Processo nº 1606-1100/17-6
Parecer nº 330/2017 CEC/RS
O projeto “BVB TANZOLYMP” é recomendado para a Avaliação Coletiva.
1. O projeto em epígrafe tem como produtor cultural o Ballet Vera Bublitz, cuja responsável legal é Carlla de Oliveira Bublitz, a cargo da coordenação geral do projeto e também na função de diretora. Integram ainda a equipe principal Pablo Torres Insaurralde e Marcos Sanchez, como coreógrafos, Letícia Krezinger, como fisioterapeuta, além dos bailarinos Ana Clara Jardim Fonseca, Anna Clara Lucas Costa, Carolina Comissoli, Eloá Bizotto Costa, Fernanda Meksraitis, Francesca Fogaça, Gabriela Radhe Garcia, Helena Cardoso Nunes, Julia Prestes, Patrick Taranger e Stella Pinto. Fechando a equipe principal, a cargo da contabilidade, está Sadi Missel.
O projeto trata da busca de recursos a fim de financiar parcialmente a ida de um grupo destacado do Ballet Vera Bublitz para representar o Rio Grande do Sul e o Brasil num concurso internacional de dança que acontece na cidade de Berlim, Alemanha, no próximo mês de fevereiro. Segundo o que consta no projeto, este evento é realizado anualmente, tendo como lema “a dança como linguagem global”. Além de um intercâmbio internacional que explora as diferentes formas estéticas da dança e estilos artísticos, o festival proporciona uma visão do espectro e variedade de danças. O evento de coroação do festival é a gala internacional onde os artistas com melhor classificação em diversas categorias, reunindo vencedores do ano e também de anos anteriores, têm a oportunidade de se apresentarem diante de juízes renomados. É prevista também, neste evento, a formação de uma Companhia Internacional de Dança, constituída por participantes escolhidos e vencedores do ano anterior. Para participar do Tanzolymp, são realizadas etapas classificatórias e eliminatórias em diversos países, dentre eles o Brasil. O Ballet Vera Bublitz já participou deste concurso no ano de 2017, obtendo o primeiro lugar na modalidade Dança Moderna, categoria grupo, de forma que, independente do resultado da próxima edição, já estará participando do evento de gala internacional. Para esta edição, o Ballet Vera Bublitz se classificou com as seguintes coreografias: Elevation (grupo com 10 bailarinos), duos do ballet La Fille Malgardé e duo Jalousie, e os solos Growing, Odalisca, Abstrato, Bridesmaid, Raymonda, Etéreo, Fuga, Paquita, Epifania, variação de A Bela Adormecida (I ato), À procura e O Corsário.
Dentre os objetivos citados no projeto, destacam-se:
- conhecer jovens de outros países através de aulas, seminários e competições;
- contribuir para aumentar a popularidade da dança em nível internacional e regional;
- explorar diferentes formas estéticas de dança;
- proporcionar aos jovens estudantes uma visão da variedade da dança;
- apresentar a dança produzida no RS diante de juízes de referência mundial;
- contribuir para o desenvolvimento profissional de jovens estudantes de dança;
Como atividade de contrapartida, está prevista uma oficina de seis horas a ser ministrada pela professora Carlla Bublitz na cidade de Bento Gonçalves, a fim de integrar o Programa Estadual de Formação e Qualificação na Área Cultural. Além disso, o Ballet Vera Bublitz se propõe a doar quatro apresentações, contendo todas as coreografias que competirão no festival de Berlim, a fim de que o público sul-rio-grandense também possa assistir ao mesmo trabalho que será levado ao festival. Essas apresentações acontecerão nas cidades de Porto Alegre, São Leopoldo e Bento Gonçalves (conforme cartas de interesse contidas nos anexos do projeto), além de uma apresentação doada à SEDACTEL.
O valor do projeto, totalmente solicitado ao Sistema Pró-cultura e integralmente habilitado pelo SAT, é de R$ 75.275,00.
É o relatório.
2. O projeto, quando de sua primeira apresentação, demonstrava várias falhas de formatação que foram, na sua maioria, corrigidas após diligência. Desde a primeira leitura, no entanto, apesar dessas falhas, já estava muito claro o quanto este projeto é meritório, mostrando-se relevante e oportuno. Iniciemos por examinar brevemente o currículo do Ballet Vera Bublitz, que completa, em 2019, 40 anos de dedicação à Dança. A escola já formou mais de uma geração de profissionais, entre professores e bailarinos, que atuam em diversas cidades do estado, assim como em vários países, tais como Estados Unidos, Suécia, França e Alemanha. Destacam-se os nomes de Carla Körbes, na condição de primeira bailarina nos Estados Unidos; Norton Fantinel, que foi bolsista na escola desde muito pequeno e hoje é primeiro bailarino em Toulouse, na França, e Rejane Duarte, atualmente professora do Harlem Ballet, em Nova Iorque. Os próprios profissionais formados no Ballet Vera Bublitz já formaram outros tantos profissionais, de forma que seria impossível contar a história da Dança no Rio Grande do Sul sem se dedicar um capítulo muito especial a esta escola. A professora Carlla Bublitz, diretora artística e coreógrafa do Ballet Vera Bublitz, possui uma formação ampla, destacando-se estudos a longo prazo no Teatro Colón, da Argentina, e na França, onde se graduou em Dança na Sorbonne/Paris IV e, posteriormente, em Artes do Espetáculo. Também na Sorbonne, estudou Ciência da Educação. O coreógrafo Pablo Torres, argentino, estudou no Instituto Superior de Arte do Teatro Colón, na Argentina, tendo integrado o Studio Julio Bocca, em Buenos Aires e o Ballet Contemporâneo do Teatro San Martín, apresentando-se em diversos países. O coreógrafo Marco Sanches foi diretor artístico e coreógrafo da Cia Jovem de São José dos Campos. Coleciona títulos de melhor coreógrafo em diversos festivais de dança e já encaminhou alunos que atuam hoje em companhias dentro e fora do Brasil, salientando-se o Balé da Cidade de São Paulo, a Cisne Negro Cia de Dança, além de companhias na Áustria, Canadá, Alemanha, Espanha e Estados Unidos.
Ao longo de tantos anos de trajetória, são inúmeras as premiações e reconhecimentos em mostras, festivais e concursos obtidos pelo Ballet Vera Bublitz. Para fins deste parecer, mencionar-se-á somente algumas das premiações recebidas pelo grupo que solicita financiamento do Pró-cultura, restringindo-se às premiações conquistadas no ano de 2017, que são as seguintes:
- todos participaram do grupo vencedor do primeiro lugar no Festival Tanzolymp em 2017;
- bailarino Patrick Taranger: primeiro lugar no Festival Internacional de Goiás e 2º lugar no festival Danzando en Lima, no Peru;
- bailarina Ana Clara Lucas Costa: um segundo e três terceiros lugares no festival Danzando en Lima, no Peru; bolsa de estudo para o Summer em Barcelona em 2018, pré-seletiva de bolsas para Berlim e bolsa de estudo para o Summer Brasil;
- bailarina Carolina Comissoli Fernandes: um primeiro lugar e um segundo lugar no Festival Internacional de Goiás; um primeiro e três segundos lugares no festival Danzando en Lima, no Peru. Coleciona diversas bolsas parciais e integrais. Tendo vencido a eliminatória regional para o Tanzolymp, recebeu todos seus custos pagos para participar da etapa final do Tanzolymp;
- bailarina Stela Pinto: um primeiro lugar no Festival Internacional de Dança de Goiás;
- bailarina Eloá Bizzotto Costa: um primeiro e um terceiro lugar no Festival Internacional de Dança de Goiás; um segundo e um terceiro lugar no festival Danzando en Lima, no Perú;
- bailarina Júlia Prestes: coleciona oferecimentos de bolsas de estudo integrais, entre elas para o Summer Intensive Program, em Denver – Colorado, Estados Unidos, a Berlin State School, Alemanha, a Summer School John Cranko Schule, Stuttgart, Alemanha, a Jacqueline Kennedy Onassis e o American Ballet Theatre, nos Estados Unidos;
- bailarina Gabriela Rahde Garcia: um segundo e um terceiro lugar no festival Danzando en Lima, no Perú.
Além dos meritórios currículos, há que se ressaltar que se trata de um projeto pouquíssimo oneroso, onde a relação custo-benefício se mostra extremamente oportuna. Primeiramente, registra-se que o financiamento ao festival Tanzolymp está sendo solicitado somente de forma parcial ao sistema público, sendo que as despesas de alimentação e hospedagem serão custeadas pelo grupo e/ou pelo festival em si. Além disso, há que se destacar o oferecimento de quatro apresentações, sem qualquer ônus ao Estado, nas cidades de Porto Alegre, São Leopoldo e Bento Gonçalves, além de uma apresentação cedida à SEDACTEL, a fim de que a comunidade sul-rio-grandense também possa apreciar todos os trabalhos que serão apresentados no festival Tanzolymp. Há ainda a oficina a ser ministrada pela professora Carlla Bublitz na cidade de Bento Gonçalves. Sobre essa oficina, destaca-se que, muito embora a instrução normativa vigente permita que esta ação de contrapartida seja financiada com recursos públicos, neste projeto, esta atividade também é oferecida sem qualquer custo para o Estado. A tabela orçamentária, como se pode observar, é, de forma geral, bastante modesta, sendo o primeiro projeto relatado por esta conselheira que não inclui a rubrica referente à captação de recursos, sendo informado que já existe uma empresa interessada em seu financiamento. Quanto aos uniformes e camisetas, percebe-se ser uma excelente forma de veiculação no Sistema Pró-cultura, já que exibirão, em diversas ocasiões, esta marca, incluindo o making off da da viagem, eventuais entrevistas na mídia, etc. O único item em que se faz uma glosa pontual, por uma questão de proporção aos valores solicitados, é a rubrica 3.1 - contador, que passa de R$ 3.000,00 para R$ 2.000,00.
Contudo, não se poderia finalizar este parecer sem se destacar a importância de um projeto como este. Na visão desta conselheira, o grande e fundamental objetivo de eventos competitivos nas áreas artísticas é a oportunidade de recebimento de bolsas de estudo e propostas profissionais, além da riquíssima experiência que todos trarão na bagagem, independente do resultado. Especialmente pelo momento pelo qual passa nosso país, parece ainda mais relevante manter viva a esperança de se poder viver dignamente da arte. É com muita tristeza que assistimos ao desmantelamento que acontece, por exemplo, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde temporadas de dança estão sendo canceladas, sendo que bailarinos altamente capacitados, que investiram corpo e alma em suas profissões, se veem obrigados a se sujeitarem a fazer qualquer serviço para poderem sobreviver. É igualmente triste quando, em nosso país, é perguntado a um bailarino sua profissão e, quando este responde, frequentemente escuta algo do tipo: “eu quis dizer o que você faz de verdade, para viver”. Ressalta-se que nem mesmo as profissões mais humildes, para as quais pouco estudo ou treinamento se faz necessário, costuma-se ouvir este tipo de comentário, infelizmente tão comum na área da Dança. Em muitos eventos, somos convidados a dançarmos de graça ou por uma refeição, sendo que, geralmente, todos os demais profissionais envolvidos recebem normalmente por suas funções. Pouquíssimos são os lugares no Brasil onde um bailarino possui carteira assinada e recebe seus direitos trabalhistas, algo tão corriqueiro na maioria das profissões. Assim sendo, por mais que, por um lado, possa ser difícil ver nossos talentos deixando o país, mais desolador ainda é vê-los sem esperança, sendo forçados a se adaptarem a profissões ditas “normais”, por pressão, muitas vezes, da família e da sociedade como um todo. A possibilidade de que quaisquer destes jovens, neste projeto, possam ter seus estudos custeados por escolas de formação reconhecida ou mesmo que venham a integrar esta companhia que está sendo feita em Berlim já justifica o investimento público. Para além de seu mérito individual, eles estão também abrindo portas e esperança para que outros, assim como eles, possam vir a acreditar na possibilidade de viverem de sua arte com dignidade. Deseja-se boa sorte ao Ballet Vera Bublitz e que este grupo possa, mais uma vez, fazer brilhar o nome do Rio Grande do Sul e do Brasil no mundo.
3. Em conclusão, o projeto “BVB Tanzolymp” é recomendado para a avaliação coletiva, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 74.275,00 (setenta e quatro mil, duzentos e setenta e cinco reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura RS.
Porto Alegre, 23 de novembro de 2017.
Marlise Nedel Machado Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10h do dia 24 de novembro de 2017.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Gilberto Herschdorfer, Liana Yara Richter, Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luciano Fernandes, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e Walter Galvani.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 30/11/2017 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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