O projeto “PARTE CULTURAL DA SEMANA FARROUPILHA – O GRITO FORTE DA TRADIÇÃO GAÚCHA, 2017” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O produtor cultural Centro de Tradições Gaúchas O grito de Sepé, CEPC 5905, apresenta o projeto inscrito na área de Tradição e Folclore, com realização prevista para o período de 18 a 20 de setembro de 2018 na sede tradicionalista do CTG O Grito de Sepé em Entre Ijuis. Caroline Alpe Rossi terá a função de secretariar e divulgar o projeto; João Celeste Pereira Ramos será o coordenador cultural; Maycon Eduardo Batista Hunger será o agregado fiel/tesoureiro; e Moises D. Marczewski & Cia Ltda-ME (POLSKA Empreendimentos) será responsável pela coordenação administrativo-financeira e pelo gerenciamento e captação de recursos. O contador será Darlei José Perius. O projeto está orçado em R$ 44.207,07 (quarenta e quatro mil, duzentos e sete reais e sete centavos), que são solicitados integramente ao Pró-Cultura RS.
O proponente prevê a realização das seguintes ações: desfile em comemoração ao Dia do Gaúcho; celebração da Missa Crioula (adaptada na linguagem, ritmo, estilo e símbolos tradicionalistas gaúchos); apresentação de danças tradicionais com a Invernada Artística Herança Farroupilha do CTG Sentinelas do Caaró e a Invernada Artística do CTG Guerreiro das Missões; Invernadas Artísticas do CTG O Grito de Sepé (Dente de Leite, Mirim, Juvenil e Xiru); shows de música nativista gaúcha com Baitaca e Emerson Gottardo — este retratando em suas canções o companheirismo e a relação do missioneiro com as suas origens (a água, a terra e o chão).
Na programação consta o que o proponente chama de “processo educativo e de formação permanente”, alusivo às comemorações da Semana Farroupilha, oferecendo duas palestras: a primeira com o poeta, escritor e compositor Otávio Geraldo Reichert e a segunda com Valter Portalete, ambas norteadas pela temática farroupilha proposta para 2017.
Na programação também está inserido um espetáculo temático (teatro e dança) sem maiores detalhamentos, a exibição diária de filmes educativos sobre folclore, tradicionalismo, dança, origem do mate, indumentária, lendas gaúchas e grandes personalidades da Revolução Farroupilha.
O acesso será gratuito a todas as atividades, respeitando as medidas de acessibilidade.
O proponente afirma que “precisamos valorizar esse sentimento tradicionalista, mantendo-os vivos e representados nestes momentos marcantes. Não se trata aqui, tão somente de mais um evento tradicionalista, mas de uma motivação potencializadora, necessária e urgente, visto que forças ocultas arrancam as bombachas do pobre gaúcho, lhe introduzindo uma nova vestimenta e um novo modo de ser e agir. Precisa-se de atividades que nos deem oportunidade de viver as próprias tradições. Precisa-se de interação social. Este evento, voltado a cultura e a tradicionalismo, apresenta ações voltadas a formação do cidadão, do ser humano, seja na solidariedade ou na troca de experiências e conhecimentos”.
Entre os objetivos, há: promover o bom convívio social, tão típico do povo gaúcho, através de rodas de chimarrão, do preparo do churrasco e das refeições campeiras; propiciar o intercâmbio cultural para enriquecer o espírito de cordialidade e a troca de experiências entre as Invernadas locais e contratadas regionais; oportunizar o acompanhamento do Desfile à comunidade local, motivo de percepção do amor e respeito à nossa história e aos nossos heróis; promover a harmonia, a integração e o respeito evitando a projeção da vaidade e o personalismo entre os participantes; honrar, valorizar e propagar a força da cultura e do folclore da pampa gaúcha.
É o relatório.
2. O projeto está apresentado dentro dos padrões do Sistema Estadual de Financiamento Pró-Cultura e através de seus anexos é possível compreender a amplitude da proposta, assim como obter mais informações acerca de seus realizadores.
Em 2016, projeto similar, do mesmo proponente, foi recomendado pelo conselheiro relator e priorizado em avaliação coletiva pelo Pleno do Conselho Estadual de Cultura, porém em data posterior a previsão de realização, o que inviabilizou sua realização.
Percebe-se neste projeto a existência de um misto de um discurso bem aplicado, evidenciando nobres objetivos que merecem ser valorizados ao tempo em que em suas ações não se percebe muito além de atividades artísticas, o que, por si só, não retira sua oportunidade, mas seu mérito seria ainda mais ampliado caso o projeto apresentasse de que forma pensa em trabalhar questões tão caras e necessárias como esta afirmada nos objetivos: “Promover a harmonia, a integração e o respeito evitando a projeção da vaidade e o personalismo entre os participantes”.
Aqui cabe uma reflexão: muitas vezes aquilo que se escreve nos projetos, principalmente em seus objetivos, não alcança conexão com sua programação. Parece que ao descrever aquilo que pensamos realizar, preocupamo-nos em agradar aos leitores sem lembrar que depois deveremos colocar em atividade aquelas ideias. Um projeto nada mais é do que o planejamento de uma ação, e, sendo assim, resta a este relator alguns questionamentos: Qual atividade irá despertar a “harmonia” — mencionada nos objetivos — com os festejos de uma guerra? Iremos evidenciar as contradições daquele período da história chamado de farrapo a fim de instigar a harmonia nos dias atuais? Iremos, finalmente, dar voz e atenção ao sucedido com os lanceiros negros? Qual ação será pautada pela ideia de “integração”? De que forma evitaremos a projeção da “vaidade” — também referida nos objetivos —, se ao longo do projeto vimos apresentado um discurso carregado de vaidade sobre as “grandezas” desta cidade ou do estado? E, por último, de que forma pensa o proponente evitar o “personalismo”, se a palestra que tratará sobre os ditos “heróis” farrapos apresentará um conjunto de personas daquele período?
Digo isso porque o proponente criou uma cilada para seu próprio projeto. Este relator não iria mencionar tais contradições, se não fossem elas estampadas entre o que há de mais importante, a meu ver, em um planejamento ou projeto, que são seus objetivos e a forma como irão tornar-se evidentes e ao alcance do público.
Ao escrever um projeto, convém sempre pensar que alguém irá ler seu conteúdo e, mais do que isso, caso o mesmo seja aprovado, deverá ser executado.
A apresentação do projeto menciona a exibição de filmes que foram esquecidos no momento da programação, assim como ficou apenas a menção de um espetáculo de dança e teatro, faltando contar como será esta meritória iniciativa. No item 7.1 – objetivo geral, o proponente conclui afirmando: “com acesso gratuito a toda população”. O relator questiona: inclusive os dois jantares inseridos na programação e o churrasco mencionado na metodologia serão gratuitos? “Nos dias do evento, também teremos presente a gastronomia gaúcha, desde uma carne assada, a um chimarrão bem cevado numa roda de amigos, com tertúlia, prosas e versos” Se assim não for, tais atividades devem ser retiradas da programação financiada com os recursos do Pró-Cultura. porque a oportunidade deste projeto reside na gratuidade das ações.
Neste momento, cabe deixar de lado algumas interrogações, prevendo uma cobrança mais rígida para uma próxima ação do proponente, que já terá mais familiaridade com este Sistema.
Hoje nos toca festejar a existência de iniciativas como esta que, com orçamento dentro dos padrões de razoabilidade, abrem as portas, gratuitamente, para que comunidades tão comumente esquecidas nos grandes projetos que passam por este Conselho.
Neste caso, deixarei de lado todas as inquietações, detendo-me a pensar na população de Entre Ijuis, que merece a oportunidade de receber, gratuitamente, ações culturais e artísticas que lhe deem um estimulo para seguir suas trajetórias; neste caso, penso nos shows e no quanto ficamos mais solidários quando entendemos a harmonia entre a melodia e a poesia contida nos versos que valoram as raízes de quem semeou, plantou e colheu, e que, um dia, veste sua roupa de domingo para bailar com seu bem querer;
Neste caso, convém deixar de lado as inquietações provocadas pelo conteúdo da narrativa e tentar imaginar a alegria de quem vai participar de cada ação exposta nas páginas do projeto.
Cabe agora ansiar que tudo o que foi projetado efetivamente aconteça e que a logotipia da Municipalidade — que não aportou recursos para o projeto — esteja ausente na divulgação da iniciativa; que em todas as ações estejam presentes as preocupações com a prevenção a incêndios; que as questões ambientais sejam consideradas para que este torrão gaúcho não seja destruído pelos descuidos tão amiúde praticados; que para além da gratuidade, pensemos na democratização no acesso a esta programação, convidando projetos sociais, integrantes do Bolsa Família, jovens de todas as classes sociais e integrantes das várias etnias — principalmente aquelas que foram vitimadas na Guerra dos Farrapos — para que juntos estejam nestes festejos de 20 de setembro.
3. Em conclusão, o projeto “Parte Cultural da Semana Farroupilha – O Grito Forte da Tradição Gaúcha, 2017” é recomendado para a avaliação coletiva considerando seu mérito, relevância e oportunidade, podendo captar recursos do Sistema Unificado Pró-Cultura RS até o limite de R$ 44.207,07 (quarenta e quatro mil, duzentos e sete reais e sete centavos).
Porto Alegre, 05 de julho de 2017.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10 horas do dia 05 de julho de 2017.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Vinicius Vieira, André Venzon e Walter Galvani.
Abstenções: Rafael Pavan dos Passos.
Ausentes no Momento da Votação: Ruben Francisco Oliveira.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 21/07/2017 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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