Processo nº 2070-1100/17-9
Parecer nº 376/2017 CEC/RS
O projeto “Mostra Pirilimpimpim de Teatro - 2018” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O processo trata do pedido de financiamento para a realização da parte artístico-cultural do Mostra Pirilimpimpim de Teatro - 2018, que foi devidamente habilitado. O projeto se enquadra na área de Artes Cênicas: teatro e foi encaminhado para realização em 2018.
O projeto apresenta uma mostra de 6 dias com 2 apresentações por dia, sendo, ao todo, 6 espetáculos e 12 apresentações totalmente gratuitas com um programa de acessibilidade e democratização especifico para esta mostra. Com uma performance de palhaçaria e uma performance de abertura com a personagem Lulu, que comanda o bate-papo posterior ao espetáculo, somados a uma oficina de teatro gratuita de 3 meses e à interprete de libras para todas as ações, a Mostra Pirilimpimpim de Teatro vem comemorar os 160 anos do Theatro São Pedro em 2018.
Esta mostra de teatro para crianças traz o nome de Pirlimpimpim em homenagem à criação de Monteiro Lobato na obra O Sítio do Pica-pau Amarelo, onde o pó de mesmo nome era utilizado pela boneca Emília e pelas crianças Pedrinho e Narizinho para se transportarem magicamente para outro lugar. A Mostra Pirilimpimpim de Teatro tem como objetivo a realização de uma mostra teatral destinada a crianças em fase pré-escolar e escolar, nas faixas etárias de 04 a 11 anos. As apresentações serão totalmente gratuitas e, após a realização delas, terão espaços para bate-papos.
O Theatro São Pedro conta com espaços reservados a cadeirantes, e, conforme a lei, esses espaços são equipados com rampas de acesso e infraestrutura. Também foi estabelecido que um dos espetáculos oferecerá a acessibilidade a espectadores infantis com necessidades especiais, atingindo o público infantil com baixa visão, surdez e cegueira, tendo os outros espetáculos, todos, intérprete de libras. Os espetáculos são Nina, o Monstro e o Coração Perdido, Chapeuzinho Vermelho e É proibido miar.
É proibido miar compõe a programação da Mostra por ser uma proposta artística inovadora, pois é um espetáculo para crianças sobre o respeito às diferenças. Idealizado por Denis Gosch, que assina a direção, e Juliana Kersting, responsável pela produção, É Proibido Miar marca a estreia da MA Companhia – teatro, dança e assemelhados. Baseado no livro infantil homônimo de Pedro Bandeira, o espetáculo conta a história de um cãozinho que não via nenhum problema em miar como um gato, mas sua família e sua dona não pensavam como ele... E é aí que as coisas acontecem.
A proposta é incomum no universo do teatro para crianças: investiga o potencial criativo da audiodescrição e da libras enquanto narrativa e gesto, inserindo-as em sua concepção e propondo uma linguagem experimental. Ou seja, os próprios atores realizam a audiodescrição para contar a história e utilizam a libras como gestos de seus personagens, partilhando do conceito de que a deficiência não está nas pessoas, mas no ambiente, na informação e nas atitudes de acolhimento não preparados para a diversidade.
Os ingressos, gratuitos, são destinados a um público de baixa renda. Eles serão entregues a instituições de assistência de serviços, programas e benefícios que promovam a inclusão de cidadãos, famílias e grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade e risco social. São algumas dessas entidades: Fundação de Assistência Social e Cidadania – FASC; Central Única das Favelas; FADE RS – Centros de Abrigos; Projeto Pescar; Escolas públicas das Redes Municipais e Estaduais, entre outras. Além disso, a Mostra Pirilimpimpim de Teatro realiza, gratuitamente, uma oficina de teatro para crianças, que será ministrada pela Casa de Teatro de Porto Alegre – escola formativa. Com foco na criação de experiências e de socialização entre crianças e familiares, o projeto Mostra Pirilimpimpim de Teatro apresenta, ainda, a recepção com uma cenografia lúdica e ações de palhaçaria para dar as boas-vindas ao novo universo. Além de cenas e brincadeiras, os palhaços entregam frases que divulgam para as crianças os 160 anos do Theatro São Pedro e apontam a importância da vivência dentro da Mostra. Está programada também uma abertura com o programa Lulu foi ao teatro. E agora? e bate-papo no final, além de uma oficina de para crianças ministrada pelo Jeffie Lopes, reconhecido professor de teatro infantil pela Casa de Teatro de Porto Alegre. Todos os espetáculos serão realizados no Theatro São Pedro, espaço que garante o acesso de pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida e a idosos através de intervenções que objetivam priorizar ou facilitar o livre acesso das mesmas, assim definidos em legislação específica, de modo a possibilitar-lhes o pleno exercício dos seus direitos por meio da disponibilização ou adaptação de espaços. A Mostra visa agraciar um público estimado em 6.600 pessoas.
Palhaçaria em Ação é um trabalho autoral de Tuta Camargo e Rafael de Moura, palhaços há mais de dez anos dedicados à atuação, pesquisa e ensino desta arte. A dupla Pinguinho e Serragem coloca em cena o resultado dessas experiências numa intervenção divertida, alegre e irreverente. Uma experiência transformadora para o público a partir da milenar arte do riso, executada por quem tem conhecimento e experiência! Fazendo o receptivo de toda a criançada para todas as apresentações da Mostra Pirilimpimpim de Teatro, a dupla mostra alegria, delicadeza e a agilidade desses mestres do riso — os palhaços. Esses atrapalhados contadores de causos são ligados por uma grande amizade e cumplicidade. Juntos, vão divertindo a garotada e a orientando sobre a vivência em questão de estarem entrando em um espaço que traz história e memória para todos.
Sobre a oficina de teatro para crianças, que proporciona o contato da criança com o universo cênico e contribui para o desenvolvimento de seu potencial criativo e expressivo, exercitando a imaginação através da abordagem de personagens e de pequenas cenas teatrais: ela permite que a criança descubra que o seu mundo próprio, repleto de brincadeiras e imaginação, pode ser a porta para criar cenas, colocando em ação seus jogos e sua criatividade. Essa vivência é profundamente construtiva na formação dessa criança enquanto indivíduo dentro de uma coletividade, na sua maneira de se comunicar com o mundo, à medida que permite o exercício da socialização e da expressão oral e corporal. Do cronograma da oficina, o primeiro mês é dedicado ao preparo do ambiente propício para a criação, através de exercícios de envolvimento, criando segurança e cumplicidade necessárias para o trabalho grupal; ao preparo do instrumento físico através de aquecimento corporal e vocal; e à sensibilização, através do treinamento da percepção e dos exercícios de expressão. Nos dois meses seguintes, focar-se-á em práticas de jogos relacionados à criação de cenas e no trabalho de interpretação da história com definições de onde, quem e o que.
Sobre o programa Lulu foi ao teatro, e agora?: pensando em não se utilizar de um mestre de cerimônias tradicional para apresentar o projeto a cada espetáculo nas 12 apresentações, foi instituído nesta Mostra o programa Lulu foi ao teatro. E agora?. Aqui, a figura do mestre de cerimônias se transforma em uma personagem criada especialmente para a Mostra, e ela é interpretada por uma atriz com ampla experiência com o público infantil. Além da personagem ficar conversando com o público na hora da entrada das crianças e já as preparando para o que vão vivenciar, ela aponta também curiosidades sobre o Theatro São Pedro — teatro centenário que comemora 160 anos —, sobre coisas como o lustre, os camarotes, o teto, etc. Após esse momento, quando todas as crianças já estiverem acomodadas, Lulu apresentará o projeto e o espetáculo que será assistido. Após os espetáculos, como mediadora de um bate-papo com a equipe, Lulu irá entrevistar os atores e técnicos de cada espetáculo, motivando as crianças presentes a fazerem perguntas, a pensarem nos aspectos técnicos e a conhecerem o que há por traz do fazer teatral em aspectos que estão atrás das cortinas e de todo processo de criação do que é visto em cena. Lulu será como um alter ego de todas as crianças presentes, criando senso de aproximação e de identidade. Deseja-se que todas as crianças sejam estimuladas pela imaginação de Lulu, que propõe o estado curioso sobre o fazer teatro.
O custo para realização do projeto financiado pelo Sistema LIC/RS é de R$ 214.880,00 (duzentos e catorze mil oitocentos e oitenta reais)
É o relatório.
2. Uma mostra infantil gratuita que pode atingir quase 7 mil pessoas é muito importante, pois incentivará e mostrará a linguagem do teatro pela primeira vez para várias das crianças de 4 a 11 anos. A equipe é composta por profissionais experientes e talentosos que fazem este espetáculo. Com a escassez de espaços e projetos voltados às crianças, perdemos a oportunidade de criar público para as artes. Despertar interesse para as artes passa por assistir e ter referência. Conforme diligência, as escolas serão mapeadas dentro da rede de ensino público de Porto Alegre. Serão escolas de zonas descentralizadas e com baixo poder aquisitivo. Esse mapeamento das escolas de Porto Alegre da rede pública será traçado após a aprovação e captação do projeto. Por entender a complexidade que é administrar este fluxo de retirada dos alunos com a agenda das escolas para esta vivência cultural, foi contemplada também uma rubrica para todo este mapeamento e atendimento.
Descreverei abaixo um pouco mais sobre os espetáculos para termos a dimensão da importância dos mesmos:
Sobre a peça É proibido miar: conforme opinião de uma professora:
Um engenheiro especialista em acessibilidade e inclusão social, também portador de deficiência, explicou que: ‘Uma coisa é criar um ambiente e serviços direcionados para as necessidades de um segmento social. Isto é Acessibilidade. Outra é criar um ambiente e serviços com acesso a todas as pessoas, deficientes ou não, desfrutarem juntas. Isto é Inclusão Social. O ideal é acessibilidade com ampla inclusão’. Este conceito me marcou muito e hoje, assistindo ao espetáculo, eu vivi este conceito! A riqueza e fluidez das linguagens LIBRAS e Audiodescrição incorporadas à dinâmica e sensibilidade teatral, uniram a todos na plateia em uma apreciação integrada. Um trabalho que marca a trajetória do teatro infantil.
Sobre a peça Chapeuzinho Vermelho: conforme o autor e algumas análises de psicólogos, nós, muitas vezes, protegemos demais as crianças para que elas não sintam medo, e acabamos privando-as de aprender a lidar com angústias e medos inerentes e fundamentais ao seu processo de desenvolvimento, como sentimentos de abandono e separação, de sexualidade e do desconhecimento que são partes desse processo. É fundamental que possam existir espaços protegidos para que a criança externe simbolicamente seus medos e os repare. Uma das funções dos contos de fada e fabulas é justamente essa.
Numa sociedade em que se tem medo de ter medo, não temos muitos espaços pedagógicos para explorar uma saída construtiva para esse impasse que nós mesmos criamos. A peça nos oferece justamente isso da melhor maneira possível: oferece o teatro como um espaço seguro para vivenciarmos, junto com nossas crianças, esses lugares. E assim podemos construir com elas os entendimentos afetivos necessários para lidar com a vida com a proteção necessária, ao invés de permanecer nos refugiando dela.
De acordo com um trecho de críticas a Chapeuzinho Vermelho por Antonio Hohlfeldt no Jornal do Comércio,
(...) esse espetáculo deu espaço a uma valorização da coreografia, assinada por Carlota Albuquerque, e excelentemente bem desenvolvida pelos quatro atores em cena. O texto, aliás, é reiterativo, como tradicional num conto oral, afim de que o ouvinte (no caso, o espectador) grave de memória o que se está a dizer. Essa peça é escrita para uma criança...
Lembrando que este crítico sempre reclamou da falta de espetáculos infantis na cidade e da pobreza de algumas encenações, o que concluo não ser o caso deste projeto, que conta com vários espetáculos, oficina, e ações performáticas muito qualificadas. Coerente com a intenção de agradar, formar, instruir e causar reações no sentimento do nosso publico infantil, este projeto irá vibrar positividade e emocionar em nossas crianças.
Sinopse de mais um espetáculo:
Debaixo da cama da Nina morava um monstro do qual ela já tinha sentido muito medo, mas que depois virou seu melhor amigo. É pra ele que ela contava todas as coisas boas e ruins que aconteciam com ela. Só que de um tempo pra cá, ela foi se inundando de tristeza. E como Nina não queria mais sofrer, deixou que um pássaro de rapina levasse o seu coração. E ficou vazia, sem sofrimento, sem alegria, sem vontade de nada. Arrependida, pede a seu amigo monstro que traga o coração dela de volta e ele parte para cumprir essa missão. Numa jornada cheia de encontros e desencontros, ele descobre que o tempo é curto, que o pássaro sumiu e que a vida de Nina está em suas mãos. Com a ajuda de um novo amigo vive a maior aventura - de toda a sua vida de monstro - em busca do coração perdido.
Observando que a direção foi de Lucia Bendati, falecida em 2015, aos 47 anos, atriz e diretora de espetáculos infantis que dedicou a vida a essa linguagem e que não deixa de ser uma homenagem por toda sua luta. Também destaco a direção musical de Álvaro Rosa Costa, excelente ator e músico.
Por fim, sabendo-se que se trata de um espaço público e que existe uma lei que prevê a realização de editais de ocupação, recomenda-se que, em uma próxima vez, sejam feitos editais para os grupos previstos a se apresentar. Além disso, que se cumpra a portaria que rege os colegiados setoriais, de forma que esses sejam chamados a participar da elaboração dos editais.
3. Em conclusão, o projeto “Mostra Pirilimpimpim de Teatro - 2018” é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 214.880,00 (duzentos e catorze mil oitocentos e oitenta reais) do Sistema Unificado Estadual de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura – RS.
Porto Alegre, 19 de dezembro de 2017.
Luciano Fernandes
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 19 de dezembro de 2017.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Marlise Nedel Machado, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes e André Venzon.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva e Élvio Pereira Vargas.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 22/12/2017 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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