O projeto “11ª. BIENAL DE ARTES VISUAIS DO MERCOSUL – 2018” é recomendado para a Avaliação Coletiva.
1. O Projeto “11ª. Bienal de Artes Visuais do Mercosul – 2018”, habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura através do parecer 199/2017, do SAT, foi encaminhado a este Conselho nos termos da legislação em vigor, em 04 de setembro de 2017. Baixado em diligência pela Conselheira Relatora, volta ao Conselho em 19 de setembro de 2017.
É um projeto cultural na área de Artes Visuais: artes plásticas, que acontecerá no período de 06 de abril a 03 de junho de 2018, em Porto Alegre, nos seguintes locais: Memorial do Rio Grande do Sul, MARGS, Santander Cultural, Praça da Alfândega e Igreja das Dores.
É proponente Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, através do seu Presidente Gilberto Schwartsmann. Ato Produção Cultural é a equipe principal, onde Beatriz Helena Miranda Araújo – ME é a responsável pela Coordenação Executiva. Ilha Imagem Produção de Eventos Culturais Ltda. – André Severo, responsável pela coordenação artística. Alfons Hug como curador e Paula Borgui, Curadoria Adjunta. VBG Assessoria Empresarial e Contabilidade S/C LTDA, através de Volmir Luiz Gilioli, como contador.
Segundo a equipe proponente, o objetivo geral que tem o tema – O Triângulo do Atlântico – se refere “ao espaço que interliga o destino da América, África e Europa há mais de 500 anos, testemunhando os grandes movimentos migratórios da história humana de natureza voluntária e involuntária”. A Bienal trata cerca de 165 obras de 74 artistas.
Além disto, acontecerá uma mostra com obras táteis da artista Lenora Rosenfield, que será realizada no Centro Cultural Érico Veríssimo, reunindo trabalhos selecionados de todas as edições da Bienal do Mercosul para o público com deficiência visual. Da mesma forma, será disponibilizado um site com a Bienal Virtual, que ultrapassará o período da mostra.
Cabe destacar os objetivos específicos:
As dimensões simbólica, econômica e cidadã recheiam o projeto de justificativas que consolidam esta Edição da Bienal, que “revisita a historiografia da formação étnica da nação brasileira e do continente americano através das práticas artísticas.” A exposição terá um “amplo programa educativo envolvendo parceria com o SESC, através das Escolas, Universidades e demais Instituições Culturais”. Serão oferecidos estágios para estudantes, após curso para mediadores. Destaco a manifestação que diz que “O objetivo é tornar a Bienal do Mercosul um projeto permanente, em oposição a um evento de dois meses. Serão feitos seminários nos quais são discutidos os reflexos deste Triangulo do Atlântico, em várias áreas da cultura, como música, teatro, cinema, fotografia, medicina, literatura, história e outros. Foi realizado concerto na Igreja das Dores no aniversário da cidade. O Prêmio Nobel da Literatura na África, Wole Soyinka, realizará palestra na Feira do Livro de Porto Alegre”. Além disto, o projeto informa que “mensalmente nas praças da cidade, temos realizado oficinas com artistas que, coordenados por Britto Velho, guiam crianças e jovens a desenhar sobre o tema central desta Edição. Nenhum evento é cobrado”.
Nas metas, destaca-se um número de 750.000 visitantes.
O projeto apresenta um quadro detalhado de pré-produção, divulgação, produção e pós-produção.
Na análise do orçamento, vemos os seguintes valores solicitados ao Sistema Pró-Cultura RS, que foram habilitados pelo SAT:
Total R$ 2.300.000,00 – 100,00%
Foi solicitado ao Ministério da Cultura o valor de R$ 6.056.745,33 (seis milhões, cinquenta e seis mil e setecentos e quarenta e cinco reais e trinta e três centavos).
É o relatório.
2. O Projeto da 11ª. Bienal de Artes Visuais do Mercosul mostra-se bem formatado, apresentando as documentações necessárias para análise do mérito cultural. Em um dos documentos anexos podemos ler a seguinte justificativa: “Em vinte anos de existência, a Fundação Bienal do Mercosul já realizou dez edições de sua reputada mostra de artes visuais, somando 615 dias de exposições abertas ao público, 73 diferentes exposições, 5.435.341 visitas, acesso totalmente franqueado, 1.262.658 agendamentos escolares, 214.908 m² de espaços expositivos preparados, áreas urbanas e edifícios redescobertos e revitalizados, 4.597 obras expostas, intervenções urbanas de caráter efêmero e 16 obras monumentais deixadas para a cidade, 202 patrocinadores e apoiadores ao longo da história, participação de 1.425 artistas, mais de mil empregos diretos e indiretos gerados por edição, além de seminários, conversa com o público, oficinas, curso para professores, formação e trabalho com mediadores para 1.832 jovens. As exposições bienais de arte há muito constituem sólida tradição no mundo contemporâneo”. “ .... As 10 edições passadas foram centradas em artistas latinos, motivo pelo qual o curador Alfons Hug inova ao lançar um olhar sobre o espaço atlântico ou, mais precisamente, sobre aquele triângulo mágico que parece interligar o destino da América, África e Europa há mais de 500 anos. Todos os oceanos constituem poderosas memórias de história e cultura, mas nenhum deles ultrapassa o Atlântico com sua coleção de eventos dramáticos e rupturas que alteraram o curso da história mundial para sempre. O Oceano Atlântico testemunhou os grandes movimentos migratórios da história humana de natureza voluntária e involuntária. Mais de 60 milhões de europeus – para quem Goethe exclamava: “América, você é afortunada” – buscaram as novas regiões do Ocidente no anseio de deixar para trás a miséria e a pobreza, vislumbrando um futuro mais luminoso, ainda que muitos tenham vindo para realizar trabalhos forçados. Por outro lado, para o Brasil, Antilhas e EUA pelo menos 12 milhões de africanos foram levados como escravos. O passado escravagista deixou traços na Nigéria, em Serra Leoa, Benin, Togo, Gana e na Libéria, para onde ex-escravos retornavam do Brasil e dos Estados Unidos da América. Em toda a costa da África Ocidental e Central há registros arquitetônicos desse tráfico. Deste lado, no Rio de Janeiro há o Cais do Valongo, local onde estima-se que foram vendidos mais de um milhão de homens e mulheres entre os séculos XVI e XIX. No Morro da Providência, próximo ao Cais do Valongo, o comércio clandestino de pessoas ainda era realizado até o início do século passado. Neste espaço foi encontrado um antigo cemitério de escravos. O Rio Grande do Sul do início do século XIX tinha 30% de sua população composta por escravos. Testemunho desse passado são os 130 quilombos existentes no Estado.”
Alfons Hug é um experiente e renomado curador e crítico de arte da Alemanha, com passagem por várias Bienais – inclusive a de Veneza. Dirigiu o Instituto Goethe, no Rio de Janeiro, por vários anos, e hoje dirige o Instituto Goethe em Lagos, Nigéria. Como Curadora adjunta, está Paula Borghi, gestora do Projeto Cultural Saracura. Pesquisa Arte Contemporânea na América Latina desde 2010. Foi assistente curatorial da 12ª. Bienal de La Havana (2015) e curadora da Residência Artística do Red Bull Station (2013/2014).
Haverá a exposição denominada “O Relevo do Atlântico”, da artista Lenora Rosenfield, que traduz obras para afrescos sintéticos que podem ser manuseados pelo público. A exposição será aberta à população, tendo como público alvo as pessoas com deficiência visual. Lenora selecionará uma obra de cada Bienal anterior, e pelo menos uma obra da 11ª Bienal. Esta atividade ocorrerá no Centro Cultural Érico Veríssimo, localizado a poucas quadras da Praça da Alfândega.
Respondendo à indagação da Conselheira Relatora sobre quais as comunidades quilombolas a serem visitadas/pesquisadas, eis a resposta: “O artista paulistano Jaime Lauriano pesquisará algumas comunidades quilombolas dentro do eixo Porto Alegre e Pelotas. Seu ponto de partida acontece em Porto Alegre na Família Silva, localizada em um dos bairros com o metro quadrado mais valorizados da cidade. É por esta contradição imobiliária que o artista inicia sua residência, movendo-se para a cidade de Pelotas e entrando em contato com o Alto do Caixão, Vó Elvira e o ponto de cultura Katangas. A escolha deste artista é pautada pela pesquisa que Lauriano vem desenvolvendo através das relações poéticas e visuais entre questões afro-brasileiras e os processos de gentrificação. Desta forma, entendemos que seu foco de investigação acontecerá entre Porto Alegre e Pelotas, descentralizando as atividades da Bienal do Mercosul para além da capital do Rio Grande do Sul. Para que esta experiência seja mais efetiva, o artista contará com um agente local residente em cada local. Em paralelo, a artista brasiliense Camila Soato realizará uma residência no Areal da Baronesa. Esta comunidade foi estruturada a partir da força de trabalho das mulheres, que além de donas de casa eram arrimo da família, em sua maioria lavadeiras. Atualmente, a comunidade conta com o projeto social da Tia Cleusa, responsável por manter o samba vivo na vida das crianças da comunidade. A escolha da artista para este determinado local vai ao encontro às temáticas abordadas por Soato em suas pinturas, entre elas questões de gênero e o papel da mulher na sociedade.” Acrescento ao texto que a artista Camila Soato foi vencedora do Prêmio PIPA Voto Popular Exposição 2013.
Quanto ao projeto educacional
O SESC/RS é parceiro na realização do Programa Educativo.
Algumas de suas tarefas são as seguintes:
A outra pergunta formulada pela Conselheira Relatora, com relação às oficinas tem a seguinte resposta: “O piloto do projeto “Arte na praça: o triângulo das crianças” aconteceu no Parque da Redenção, no dia 30 de abril, em frente ao Colégio Militar, com o objetivo de estimular a criatividade infantil por meio de pinturas e contato com artistas, em espaços públicos da cidade. Os participantes das atividades ganham material para expressar a sua criatividade, com pranchetas, tinta têmpera, pincéis e folhas, com o acompanhamento dos pais. A atividade tem acontecido em um final de semana por mês, em diferentes praças de Porto Alegre. O pintor e gravurista Carlos Carrion de Britto Velho é o encarregado em organizar o “Arte na praça: o triângulo das crianças”. O artista trabalha há 11 anos em escolas, estimulando o gosto pela arte nos estudantes. Suas obras têm relação com a fantasia, o que cria uma identificação com os alunos. “Quando o ser humano tem experiência com arte (em geral) fica mais aberto para o mundo. A criança tem a sensibilidade maior, e quanto mais desenvolver, mais preparada ficará para aceitar ensinamentos relacionados a outras matérias. A arte abre caminhos, faz pensar de forma diferente, assim como a filosofia na fase adulta”, afirma o técnico em educação.“
A resposta à diligência tem a seguir, a sua continuação: “....consiste na parceria com o SESC/RS para a condução de todo o processo do Programa Educativo. Entidade com importante trajetória na ação cultural do País, o SESC coloca sua estrutura para realizar uma das mais importantes atividades que compõem a Bienal do Mercosul, conhecida tradicionalmente por incorporar o Educativo no seu processo curatorial. A partir dessa relação, o Programa Educativo irá discutir em seu conjunto de ações a potência das poéticas visuais como produtoras de sentidos, abordando o objeto artístico em sua capacidade de motivar experiências sensíveis e sensoriais. O desafio do Educativo é trabalhar o fenômeno artístico a partir de sua condição de ativador de um estado de suspensão, de mobilização sensorial, de estesia no qual as pessoas são submetidas no momento em que se relacionam com o objeto artístico. Nesse sentido, se lança ao desafio de elaborar estratégias de contemplação e fruição, que permitam ao público chegar a um estado de admiração para que ocorram possíveis transformações. Para tanto, o Programa Educativo será composto por etapas integradas de trabalho, das quais se destaca resumidamente as seguintes: - Fundamentação conceitual; - Estabelecimento de parcerias com agentes públicos, como secretarias de Educação e Cultura, instituições culturais que desenvolvem ações educativas e organizações não governamentais que atuem com a temática conceitual da 11a. Bienal do Mercosul; - Criação de um mapeamento e cadastramento de 60 educadores e educadoras (termo que será designado o grupo de atendimento nos espaços expositivos) que irão compor a equipe do Educativo. Salienta-se que na 11a. Bienal do Mercosul será introduzida a figura do educador ou educadora estudante de Ensino Médio, sob contrato de estágio supervisionado; - Constituição de processos de formação específico para educadores, educadoras, professores e professoras antes da mostra. Nesta edição da Bienal, as formações serão compostas por ministrantes discentes de Programas de Pós- Graduação, em nível de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado de diferentes instituições de ensino do País; - Elaboração de um conjunto de oficinas em escolas das redes públicas de ensino, constituídas por profissionais de diferentes regiões do País, que abordam em suas propostas elementos constantes no conceito curatorial da Bienal; - Construção de material pedagógico com a participação de uma equipe de professores, professoras e artistas visuais; - Busca de parcerias na tentativa de produzir de um aplicativo em formato de gamificação a partir das obras de arte da 11a. Bienal;....”
Continua o projeto: “Uma área de grande interesse envolve estudos para uma completa versão digital da exibição. Esta estratégia poderá trazer um novo olhar sobre a mostra, com maior inclusão de indivíduos que normalmente não visitam a bienal, mas que desejariam fazê-lo. É um poderoso instrumento que dará capilaridade ao evento, permitindo que pessoas interessadas em arte – mas que vivem em regiões mais distantes – possam ter acesso à Bienal virtualmente. A ferramenta digital também vai gerar discussões temáticas sobre a incorporação de novas linguagens e meios de comunicação no mundo da arte.”
Complemento que o site da Fundação Bienal do Mercosul traz informações das exposições anteriores, seus projetos educacionais, sua biblioteca virtual, contendo os nomes dos artistas e informações sobre todas as Bienais de edições passadas.
Quanto à acessibilidade
Os prédios que abrigarão a Bienal têm rampas, elevadores e banheiros adaptados, de forma que as pessoas idosas e com deficiência tenham condições de acessar as exposições. Outra parte da mostra será na Praça da Alfândega, que tem acesso às pessoas com dificuldade de locomoção.
O documento informa que haverá intérprete de libras para visitas guiadas. No projeto não há nenhuma menção ao PPCI nos prédios onde serão expostas as obras e nem nas praças onde acontecerão atividades com alunos. Portanto, condiciono a liberação de recursos à existência de PPCI nos espaços onde estarão as obras e nos demais locais envolvendo o público.
Condiciono, também a liberação da autorização para captação dos recursos a apresentação das cartas de anuência das comunidades quilombolas a serem visitadas/pesquisadas.
Faço um glosa geral de 30% sobre todos os itens da planilha de custos, ficando o valor final em R$ 1.610.000,00 (hum milhão, seiscentos e dez mil reais).
Sugiro leituras sobre a tendência do mundo contemporâneo de alteração do significado da palavra escravos para escravizados.
3. Em conclusão, o projeto “11ª. Bienal de Artes Visuais do Mercosul – 2018” é recomendado para a Avaliação Coletiva em razão do seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos no valor de R$ 1.610.000,00 (hum milhão, seiscentos e dez mil reais) do Sistema Unificado de Apoio e Fomento as Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 26 de setembro de 2017.
Liana Yara Richter Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 02 de outubro de 2017.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, Plínio José Borges Mósca, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Claudio Trarbach, André Venzon e Walter Galvani.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Gilberto Herschdorfer, Dalila Adriana da Costa Lopes, Rafael Pavan dos Passos e Luiz Carlos Sadowski da Silva.
Abstenções: Maria Silveira Marques.
Ausentes no Momento da Votação: Dael Luis Prestes Rodrigues e Élvio Pereira Vargas.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 11/10/2017 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS