Processo nº 131-11.00/18-9
Parecer nº 091/2018 CEC/RS
O projeto “1 - Parte artístico cultural do 2º Rodeio crioulo estadual do Piquete Morro Santo - 2018” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O processo trata de um pedido de financiamento para a realização da parte artístico-cultural do evento Parte artístico cultural do 2º Rodeio crioulo estadual do Piquete Morro Santo - 2018, que foi devidamente habilitado e se enquadra na área de Tradição e Folclore. Será realizado em agosto de 2018, em Lajeado.
O objetivo do projeto é realizar a parte artístico-cultural do 2º rodeio crioulo estadual do piquete morro santo, que, em sua 1º edição, teve somente a parte campeira. Para a 2º edição, almeja-se, junto com o sistema Pró-cultura/RS, atender a parte artística para, a partir daí, ter-se um rodeio completo. Visa-se atrair mais de 8.000 (oito mil) pessoas para usufruírem de cultura, lazer e diversão.
No local onde será o espaço Pró-cultura RS, ter-se-á acessibilidade, que se apresenta por meio de com rampas, apoios e outros meios para possibilitar o acesso destas pessoas com tranquilidade.
Uma das grandes atrações é a apresentação da peça teatral Sepé Tiaraju, que foi um guerreiro indígena brasileiro considerado santo popular e declarado "herói guarani missioneiro rio-grandense" por lei. Chefe indígena dos Sete Povos das Missões, liderou uma rebelião contra o Tratado de Madri. Ele faleceu em 1726.
De acordo com a sinopse:
A imagem do bravo guerreiro guarani atravessa os séculos envolta em misticismo e fantasia, o que cria uma idéia de figura mitológica ou lendária. Mas na realidade é um valente e destemido líder que comandou uma das mais heroicas resistências á dominação branca neste extremo sul da América do Sul. Quando visitamos as ruínas da redução Jesuítica de São Miguel Arcanjo, podemos ter uma noção da grandiosidade do projeto que se construiu ali a mais de duzentos anos. Uma verdadeira epopéia que envolvia religiosidade e poder, pois todos sabemos que as missões Jesuíticas tinham como objetivo catequizar e cristianizar os nativos do novo mundo, mas também de estabelecer os marcos de dominação e afirmação de posse das novas terras. Na redução de São Miguel sob a proteção dos padres jesuítas cresceu o bravo Sepé, um índio que desde criança já estava predestinado a ser o líder de toda a nação Guarani, pois carregava um sinal em forma de lua crescente na testa, marca de uma triste herança também trazida pelo homem branco, a varíola, mas que todos de sua tribo acreditavam ser o sinal de tupã, o facho de luz que guiaria a todos á caminho da terra sem males. Sepé tombou em uma das sangrentas batalhas travadas contra os exércitos de Espanha e Portugal, mas seu grito ainda hoje ecoa pelos campos e se transformou em um símbolo de resistência e afirmação de alteridade “Esta terra tem dono”. Pela tradição de valentia e de defesa da terra que forjou nossa determinação á luta, podemos afirmar sem erro que é Sepé a gênese deste passado heróico, o exemplo que inspirou outras gerações de bravos gaúchos que sempre defenderam a ferro e fogo as fronteiras deste pampa. Somos herdeiros de sua coragem e valentia e como gaúchos que somos, nós do Teatro Luz e Cena nos sentimos honrados e comprometidos com o resgate da imagem do bravo Sepé. Esperamos que assim como nós vocês também se emocionem com esta história. E que ela se transforme em um libelo á liberdade que ela sirva como importante movimento de resgate de nossa história e de nossos verdadeiros heróis, em um momento em que o mundo anda tão carente de bons exemplos. Venham conosco se divertir, se emocionar, rir e chorar com a saga de nosso guerreiro da Lua Crescente.
Linguagens e práticas artísticas, referências estéticas, originalidade, importância simbólica, identitária e de pertencimento para a cultura local é o que pretende conduzir o 2º rodeio do Piquete Morro Santo, levando para o parque de eventos não um concurso entre os participantes, e sim uma mostra das tradições vivenciadas dentro dos seus galpões durante o ano, integrando e aproximando as entidades, que receberão um cachê de igual valor para incentivar e ajudar em suas despesas — que sabemos serem muitas durante o ano. O projeto também contempla teatros e atrações regionais para o engrandecimento do evento, mas a preocupação é manter as entidade presentes na cidade de Lajeado vivas.
A cobrança de ingresso, no valor de R$ 5,00, será feita para o evento principal. Já no espaço Pró-cultura, a entrada é gratuita para todas atividades ali realizadas.
Os espetáculos representarão artistas do município e estado, sendo que os grupos e shows são de reconhecida qualidade e buscam incentivar novos grupos que surgem. Em função do grande fluxo de pessoas durante os dias do evento, serão contratadas equipes especializadas para cuidarem da segurança e da limpeza.
O custo financiado pelo Sistema LIC RS para realização do projeto é de R$ 130.800,00 (cento e trinta mil e oitocentos reais).
É o relatório.
2. Avaliação: mérito, relevância e oportunidade.
Para falar da parte artística e cultural deste projeto, começo descrevendo a verdadeira história por trás da peça teatral que será apresentada, que retrata a vida do guerreiro indígena brasileiro Sepé Tiaraju. Sepé Tiaraju é historicamente conhecido por ter resistido aos ataques militares espanhóis e portugueses do período colonial. A região em que estavam localizadas as comunidades indígenas guaranis pertencentes aos Sete Povos das Missões fica próxima à fronteira com o Paraguai, no Sul do Brasil. Os episódios de resistência liderados por Sepé Tiaraju desencadearam novos movimentos de luta indígena após a sua morte, em 02 de fevereiro de 1756, durante uma batalha com os espanhóis. As lutas que levaram Sepé Tiaraju e seu povo à resistência foram desencadeadas pela tentativa de desocupação de territórios dos Sete Povos das Missões, objetivo definido pelo Tratado de Madrid. A luta liderada pelo guerreiro contou com o apoio de alguns missionários jesuítas, como o Padre Altamirano e o Padre Balda, que estavam na região com a missão de catequizar os índios à mando da metrópole. O apoio de padres e figuras religiosas é ressaltado nos documentos e obras que relatam a vida de Sepé Tiaraju. Na época, os jesuítas estavam, em sua maioria, contra as lutas indígenas, ao contrário do que acontece com a resistência liderada por Sepé. A figura de Sepé Tiaraju permanece na história do povo rio-grandense como um ícone heróico que fez parte da formação da identidade e do território do Rio Grande do Sul. Sepé foi batizado como José Tyarayu ou Tiararu, porém a reprodução do nome pelos invasores espanhóis e portugueses fez com que fosse alterado para Tiaraju.
Os Serranos, tradicional conjunto musical gauchesco, foi criado em 1969, em Bom Jesus, uma cidade localizada na serra do Rio Grande do Sul. Ano que vem completam 50 anos de trabalhos continuados em cultura no Rio Grande do Sul. Comparando com músicos pelo mundo, nós temos nossos Rolling Stones, vivos e cantantes. Guardando as devidas proporções de comparação na relativa diferença de estilo, ainda sim podemos salientar a importância de uma arte sobreviver tanto tempo, passar por várias gerações e continuar importante. Eis aí mais um bom exemplo de memória e de resgate histórico. Em 1980, o grupo foi vencedor da Calhandra de Ouro na Califórnia da Canção Nativa de 1980 com a canção Veterano. Com mais de 30 discos gravados, Os Serranos concorreram ao Grammy Latino de 2009 na categoria Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras, com o álbum Os Serranos - 40 anos de História, Música e Tradição.
Criados juntos na cidade de São Gabriel, César Oliveira e Rogério Melo dividem o mesmo apreço pela arte e pelo folclore do pampa gaúcho. Juntos, gravaram oito CDs e dois DVDs. Em 2008, foram agraciados com o Prêmio TIM de melhor dupla regional do país pelo álbum O Campo. Além disso, ficaram entre os cinco finalistas do Grammy Latino de 2013 na categoria Melhor Álbum de Música Brasileira de Raiz.
Sape ou Çape é o nome de uma gramínea muito comum no Rio Grande do Sul. A planta é chamada também de Capim Santa-Fé. Essa espécie é utilizada para recuperação de terras após secas e queimadas, por isso é representativa de um sinal de esperança e luz.
Para a realização do projeto, além de condicionar sua aprovação à apresentação de PPCI e do cumprimento de medidas mais abrangentes de acessibilidade, comprovando ambos os itens junto ao gestor do sistema, faço uma glosa linear de 25% no valor total.
3. Em conclusão, o projeto “1 - Parte artístico cultural do 2º Rodeio crioulo estadual do Piquete Morro Santo - 2018”, por seu mérito relevância e oportunidade, é recomendado para a avaliação coletiva, podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 98.100,00 (noventa e oito mil e cem reais) do Sistema Unificado Estadual de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura – RS.
Porto Alegre, 08 de março de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
Luciano Fernandes
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 12 de março de 2018.
Presentes: 18 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, José Mariano Bersch, Élvio Pereira Vargas, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Rafael Pavan dos Passos, Marlise Nedel Machado, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes e Walter Galvani.
Contrário: Luiz Carlos Sadowski da Silva
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 15/03/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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