Processo nº 2470-1100/17-4
Parecer nº 034/2018 CEC/RS
O projeto “FESTIVAL DA CULTURA MEDIEVAL – 1ª EDIÇÃO” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. Apresentado pelo produtor cultural 6 PRO EVENTOS EMPRESARIAIS LTDA., CEPC 4175, aqui representado por Rodrigo Vargas Machado, o projeto, da área de artes integradas, tem por objetivo a realização da 1ª edição do Festival da Cultura Medieval, em Porto Alegre/RS, no Parque Pontal (antigo Estaleiro Só), nos dias 05 e 06/05/2018. Além do produtor do evento e coordenador geral do projeto, compõem a equipe principal: Grupo Bando Celta, CNPJ-27.338.871/0001-76, responsável pela direção artística; Efexis Marketing e Eventos Ltda., CNPJ-05.075.277/0001-05, com a função de assistentes de produção, coordenador de produção, técnico de som, técnico de iluminação, produtor de acessibilidade, produtor de logística e captação de recursos; Portal Produções, CNPJ-91.942.110/0001-28, que atua como produtor executivo e coordenador administrativo-financeiro; e Francisco Hypólito da Silveira, CRC-30315, contador. Sendo o objetivo geral do projeto a realização de um festival de cultura medieval, com apresentações artísticas musicais, de dança e de teatro, oficinas e palestra, o proponente, na apresentação do projeto, traça um panorama do ambiente sociocultural do período histórico conhecido como Idade Média, pinçando alguns aspectos que mais se relacionam com o evento aqui proposto e que são parcialmente descritos a seguir:
Entre os séculos V e XV se desenvolveram movimentos artísticos como o romântico, o gótico e a música celta. A cultura medieval é largamente retratada em séries de TV, filmes, livros e até mesmo em jogos eletrônicos, uma época de muito misticismo e magia, que encanta e desperta a curiosidade de todas as pessoas. (...) Os espetáculos contemplam a produção de Música, Teatro e Dança propondo estilos e linguagens que abordam e representam a diversidade e os talentos no campo das artes do município e do estado, todos voltados para a temática da idade média. A programação cultural não se limitará a um palco, mas acontecerá em todo o espaço, em praticáveis espalhados, com intervenções de trupes teatrais, músicos e grupos de danças, que a qualquer momento poderão fazer estas intervenções, em meio ao público presente. Além das atrações citadas teremos oficinas de tecelagem, exposição de réplicas de instrumentos musicais, utensílios e armas utilizadas nas grandes cruzadas da época, encenações de lutas, e palestras sobre misticismo, também teremos demonstrações de tecelagem e de cutelaria com ferreiros a caráter. Serão ao todo 6 atrações musicais, 6 de danças, 6 intervenções teatrais, 5 exposições, 4 oficinas, e 2 palestras.
Continua o proponente, na justificativa do projeto:
(No mundo feudal) os mosteiros e as abadias tornaram-se um dos principais centros de produção cultural. Na Idade Média, assim como na Antiguidade, eram poucas as pessoas que sabiam ler e escrever. A maior parte da leitura era feita em voz alta para um grupo de ouvintes, como nas missas. Por isso, os textos eram todos preparados para serem lidos em público, com imagens fortes e teatralizadas. As pessoas mais instruídas pertenciam a Igreja, que controlava grande parte das atividades artísticas, literárias e intelectuais da época. O controle da leitura e da escrita era uma forma da Igreja manter seu poder, e de impedir que as pessoas pensassem diferentemente de seus dogmas. As catedrais também foram importantes centros de produção e preservação cultural. Com o passar dos anos a história mostrou a importância desta época, foi quando inventaram o moinho, os óculos o relógio, as primeiras universidades começaram a aparecer e a medicina conquistou avanços importantes com o surgimento do humanismo.
Quanto à dimensão econômica do projeto, o proponente enfatiza o fato de o projeto oportunizar emprego e renda para artistas, técnicos e demais envolvidos, dentro da perspectiva do processo de economia criativa, sendo todos os profissionais contratados residentes no estado. Ainda na justificativa do projeto, na dimensão cidadã, o proponente afirma que espetáculos cênicos e musicais de qualidade serão oferecidos gratuitamente à população e que medidas de acessibilidade e de democratização do acesso estão contempladas. Com referência à acessibilidade, cita interpretação em libras, legendagem de vídeos disponibilizados na internet, programas das atividades do projeto em braile, espaços reservados e identificados para pessoas com necessidades especiais e para idosos; banheiros químicos devidamente adaptados para pessoas com deficiência, rampas de acesso com corrimão. Quanto à democratização do acesso, cita convites específicos para instituições ou associações que tenham por finalidade atender camadas menos assistidas da população e com menor poder aquisitivo; oferecer toda a programação prevista sem cobrança de ingresso; disponibilização na internet de registros audiovisuais dos espetáculos e demais atividades do projeto; permitir a captação de imagens das atividades e de espetáculos e autorizar sua veiculação por redes públicas de televisão. Quanto ao impacto ambiental, o proponente apresenta como medidas preventivas de redução o registro em fotografia do local antes da montagem do evento para posteriormente deixá-lo nas condições anteriores; limpeza dos locais por equipe especializada antes e depois das montagens e desmontagens das estruturas físicas; colocação de lixeiras seletivas devidamente identificadas; ponto de recolhimento de lixo eletrônico, entre outras medidas. A programação do evento inicia às 15h do dia 5/05 (sábado) e segue no domingo, sendo o encerramento em ambos os dias antes das 22h. São os seguintes os grupos artísticos que integram a programação: MÚSICA – Bando Celta (RS); Tuatha De Dannan (MG); Taberna Folk (SP); Chief O’Neill (RJ); Irish Fellas (RS); Bandinha Di Dá Dó (RS); DANÇA E TEATRO – Teatro de Bonecos Cia. Caixa de Elefante (RS); Dança Tribal GrupoZahiraRazi (RS); Dança Celta Grupo Arallec’h (RS); Grupo Fire Lips (RS); Grupo InspirArte (RS); Grupo Nômade – Teatro (RS); O Homem Banda - Mauro Bruzza (RS). LUTAS E TORNEIOS – Jairo Kaster Swordplay (RS); Armas Antigas Grupo de Arquerismo Tresko (RS); SWU Luta Livre; e Combate Medieval. OFICINAS – Dança Circular-Patricia Preiss; Carol Costa-Misticismo e Religião; Cutelaria-Área 51 Custom Works; Fantasia Medieval na Literatura-Grupo coletivo de escritores; Tecelagem, e Biblioteca-Livros Históricos. ATRAÇÕES CONTÍNUAS – Hayabusa falcoaria, e a trupe Anões Sinaleiros e Bobo da Corte. O projeto, habilitado pela Sedactel, foi encaminhado ao CEC/RS em 26/12/17 e distribuído para análise do mérito em 08/01/18. Com valor orçado em R$ 239.742,00 a ser integralmente financiado através do Sistema Pró-cultura, apresenta os seguintes valores em sua planilha de custos: Produção/Execução – R$ 194.902,00; Administração – R$ 24.700,00; Divulgação – R$ 12.240,00; e Taxas/Imp./Seguros – R$ 7.900,00.
É o relatório.
2. O proponente apresenta um projeto com objetivo claramente identificado e informações que permitem analisar o seu mérito cultural. Trata-se de um evento com ênfase na música, dança e cena, tendo como roupagem e temática a cultura medieval. Como tal, uma proposta diferenciada, com uma ação artístico-cultural que privilegia estilos diferentes de representações artísticas não tão frequentemente oferecidas ao público e impregnadas de componentes histórico-culturais relevantes. No caso presente, é focado e sobressai o gênero de música celta, um estilo popular de representação musical de época na Irlanda, Portugal, Escócia, País de Gales, Bretanha, entre outros, muito praticada no período medieval e que se utilizava de danças tradicionais e de improvisos de trovadores, contando com ritmos e instrumentos musicais igualmente característicos, como flautas e rabecas. É sem dúvida interessante e válida a ideia da utilização desta temática para a construção de um espetáculo com tal conteúdo, muito divulgado na área do cinema, mas nem tanto em outras formas de representação artística, como a deste projeto. O que igualmente confere mérito e conteúdo ao projeto é a qualificação dos conjuntos artísticos que compõem a programação, a exemplo do conceituado grupo Bando Celta, que alia literatura, dança e teatro à música e que traz músicas brasileiras em seu repertório, enfocando a influência da música celta em determinados gêneros da nossa música, tema este sobejamente abordado em estudos e teses acadêmicas. Este grupo artístico, o Bando Celta, utiliza, além da voz, os instrumentos mandola, banjo, violão, gaita de foles, violino e flautas. O mesmo vale em relação aos demais grupos musicais elencados, dos quais seguem resenhas apresentadas no projeto. Tuatha De Dannan, de Minas Gerais, apresenta folk metal com melodias medievais unidas com o poder do heavy metal; Taberna Folk, de São Paulo, formada no ano de 2008 d.C., resgata músicas da velha Europa, com sonoridades e ritmos de diversas épocas e países, com o principal objetivo de trazer para os tempos de hoje formas de diversão, o clima e a alegria das antigas tabernas; Chief O’Neill, do Rio de Janeiro, apresenta uma proposta dinâmica e um grupo que conta com instrumentos típicos da música celta tais como o banjo, bodhrán (percussão), whistles (flautas), bandolim e a autêntica gaita de fole irlandesa e, tido como um novo recurso na música irlandesa no Brasil, a adição de um teclado com possibilidades infindáveis; Irish Fellas, de Porto Alegre, apresentam temas típicos, cuja sonoridade remete ao cotidiano dos irlandeses, seus costumes, hábitos e traços; Bandinha Di Dá Dó, de Porto Alegre, apresenta show inédito e irreverente que, regido por palhaços, vira um espetáculo e, acompanhado pelo público, transforma-se em uma verdadeira festa. Já muito conhecida pelo público, esta performática banda dos palhaços Cotoco, Teimoso Teimosia, Invisível e Zé Docinho é formada pelos músicos Mauro Bruzza (acordeão e vocal), Thiago Ritter (baixo), Gabriel Grillo (guitarra) e Paulo Zé Barcellos (bateria), todos artistas de currículo em trilhas sonoras para teatro, circo e apresentações em diversas cidades do Brasil, América Latina e Europa. Por sua vez, os grupos de dança e teatro são igualmente referenciais: Teatro de Bonecos – Companhia Caixa de Elefante, de Porto Alegre, uma das nossas companhias de teatro de bonecos mais atuantes, premiadas e presentes no país e no exterior, valoriza sobremaneira a arte cênica do teatro de bonecos, muito popular nas feiras medievais; Dança Tribal – Grupo Zahira Razi, de Porto Alegre, trupo que se destaca por sua versatilidade entre os estilos, abrangendo conceitos filosóficos e místicos em suas criações dentro da dança tribal, que é um estilo recente em que a proposta era buscar a origem da dança oriental, encontrando a expressão nas tribos nômades do oriente médio. Funde elementos de diversas danças étnicas e expressões cênicas com o propósito de uma linguagem corporal universal, encontrando elementos comuns a partir de suas origens em uma leitura contemporânea; Dança Celta – Grupo Arallec’h (‘estrangeiro’, na língua celta bretã), de Porto Alegre, formado em 2013, após uma estada nas regiões celtas da Europa, recolhendo as danças ainda existentes; Grupo Fire Lips (dança), é um projeto criado por Naamah Nádia e Jaqueline Martínez que se dedica à arte da dança e sua relação com o fogo; Grupo InspirArte, de Bagé/RS, virá para apresentar um espetáculo de dança que remete a tempos medievais, com performances teatrais que mexem com nossos sentidos; Grupo Nômade (teatro), de Porto Alegre, criado em 1998 por Gisela Rodriguez com o intuito de desenvolver e produzir espetáculos teatrais com foco na pesquisa de um teatro antropológico com bases em Eugenio Barba, nos ensinamentos de Grotowski e Meyerhold sobre a mecânica do corpo e a expressão cênica do ator, e na linha do teatro da crueldade de Antonin Artaud. O grupo tem por hábito fazer exaustiva pesquisa antes de estrear um espetáculo e seu elenco passa por diversas etapas de apropriação da obra; Mauro Bruzza – O Homem Banda, de Porto Alegre, conhecido artista de rua de grande qualificação e conhecido personagem que carrega consigo uma parafernalha de instrumentos (chocalhos, apitos, gaita de boca, acordeon, bumbo, pratos e tarol), tocando tudo isso enquanto canta e dança; Grupos de Lutas e Torneios: Jairo Kaster Swordplay vem de Pelotas/RS com a proposta de oferecer oficinas nas quais os participantes possam duelar, dois de cada vez, o vencedor permanecendo para o próximo duelo, assim tomando contato com combates com espada e escudo. Swordplay é o nome dado ao esporte que simula uma batalha entre combatentes equipados com réplicas de espadas ou instrumentos de combate revestidos com espuma para garantir a segurança dos participantes; Grupo de Arquerismo Tresko – Armas Antigas, de Três Coroas/RS: poucos esportes se ligam tão estritamente à história da humanidade como o arco e flecha, ou tiro com arco, arma tradicional durante séculos para a caça e a guerra. A proposta do Tresko para este evento é, através de oficina, apresentar dois guerreiros destemidos — na verdade, professores de história — para contarem a origem de diversas armas medievais. Ainda, os grupos SWU Luta Livre e Combate Medieval SCAM, que pratica o combate medieval de forma esportiva. Armas e armaduras são fabricadas artesanalmente pela própria equipe. Oficinas: Dança Circular, Patrícia Preiss – as danças circulares são essencialmente danças coletivas que trazem em seu repertório danças de diversos povos e também novas coreografias. Esta dança nos conta segredos dos povos e nossos na medida em que nos damos as mãos e respiramos juntos. O homem primitivo dançava em todas as ocasiões: sinônimo de vida em seus aspectos essenciais, dançar era uma ação espontânea, que integrava o seu dia a dia. Através das danças e cantos, o povo aprendia a história dos seus antepassados, seus símbolos, ritmos e arquétipos. Esta sabedoria permaneceu através do tempo e hoje nas danças circulares nos conectam com a memória destes povos, suas tradições e costumes. Ainda nas oficinas, os demais grupos: Carol Costa – Misticismo e Religião; Cutelaria – grupo Área 51 Custom Works; Fantasia Medieval na Literatura – grupo coletivo de escritores; Tecelagem; Biblioteca/Livros Históricos. Por fim, o grupo Anões Sinaleiros e Bobo da Corte, a trupe mais medieval que já existiu, com doses de ironia e com muita informação, apresentam todas as atividades e conduzem o público para as oficinas, palestras e apresentações. Em resumo, a proposta artística do evento é a criação de um clima de imersão cultural através de diversas atividades culturais, somadas aos detalhes da decoração e caracterização dos participantes do projeto. Crê-se que, em razão do que foi exposto, o projeto apresenta conteúdo e mérito culturais, atendendo às condições necessárias para os benefícios da lei estadual de incentivo à cultura.
3. Em conclusão, o projeto “Festival da Cultura Medieval – 1ª Edição” é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 239.742,00 (duzentos e trinta e nove mil, setecentos e quarenta e dois reais) do Sistema Unificado e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura/RS.
Porto Alegre, 28 de janeiro de 2018.
José Mariano Bersch
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 05 de fevereiro de 2018.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Rafael Pavan dos Passos, Luciano Fernandes, e Walter Galvani.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Luiz Carlos Sadowski da Silva, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon, Claudio Trarbach e Élvio Pereira Vargas.
Abstenções: Maria Silveira Marques.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 28/02/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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