Processo nº 0031-11.00/18-2
Parecer nº 054/2018 CEC/RS
O projeto “CARAVANA CIRCENSE BURZUN - 2ª EDIÇÃO - 2019” é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto cultural CARAVANA CIRCENSE BURZUN - 2ª EDIÇÃO - 2019 foi habilitado pelo SAT, com glosas, nos termos da legislação vigente e distribuído a este conselheiro em 08/01/2018. O proponente é ANTONIO CARLOS SIMÕES BALTAR, CEPC nº 5441. A área cultural é ARTES CÊNICAS: CIRCO. O período de realização é de 06 a 27/04/2019. Os locais de realização do projeto itinerante serão na praça central do município de SEDE NOVA; no Parcão no município de SANTA ROSA; na praça central do município de BOA VISTA DO BURICÁ e na praça central do município de NOVA CANDELÁRIA. Serão ofertadas oficinas para descoberta de novos talentos e shows de forma gratuita. As atividades serão amplamente divulgadas por meio de peças gráficas do projeto, tais como cartazes, folders, faixas e banners, nas mídias radiofônicas, através de jingles, e de spots para veiculação televisiva. Apesar de estar em sua segunda edição (conforme projetos do produtor no parecer do SAT, realizaram a 1ª edição em 2015), não apresenta uma estimativa de público a ser atingido e não aborda as questões de acessibilidade a contento, bem como do PPCI. Portanto, desde já, condicionamos a sua aprovação a garantir a priori estas medidas necessárias e constantes em nossas normas, que asseguram o acesso para todos os cidadãos e sinalizam avanços nos modos de nos vermos representados socialmente, bem como aquelas de segurança. O SAT, em seu parecer, altera e inabilita alguns itens da planilha para ajustar aos valores praticados no sistema e na legislação, o que acompanhamos. Entretanto, vamos além, sugerindo uma glosa de 40% aos valores de sonorização (1.1) e iluminação (1.2), uma vez que se trata do mesmo MEI que também ficará a cargo da parte técnica das áreas na tabela orçamentária. Sendo assim, do valor habilitado de R$ 193.177,00 (cento e noventa e três mil cento e setenta e sete reais), feitas as devidas glosas, recomenda-se a ser financiado pela Lei de Incentivo à Cultura no Estado do Rio Grande do Sul o valor de R$ 176.377,00 (cento e setenta e seis mil trezentos e setenta e sete reais).
É o relatório.
2. “Viver é adaptar-se.” A célebre frase dita por Euclides da Cunha, que conheceu como ninguém o agreste brasileiro, poderia representar a síntese da história do circo entre nós. Junto com sua trupe, uma variedade de personagens viaja pelos confins do Brasil e faz a alegria das comunidades desde sua aparição no país a partir do século XIX. Porém o universo circense mudou e desde os anos 1960 a moça do trapézio, o ilusionista e o tradicional palhaço migraram para outros palcos. Com o advento da TV, da "sociedade do espetáculo" na visão crítica de Guy Debord e do “meio é a mensagem” de McLuhan, programas animados por apresentadores fantasiados ao estilo clown, como Bozos, Vovó Mafaldas, Chapolins a la Carlitos e Fofões, tornaram-se lugar-comum no dia-a-dia do público infantil. Também vimos se espalhar, como séries, os números de ilusionismos exibidos para milhares de pessoas incrédulas diante dos feitos fantásticos destes mestres na arte de iludir, como Copperfield e Mister M. Fenômeno mais recente, mas não menos distante, os stand-ups são o reflexo contemporâneo da tradição milenar de fazer rir. Em suma, o circo ganhou outros palcos e formatos e isso caracteriza essencialmente o movimento do “novo circo” que se utiliza da dança e do teatro, acompanhados como sempre da música. Há quanto tempo começamos a nos impressionar com números de tecido acrobático em eventos institucionais que não imaginávamos tal atração? Quantas vezes também não nos surpreendemos com shows circenses, de famoso grupo local a companhias internacionais, em tradicionais teatros e populares shopping centers? Sim, o circo mudou, pois a sociedade mudou. Só isso já o definiria como arte. Contudo, há um mistério no fazer circense, uma magia que o qualifica como algo entre a arte e a vida. Não é à toa que o circo tem sido um tema recorrente dos maiores artistas plásticos de todos os tempos. De Picasso a Portiniari. Nas raízes do picadeiro contemporâneo há algo de místico que nos perturba a curiosidade e, como um elixir da juventude, nos faz diante do multicolorido das suas luzes e cenas voltar a ser criança sempre. Como não lembrar da influência deste espaço também em produções como O Bêbado e a Equilibrista, com uma Elis chapliniana cantando o Brasil dos anos de chumbo do centro de um picadeiro, ou do filme Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues, ambas obras cantam e encenam a esperança que o circo representa e tem servido de metáfora de rara beleza para os artistas de todas as expressões ao longo do tempo. O que dizer então do documentário Os Palhaços de Fellini e da ópera Pagliaci de Leoncavallo, que são outros exemplos clássicos para citar esta fonte inesgotável que é o circo para a história da arte. A resposta para este manancial simbólico pode estar na recente festa que vivenciamos, a mais popular do mundo: o carnaval. As fantasias de arlequim e colombina ainda são as preferidas no imaginário popular, simplesmente porque o circo está em nós como uma cultura universal. É a fantasia na sua quinta-essência. Perdoem-me os colegas da área por me aventurar assim de peito aberto neste palco que sou plateia. Certamente este projeto não ganhará mais importância com as minhas palavras, mas sim com as próprias mudanças que transformaram o circo nas últimas décadas — pasmem — em escola! E esta é a abrangência expressa no projeto em tela que nos provoca uma dimensão (enorme) pedagógica do circo. Devemos lembrar mais disso no nosso dia-a-dia cansado quando, diante de um dos tantos semáforos que nos fazem parar por instante para ver o mundo, assistimos anônimos malabares com pedras ou outros objetos do seu cotidiano urbano, tentando (muitas vezes em vão) desequilibrar nossa percepção embotada... Quem sabe, talvez, em uma próxima vez, possamos imaginar que eles são os mestres e nós os alunos neste picadeiro da sobrevivência? Saltimbancos, mambembes ou performers, o que seja a persona do novo circo, ela está vocacionada a não fazer esta arte social desaparecer. E, se depender deste projeto, ao fazer escola perpetuando a imagem do “Circo vem aí” nas mentes e corações do respeitável público, ela não desaparecerá.
3. Em conclusão, o projeto “Caravana Circense Burzun - 2ª Edição - 2019” é recomendado para participar da avaliação coletiva pelo seu mérito, relevância e oportunidade, estando apto a receber incentivos até o valor máximo de R$ 176.377,00 (cento e setenta e seis mil, trezentos e setenta e sete reais) do Sistema Unificado de Apoio e Fomento à Cultura - Pró-cultura RS.
Porto Alegre, 15 de fevereiro de 2018, ano do Cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 15 de fevereiro de 2018.
Presentes: 16 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Liana Yara Richter, Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Dalila Adriana da Costa Lopes e Walter Galvani.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 16/02/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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