Processo nº 2208-1100/17-6
Parecer nº 382/2017 CEC/RS
O projeto “CAMUGERÊ CULTURAL - 2018” é recomendado para avaliação coletiva.
1. O processo trata do pedido de financiamento para a realização da parte artístico-cultural da Camugerê Cultural – 2018, projeto que foi devidamente habilitado. Ele se enquadra na área de Culturas Populares e é classificado como Novo Projeto Cultural. Foi encaminhado para realização em 2018, de 6 de março a 8 de dezembro, na cidade de Três Passos. O produtor cultural é a Associação Desportiva e Cultural do Noroeste Gaúcho – ADECUNG. A contabilidade é da empresa Organizações Contábeis Alto Uruguai.
A capoeira é uma importante forma de expressão cultural e de difusão da arte. Ela reúne aspectos ancestrais em sua dança ou ginga, na sua música, na forma de entoar as canções e na riqueza de suas letras, que nos contam fatos passados do que ocorreu com os negros em suas senzalas. Com o intuito de manter essa importante ferramenta cultural, o projeto Camugerê Cultural visa fomentar a arte da capoeira e todos os elementos que a envolvem — música, dança, artesanato e folclore — no município de Três Passos, trabalhando gratuitamente com comunidades carentes. Através do projeto, os participantes aprenderão diversas atividades, dentre elas: capoeira, maculelê, puxada de rede, samba de roda, dança do coco, expressão corporal/teatro, percussão e ritmo e artesanatos diversos. Encerrando as atividades de cada turma, haverá uma cerimônia de formatura que será aberta ao público e que contará com a presença do mestre Maurão, vindo diretamente de São Paulo para palestrar e batizar os recém-formados, além de apresentações das companhias Peppe Company e Fantomania, exposição dos trabalhos feitos pelas crianças e apresentação de capoeira aprendida no curso.
O projeto tem 11 meses de ações previstas e são mais de 68 aulas distribuídas nesses meses. Lanches para as crianças, material para aulas de artesanato, registros fotográficos, registros videográficos, mestres de capoeira, transporte, hospedagens dos mestres, sonorização e iluminação são alguns dos itens previstos na planilha de custos.
A capoeira ainda ocupa um espaço importante em produtos midiáticos e publicitários como representação de elemento constitutivo da identidade nacional. Na cultura da capoeira, destaca-se a figura do mestre, considerado não apenas um formador de capoeiristas, mas, sobretudo, um guardião de sua tradição e história. Tal forma de tratamento tem origem nas artes de cunho folclórico e está associada à bagagem de conhecimento que frequentemente é transmitido e ensinado através da oralidade — o que confere um caráter popular e empírico ao aprendizado. No Brasil, ela surgiu na época da escravidão com a vinda dos negros para trabalhar nos engenhos de açúcar, fazendas de café e na roça, sendo proibida porque pessoas de má índole se aproveitavam da sua força e gingado para a prática de delitos e saques nas cidades após a abolição da escravatura em 1888. Em 1930, Getúlio Vargas convidou alguns grupos de capoeira para se apresentarem no Palácio do Catete e esta arte ganhou um novo status, recebendo assim a sua devida valorização e importância para a política e história do Brasil. Aqui no Rio Grande do Sul, a capoeira chegou na década de 1970, na cidade de Porto Alegre, através do mestre Cal Henry Xavier e difundida pelo mestre Churrasco, reconhecido no meio capoeirístico como o pioneiro da arte da capoeira. Na cidade de Três Passos, ela é difundida desde o ano de 2015 através da Escola de Capoeira e Cultura Camugerê Cultural, onde a população tem a oportunidade de vivenciar a capoeira até os dias atuais. A escola funciona de domingo a domingo e fica localizada na Rua Gaspar Silveira Martins, nº 1257, na cidade de Três Passos, e trabalha com crianças de 3 a 8 anos, além de turma com alunos adultos.
Atualmente, para participar das atividades da escola, os alunos precisam pagar uma mensalidade, fazendo com que muitos participantes sem condições financeiras fiquem de fora. Neste sentido, reforçamos a ideia da elaboração deste projeto com o intuito de atingir a comunidade carente do município, formando novos capoeiristas, além de promover e difundir a arte da capoeira, fazendo com que assim mais jovens possam ter a oportunidade de ter contato com ela e as demais práticas artísticas e culturais que serão apontadas abaixo:
A cerimônia será aberta e gratuita ao público e contará com a presença do mestre formador, que batizará as crianças, e dos espetáculos das companhias de teatro Fantomania e Peppe Company. O grupo Fantomania de Teatro de Bonecos apresenta o espetáculo Negrinho do Pastoreio. Peppe Company apresenta Com Amor e Com Pulgas, que conta a história de um cachorro chamado vira-lata Preto, que vive em um beco, e seu amigo Chico, um gato muito malandro que ajuda ele a enfrentar problemas. Os dois acabam se envolvendo em aventuras, ações, amor e muita cãofusão. De maneira lúdica, a peça fala de valores, amizade e de como lidar com as diferenças.
Os locais onde ocorrerão as cerimônias e apresentações contam com as devidas medidas de acessibilidade, podendo receber a todos. Cadeiras e espaços para cadeirantes serão reservados para a melhor acomodação de deficientes físicos durante as apresentações.
O valor habilitado para financiamento pelo Sistema LIC/RS é de R$ 133.642,00.
É o relatório.
2. A importância deste projeto vai muito além das possíveis palavras que este conselheiro poderia expressar. Esta ação vai ao encontro de tudo que penso sobre a importância de uma Lei de Incentivo, sobre fazer cultura e sobre resgatar cultura, ainda mais a cultura negra, uma das mais importantes e influentes no sentido de dar um tempero muito especial ao Brasil. Certamente o povo brasileiro tem o espírito da capoeira em sua vida. Todos os dias, escapamos dos socos e pontapés das contas, das dificuldades e da saúde. Mas este projeto vai trazer mais luz e organização para a região atingida. Ensinar e praticar arte são como oxigênio para um astronauta, que além de o manter vivo, o mantém ativo, pensante e com esperanças de continuar em frente. Afinal, a gente não quer só comida...
A capoeira como hoje a conhecemos é fruto das constantes modificações que diferentes sujeitos e grupos sociais atribuíram a essa prática ao longo de sua existência. Sua importância para a construção da cultura brasileira foi reconhecida em 2008, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tombou-a como patrimônio cultural imaterial. Se outrora essa prática foi proibida por estar associada à vadiagem e ao crime, hoje é facilmente vista nas ruas das cidades, integrando os currículos escolares e sendo ensinada como luta ou como arte em academias e outros espaços de exercitação física.
As histórias teatrais propostas estão de acordo com a lógica de envolver as crianças a ainda falar sobre as diferenças sociais, as tragédias e glorias de personagens importantes. Em uma vida cheia de heróis na TV e no cinema, ter um pequeno herói como o Negrinho do Pastoreio é muito significativo.
Todas as danças que estão inseridas no projeto e descritas no relatório tratam de histórias de um povo no Brasil, e assim como tanto elogiamos a cultura do jazz e do blues americano, que fala da luta do seu povo negro, temos a oportunidade aqui de espalhar a nossa cultura e memórias de maneira pratica.
Para relembrarmos a trágica história, recito parte deste texto do folclore brasileiro:
No tempo da escravidão havia um estancieiro muito cruel. Naqueles fins de mundo fazia o que bem entendia sem dar explicações a ninguém. Encarregado do pastoreio de alguns animais, os escravos que não podiam ficar parados. Pois de uma feita o pobre negrinho, que já vivia as maiores injustiças nas mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Pra quê! Apanhou uma barbaridade, com um chicote feito de rabo de tatu. Não satisfeito com a punição o patrão jogou o negrinho num formigueiro. No outro dia o patrão foi ver o formigueiro. Qual não foi sua surpresa ao ver o negrinho vivo e contente ao lado de Nossa Senhora. Desde então o negrinho do pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas.
Peço que se dê atenção para a questão do PPCI em todos os lugares onde acontecem os eventos.
3. Em conclusão, o projeto “Camugerê Cultural - 2018” é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito, relevância e oportunidade, podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 133.642,00 (centro e trinta e três mil, seiscentos e quarenta e dois reais) do Sistema Unificado Estadual de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura – RS.
Porto Alegre, 20 de dezembro de 2017.
Luciano Fernandes
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 20 de dezembro de 2017.
Presentes: 22 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e Walter Galvani.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 22/12/2017 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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