art. 1º. As propostas culturais encaminhadas ao Sistema Pró-Cultura/LIC-RS deverão contemplar medidas que garantam o acesso de pessoas com deficiência e pessoas idosas em locais onde se realizam atividades culturais ou espetáculos artísticos, sem prejuízo de outras garantias previstas em legislação específica.” [...] No que se destaca o Inciso II, alínea b) que prevê para projetos na área de Cinema “pelo menos uma sessão com audiodescrição em exibição pública e produzir uma matriz do filme com inclusão de legendas em LIBRAS para exibição na TVE; com ampla divulgação nas entidades representativas.” A mesma resolução estabelece ainda em seu Art. 2º. Para fins de cumprimento das medidas de acessibilidade acima determinadas, a proposta cultural apresentada ao Sistema Pró-Cultura RS, com vistas ao financiamento, poderá incluir tais custos nos respectivos orçamentos”, e Art. 3º. “O Conselho Estadual de Cultura/RS e a SEDAC, observada a legislação em vigor, acompanhará e fiscalizará as medidas de acessibilidade na forma dos arts. 1º e 2º desta resolução, e considerará o cumprimento das medidas apresentadas como quesito de avaliação da proposta cultural, devendo o proponente comprovar seu cumprimento na prestação de contas.” Como o orçamento não apresenta qualquer rubrica referente ao acima exposto, somos levados a considerar que a proponente, em tempo, observará esta necessidade, readequando os recursos do projeto, com o objetivo que a obra fílmica amplie ainda mais o seu caráter educativo e de democratização da cultura. O cinema é uma arte do grande público, porém é preciso enxergar e compreender que o “grande público”, ou seja, o povo brasileiro, é formado por uma imensa diversidade humana que não está restrita àqueles que ascendem socialmente e tem acesso às sofisticadas salas de projeção em shopping centers. Heitor Villa-Lobos define bem esta diversidade, que representa também o melhor exemplo do potencial que a nossa nação democrática pode almejar. O maestro, que chegou a reger concertos com coros de 30.000 crianças, definia que o “público é vertical, a massa é a horizontal, mas o povo brasileiro, este sim, é diagonal”. Nenhuma área cultural está desobrigada a não abordar esta questão da acessibilidade. O tema deve ganhar espaço em todas as linguagens artísticas. Ao me engajar nesta luta, ainda mais agora que a Secretaria de Cultura esta integrada ao Esporte e ao Lazer, gostaria de trazer um exemplo prático, o documentário “Capoeira Especial”, da série “O Poder do Esporte”, vinculado no canal aberto da TV Escola (Link: http://tvescola.mec.gov.br/tve/video?idItem=12065). Como podemos ver neste filme, a mãe do menino Diogo, que nasceu com parilisia cerebral, teve que aprender sozinha a como lidar com uma criança especial. Seu exemplo tem a força e a sabedoria das suas palavras, quando afirma frente à câmera sobre sua árdua realidade: “a gente aprende, tem que aprender”. Diante desta causa, tanto a produtora como este Conselho podem e devem desta aprender a incluir — e a incluir mais. À parte desta longa, mas necessária, observação, o projeto traz metodologia e cronograma detalhados. Entre as metas, além do filme propriamente dito, pretendem realizar um evento de lançamento, com exibição do documentário e logo após bate-papo com o escritor Luis Fernando Verissimo e a diretora Luzimar Stricher, tendo como assunto: “O Humor no Processo Criativo.” Ainda como contrapartida, oferecerão um curso em escola pública de Porto Alegre, com a equipe de produção, sobre “O que é um documentário?” (Projeto do Curso em anexo, com duração de 4 horas). O plano de distribuição inclui 100 cópias DVD/BLU-RAY a serem divididas entre a imprensa, formadores de opinão e ações de divulgação (35 exemplares), a proponente (20 exemplares), Luis Fernando Verissimo (20 exemplares), patrocinadores (10 exemplares), SEDAC (5 exemplares), IECINE (5 exemplares) e TVE (5 exemplares). Nos anexos é possível encontrar vasta documentação, que inclui cartas de anuências, retorno de interesse público, currículos, descrição das locações de filmagem, entre outros que atestam a seriedade e competência da proponente e sua equipe. A planilha de custos está coerente com orçamentos de projetos desta natureza, solicitando ao Sistema LIC/Pró-Cultura RS o valor de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) para sua execução.
É o relatório.
2. Os Ramil, os Fagundes, os Scliar, os Carpi e Nejar, os Nicolaiewsky, os Furtado, os Conte, os Prado-Bettiol, entre diversas outras famílias, são exemplos de verdadeiros clãs artísticos que constituem uma parcela significativa de personalidades, como autênticos patrimônios humanos e culturais do nosso estado. Luis Fernando Verissimo integra esta genealogia criativa rio-grandense que se projeta agora para compartilhar vida e obra com milhares de pessoas, das salas de cinema às escolas. Certa vez o professor Doutor em História da Arte, Armindo Trevisan, em um fórum de colegiados culturais, no Theatro São Pedro, sugeriu que o Rio Grande do Sul deveria instituir uma “cesta básica” da cultura, com a qual todas as pessoas pudessem desfrutar da mínima, mas preciosa, quantidade de livros, CDs e DVDs, bem como reproduções artísticas com o melhor da produção dos nossos principais artistas. Não é difícil de imaginar que entre os itens deste banquete cultural estaria o autor de Analista de Bagé, Ed Mort, A Velhinha de Taubaté, As Aventuras da Família Brasil, As Cobras e A Comédia da Vida Privada, todas obras literárias que lhe renderam grande reconhecimento público, entre os mais de 70 títulos de publicações diversas, como crônicas, romances, contos, poesia e literatura infanto-juvenil. A leitura da obra de Luis Fernando Verissimo e o seu currículo anexo permitem-nos afirmar que sua produção expande a presença e os modos de ser e pensar da literatura brasileira para um patamar contemporâneo em que a inteligência da sua linguagem e atualidade da sua narrativa podem ser compartilhadas por todos, e nisto reside, a meu ver, seu principal legado cultural.
Ainda sobre o autor, na opinião de Jaguar, "Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. Meu consolo — comparando meu artesanato de chistes e cartuns com sua fábrica — era que, enquanto eu rodo por aí com minha grande capacidade ociosa pelos bares da vida, na busca insaciável do prazer (B.I.P.), o campeão do humor trabalha como um mouro (se é que os mouros trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De manhã à noite, sempre com a placa ‘Homens Trabalhando’ pendurada no pescoço".
Nesta perspectiva, a proponente também parece determinada a colaborar com seu trabalho e arte com esta “cesta cultural” que, poeticamente, e livre de bairrismos, Trevisan imaginou, principalmente, para que nenhuma criança e adolescente em idade escolar no futuro possa sair de uma escola, seja pública ou privada, sem dizer que não viu, não ouviu, nem falou nada sobre os Verissimo e Quintana, Scliar, Iberê, Xico, Vasco, Elis, Lupicínio, Vitor Ramil, Giba Giba, Kraunus Sang e o Maestro Plestkaya, Furtado, Gerbase, Otto Guerra, Carmen Silva, José Lewgoy, Walmor Chagas, Sirmar Antunes, Zé da Terreira, entre outras intermináveis recomendações de expoentes da nossa cultura cujas vidas dedicadas à arte bem que poderiam servir de inspiração para a visionária produtora.
3. Em conclusão, o projeto “DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA E OBRA DE LUIS FERNANDO Verissimo”, pelo seu mérito, relevância e oportunidade, é recomendado para participar da Avaliação Coletiva do Sistema LIC, podendo vir a receber a importância de R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais).
Porto Alegre, 18 de julho de 2017.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 18 de julho de 2017.
Presentes: 19 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Élvio Pereira Vargas, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Rafael Pavan dos Passos, Luciano Fernandes, Lucas Frota Strey e Walter Galvani.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Luiz Carlos Sadowski da Silva, Plínio José Borges Mósca, Claudio Trarbach, Marco Aurélio Alves e Erika Hanssen Madaleno.
Abstenções: Marlise Nedel Machado.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 21/07/2017 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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