Processo nº 459-1100/17-2
Parecer nº 135/2017 CEC/RS
O projeto cultural “INCLUSÃO EM CENA – SEMANA DA CRIANÇA - 2017” é recomendado para avaliação coletiva.
1. O projeto cultural Inclusão Em Cena – Semana da Criança – 2017, inscrito na área de: artes cênicas - teatro, está proposto pela Primeira Fila Produções, com CEPC 5679, endereço na Rua Fernandes Vieira 317. apto. 203, bairro Bom Fim, Porto Alegre. A responsável legal é a Sra. Letícia dos Santos Vieira, que exerce a função de proponente e coordenadora da produção artística e financeira. O recurso solicitado ao Sistema LIC-RS é no valor de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais).
A equipe principal é composta por Primeira Fila Produções Eireli (pessoa física), na função de proponente e coordenadora da produção administrativa; pela Sra. Virginia Maria Schabbach (pessoa física) na coordenação geral e Curadoria; e pelo Sr. Leonardo Melleu Duarte como contador.
O período da realização do projeto é de 30 de agosto a 15 de outubro de 2017, e o mesmo pretende apresentar 17 (dezessete) espetáculos nas 17 (dezessete) regiões administrativas de Porto Alegre durante a semana da criança; Todas as apresentações serão gratuitas.
Entre os locais previstos para as apresentações constam: Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Monte Cristo, Escola Nossa Senhora do Carmo, Centro Social Marista no bairro Rubem Berta, Escola de Ensino Fundamental Anísio Teixeira, Escola de Ensino Fundamental Afonso Guerreiro Lima na Lomba do Pinheiro, Escola Municipal José Loureiro da Silva na Vila Cruzeiro, Escola de Ensino Básico Liberato Salzano Vieira da Cunha no bairro Sarandi, nas praças da 1ª região – Humaitá e Navegantes, Parque Mascarenhas de Moraes, 13ª região - Praça Inácio Antonio da Silva em Belém Novo, 16ª região- Parque Farroupilha ou Parque da Redenção e 17ª região- Praça Salomão Pires de Abraão na Ilha da Pintada. Os locais mencionados contam com espaços reservados a cadeirantes, equipados com rampas de acesso e assistentes de produção orientados para essa viabilização específica.
Entre os espetáculos selecionados pela curadoria estão: “A mulher gigante” do Grupo Cuidado que Mancha, a opereta infantil “Pé de Pilão” do Grupo A Turma do Pé Quente, “Orquestra de Brinquedos”, espetáculo de rua “O Negrinho do Pastoreio” do Grupo Oigalê, “As Gineteadas do Valente Toninho Corre Mundo”com o Grupo Tia (Teatro Ideia Ação), “A Arca de Noé” com o Grupo Casa de Teatro de Porto Alegre. Os demais espetáculos ainda estão no processo das tratativas.
A direção do projeto está nas mãos da produtora cultural Letícia dos Santos Vieira e da diretora teatral e atriz e professora de teatro Virginia Maria Schabbach.
O projeto prevê a apresentação dos 17 (dezessete) espetáculos e, além disso, oferece 17 (dezessete) rodas de conversa/bate-papo com o público após as apresentações. As crianças serão solicitadas a verbalizarem as suas impressões sobre as apresentações e tais depoimentos serão gravados e postados na fanpage do projeto.
O projeto tem principalmente como público alvo as crianças na faixa etária em fase pré-escolar e escolar, e visa atendê-las em seus bairros, que, por serem os mencionados bairros descentralizados, sofrem com a escassez de oferta cultural.
Simultaneamente às apresentações e às rodas de conversa após as apresentações dos espetáculos, será oferecido um programa de capacitação para a qualificação de pessoal de apoio para a montagem de palcos e equipamentos de iluminação e de sonorização, através de um conteúdo programático que viabilizará esse conhecimento na área da cenotécnica, segundo conteúdo programático anexado no projeto. Para estes jovens, maiores de idade, moradores dos bairros supracitados, será oferecido o curso de capacitação nos meses de setembro e outubro. São jovens que terão uma alavanca propiciada pelo conhecimento para entrar no mercado de trabalho do universo da produção cênica.
No quesito de inclusão na cena através das rodas de conversa entre as crianças e os artistas após cada uma das apresentações, haverá a presença de um mediador, um arte- educador que estimulará as crianças a fazerem perguntas sobre o conteúdo e o que ocorre nos bastidores de cada peça. No final da roda de bate-papo/conversa, o público infantil será convidado a escrever e desenhar suas impressões sobre o que significou assistir àquele espetáculo, com o fornecimento de um material didático para ser colorido pelo público alvo. O material, uma vez recolhido e organizado, será disponibilizado na fanpage do projeto.
A Dimensão econômica do projeto se dá pelo movimento do mercado cultural, fomentando os setores ligados a ele, gerando empregos diretos e indiretos. Também existe na dimensão econômica do projeto, a expectativa do mesmo tornar-se mais robusto através de Leis de Incentivo à Cultura, que estimularão as empresas privadas a participar do processo.
A Dimensão cidadã do projeto passa pela formação de nossa sociedade, oferecendo-lhe argumentos consistentes para o seu fortalecimento humano e reflexivo, não deixando de abordar a socialização da cultura e a democratização do acesso a atividades que contribuam para o desenvolvimento pleno da população.
Nos Objetivos do projeto, mencionam-se: as apresentações dos 17 (dezessete) espetáculos; a realização das 17 (dezessete) rodas de conversa com a estimulação para o público escrever e desenhar sobre as peças assistidas com o recolhimento e organização desse material e sua postagem na fanpage; e a realização de um curso de capacitação para jovens na área da cenotécnica.
Como Metas, constam: 17 (dezessete) apresentações de teatro para crianças nas regiões administrativas da cidade; valorizar atrações locais de cada uma dessas regiões; apresentação e um espetáculo local e de um espetáculo nacional no Parque Farroupilha; realização das 17 (dezessete) rodas de bate-papo/conversa após as apresentações das peças e a ação formativa para jovens na área da cenotécnica, que é nomeada pela proponente como Caixa Cênica.
Na Metodologia, menciona-se que após a aprovação do projeto com seus trâmites legais, começam as etapas de trabalho, como captação, definição final da programação, conclusão da Curadoria em relação aos demais espetáculos, realização do programa de formação de jovens na área da cenotécnica, também conhecido como Caixa Cênica, conclusão das definições dos locais de realização das atividades, confecção de material gráfico, contratação dos grupos artísticos, técnicos, comunicação nos bairros, apresentação dos espetáculos e das rodas de bate papo com mediação, recolhimento do material de colorir, fotos e registros, desmontagem e transporte dos cenários, prestação de contas e relatório final.
É o relatório.
2. O projeto se justifica pela sua dimensão cidadã, pela oportunidade e necessidade, por suas características de viabilidade e pela urgência que nossa República padece como um todo, e o Rio Grande do Sul de maneira mais específica, com a ausência de projetos culturais que afirmam a necessidade do Brasil de olhar para todos com o mesmo tamanho de compreensão tanto no sentido da qualidade, como no sentido da quantidade.
O projeto que temos em mãos menciona na sua página 2, quando fala da Dimensão simbólica, item 6.1, que levará a arte e as reflexões sobre ela para onde o povo está. Sabemos que não começou hoje o pérfido processo de afastamento da população de baixa renda das salas de espetáculo.
Tal afastamento se dá pelo desmazelo referente à barreira econômica, aos preços dos ingressos e à ausência de uma política pública de valores sociais, como os horários de circulação dos veículos do transporte público — dos quais muito poucos tem acesso para as pessoas deficientes — e a instalação das paradas de ônibus em locais de difícil ou de perigoso acesso.
Notamos ainda que o pérfido processo de afastamento do público de maneira geral em relação à cultura também se dá pela pobreza do produto cultural que é levado para os bairros de periferia das cidades grandes, de todos os rincões deste vasto, grande e rico país chamado Brasil. Vasto, grande e rico para quem? Porém o tema da mobilidade urbana e de como o poder público vem desprezando o urbanismo não é o objetivo da análise do projeto em questão. O que não nos impede de em uma outra oportunidade nos debruçarmos sobre as dificuldades do cidadão em se locomover em busca da cultura nas cidades.
Já perdemos a conta do número de vezes em que vimos ser encaminhados para os chamados “bairros delicados” apenas os espetáculos de menor brilho artístico, como se as pessoas moradoras desses bairros não merecessem também participar da arte de elevada qualidade.
Partindo da premissa que o projeto presente tem como principal objetivo o encontro entre artistas que pensam e constroem arte teatral para crianças e seu público agregado — mães, pais, professores, vizinhos, funcionários das escolas, demais parentes e amigos, moradores das regiões descentralizadas —, tomamos a iniciativa de baixar o projeto para diligencias, e cá as temos em mãos.
Nossa 1ª pergunta foi o nome dos 17 (dezessete) espetáculos e das 17 (dezessete) regiões da cidade com a necessária carta de anuência fornecida pelos gestores destes espaços e com a confirmação sobre as normas de acessibilidade e normas de PPCI. Os documentos comprobatórios foram enviados. Não de todos os locais, porque ainda há trâmites que somente serão desenvolvidos a partir da aprovação do projeto. Em relação às praças públicas, por exemplo, a Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre emitiu o termo de ciência e as datas serão confirmadas após os encaminhamentos da pré-produção do projeto. Alguns lugares pretendidos não são de domínio da esfera pública, como estacionamentos de instituições ou pátios de entidades, portanto são acordos ainda não firmados. Nossa pergunta foi contemplada com o recebimento da informação dos já mencionados primeiros 6 (seis) espetáculos de efetivo valor artístico consagrado, todos com suas cartas de anuência e valor previsto para o cachê informado na planilha de custos. Fomos informados que existe a previsão de também se incluir espetáculos infantis agora estreantes. Solicitamos que cada uma das escolas, ou que a maioria das escolas públicas que receberão espetáculos, fornecessem também a carta de confirmação. Quando vimos que o primeiro documento relacionado na lista era um documento expedido apenas pela Secretaria Municipal de Educação, ficamos preocupados. As senhoras e os senhores sabem — nós sabemos — como é fácil para as autoridades, municipais, estaduais e federais, em todas as esferas, e, inclusive, em todos os poderes, verbalizarem ou expedirem documentos com promessas ou certezas, como se o Rei Sol fossem. Nem Louis XIV de França chegaria tão longe.
Por se tratar de um projeto que tem a sua parte das apresentações teatrais ocorrendo na semana da criança, e por se tratar de um país chamado Brasil, com as suas redes da chamada televisão aberta martelando comerciais sobre o dia da criança, a mesma lenga-lenga sendo repetida nos programas de auditório, criança pra cá, criança pra lá, felicidade aqui, ali e acolá e por sabermos como é a realidade das enfermarias e das hospitalizações nas alas de pediatria dos sistemas de saúde relacionados ao universo do SUS (Sistema Único de Saúde), sugerimos, e todos nós aqui sabemos que sugestões podem ou não ser acatadas, portanto, apenas sugerimos, ao proponente que um desses 17 espetáculos infantis fosse adaptado para o formato de esquetes, de modo que o possibilitasse ser apresentado dentro de hospitais que estão relacionados com as alas de pediatria dos hospitais que estão vinculados ao SUS. Não fizemos mais do que obedecer a carta de intenções do serviço de cuidados médicos que nossa pátria tem assinada na Organização Mundial da Saúde, em Genebra, na Suíça. Nossa sugestão ia ao encontro das as alas de pediatria do Grupo Hospitalar Conceição, Hospital das Clínicas, Hospital Santo Antonio da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica, especialmente nos 5º e 6º andares da internação pediátrica. A resposta encantou os nossos olhos ao ser lida. Um espetáculo passará pela Curadoria especialmente para esse fim, um pré-agendamento será feito com as instituições, os elencos serão acompanhados por um profissional da enfermagem e as crianças serão preparadas para receber a obra de arte.
Sabemos que muitas são as ongs e as entidades filantrópicas que oferecem apresentações para os hospitais públicos em datas especiais, como dia das crianças, dia das mães, Páscoa e Natal e etc, mas sempre espetáculos dirigidos e restritos ao tema da caridade, que muitas vezes transbordam de boa vontade, mas carecem de aprimoramento teatral no conteúdo artístico ou na forma pela qual se dá esse conteúdo. No caso do projeto Inclusão em Cena, trata-se de um espetáculo de arte, desses que poderia estrear com bilheteria pagante em qualquer sala de teatro do país.
Entretanto o nosso ilustre conselho não é o Conselho de Saúde, então achamos por bem buscar dentro do projeto apresentado pelo proponente mais informações que o ponha merecedor da captação que pretendem.
Muitos dos 17 (dezessete) espetáculos infantis incluem além de teatro, a dança e a música ao vivo. A união de diversas formas de arte estarão presentes e a excelência dos trabalhos servirá como um norteador.
Olhando pela relação que existirá dos mais de cem artistas envolvidos no projeto, são os belos exemplos que muitas vezes procuramos seguir quando estamos começando as nossas carreiras profissionais — refiro-me aos artistas que entram no mercado de trabalho em busca de oportunidades. São mais de cem artistas envolvidos, técnicos de artes cênicas, produtores, gestores e arte-educadores, e pela leitura atenta que fizemos das fichas técnicas dos espetáculos que já passaram pelo processo de Curadoria, notamos que existe um equilíbrio na origem profissional dos mencionados artistas. Constatamos que nos elencos estão atores oriundos das salas de aula das instituições superiores de ensino das artes cênicas, os chamados conservatórios de arte dramática, ou simplesmente chamados de Academia. Entre eles estão os que são oriundos do Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os que são oriundos do Bacharelado de teatro da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), filial de Montenegro, e os artistas que construíram suas carreiras fora das salas de aula das Academias. O festival Inclusão em Cena teve a sabedoria de identificar e de reunir artistas de todas essas partes componentes do processo cultural.
Provavelmente a maior pérola do projeto Inclusão em Cena 2017 é objetivar o encontro entre artistas que pensam e constroem espetáculos para as crianças, sendo que tais espetáculos serão levados pelos seus proponentes para atingir as crianças das regiões descentralizadas, desfavorecidas economicamente, educacionalmente, urbanisticamente, oferecendo de forma democrática e acessível o teatro formador de plateia e também criador de cidadania e de afeto.
3. Em conclusão, o projeto “Inclusão em Cena - Semana da Criança - 2017” é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 228.277,00 (duzentos e vinte e oito mil, duzentos e setenta e sete reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 12 de junho de 2017.
Plínio Mósca
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 12 de junho de 2017.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Marco Aurélio Alves, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Vinicius Vieira, Lucas Frota Strey, André Venzon e Walter Galvani.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 29/06/2017 e considerados prioritários.
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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