Processo nº 18/1100-0000487-3
Parecer nº 146/2018 CEC/RS
O projeto 6 DIREÇÕES - 2018 é recomendado para avaliação coletiva.
1. Apresentado pelo produtor cultural Jackson William Silva Brum, CEPC-6285, o presente projeto, da área de Artes Visuais: artes gráficas, tem por objetivo a produção de seis (6) murais artísticos em fachadas de rua, em diferentes cidades do estado. Compõem a equipe principal, além do proponente: Gaia Cultura e Arte (CNPJ-10.709.140/0001-97) com a função de captador de recursos; Búfalo Produções (CNPJ-13.450.877/0001-26), produtor executivo; Bouganville Produções Artísticas (CNPJ-28.588.845/0001-69), direção administrativa; e Barbara Azeredo da Silva (CRC-093327), contadora. O projeto consiste na pintura de murais artísticos com cerca de 100 m², em seis cidades, pela técnica do ‘grafitti’, por dois artistas de Porto Alegre, Kelvin Koubic e Jackson Brum, que já vêm desenvolvendo a arte da grafitagem e que trabalharão em conjunto com um artista de cada localidade. A proposta é trabalhar a temática escolhida, “valores de uma cultura – jovens em transformação”, com a preocupação de que este tema dialogue com a realidade local. Segundo o proponente, “o intercâmbio de ideias e culturas, o diálogo, a perspectiva cidadã, a formação de plateia e tantos outros fatores de importância social e cultural serão evidenciados neste projeto.” Para uma melhor avaliação do mérito cultural deste projeto, segue transcrição parcial da sua justificativa que, não obstante extensa, é muito elucidativa e, no entender deste relator, necessária para uma melhor compreensão da ação pretendida:
Além de procurar evidenciar a arte da grafitagem, tão pública, democrática e acessível, o projeto busca colocar em contato os artistas porto-alegrenses Jackson Brum e o artista convidado Kelvin Koubik, que vêm desenvolvendo a sua arte ao longo dos anos, com os artistas fotógrafos de 6 cidades do Estado. O artista Kelvin Koubik foi convidado devido à aproximação com o trabalho realizado pelo Jackson Brum, pela similaridade das técnicas utilizadas e dos traços de grafia (além de um excelente currículo anexado à proposta). A ideia é percorrer as principais cidades do estado, de maior tamanho e população, colorindo os espaços e fazendo dialogar a arte de rua, a arte popular, a arte pública com os cidadãos que ocupam os espaços da cidade. Os produtores locais contatados possuem representatividade e já estão desenvolvendo (ou já tem desenvolvidas) suas técnicas ou metodologias de trabalho com a fotografia. A escolha por artistas fotógrafos se deu pela escassez de artistas grafiteiros no interior do Estado e também por que, pelas lentes fotográficas, é possível propor um diálogo com a arte de rua, foco desde projeto – ambos trabalham com imagens e narrativas visuais. Serão fomentados os processos de criação desses artistas, fortalecendo a cadeia de produção cultural do Estado. A escolha desses profissionais e o contato com eles será feita ao longo da etapa de produção deste projeto. É com a ajuda desses profissionais que serão escolhidos os locais específicos onde serão pintados os painéis. O intercâmbio entre os artistas vai resultar em uma pintura de dimensões de 100m², em média, em locais altos preferencialmente, que trazem muito das questões locais e da identidade da cidade em questão, mantendo o tema: valores de uma cultura - jovens que transformam. Este tema foi escolhido devido a intimidade que a cultura do hip hop tem com os jovens, além do fato de que esse público é o que normalmente se encontra em estado de vulnerabilidade social, à margem dos processos cidadãos, excluídos do mercado de trabalho e, muitas vezes, de uma formação educacional e cultural de qualidade. Propor projetos para esse público preenche essa lacuna e capacita esses sujeitos a se integrarem no espaço onde vivem, ofertando outras possibilidades na vida, fora da marginalidade. A cultura hip hop, e mais especificamente a arte da grafitagem já são legitimadas no mundo todo, sendo apreciadas e fomentadas em toda parte, dentro dos contextos urbanos. Entretanto, ainda é vista, principalmente em pequenas localidades, como uma subcultura, sendo discriminada frente às artes elitistas. Projetos que fomentem a arte de rua precisam ser incentivados para que seja possível enraizar os aspectos dessa cultura tão rica e tão plural. Tirar as culturas de origem popular da margem de culturas elitistas é papel fundamental dos produtores cultuais que se preocupam com a arte emancipadora e cidadã. As cidades escolhidas para este projeto foram as maiores do Estado, que representam polos urbanos e que, por isso, se identificam mais com a proposta do projeto do que áreas fundamentalmente agrícolas ou coloniais. São elas: Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Uruguaiana e Bagé. A ideia de produzir uma arte itinerante e de percorrer cidades foi desenvolvida na primeira versão desse projeto, que teve apoio da FUNART em 2006, mas que teve abrangência nacional, visitante 6 estados do Brasil. A ideia agora é contemplar públicos menores, mais locais, que tenham alguma afinidade com a cultura urbana, ao mesmo tempo em que um trabalho artístico desse porte faça a diferença no cenário cultural da cidade, que não seja comum. Muito foi aprendido nessa primeira experiência e que pode ser aplicado neste novo projeto, que vem prestigiar os artistas e o povo gaúcho, auxiliando na legitimação de sua arte urbana regional. Para complementar mais ainda essa ação cultural, convidamos o artista Zudizilla para compor músicas sobre cada uma das cidades, homenageando seus habitantes e locais mais queridos, e dialogando com o tema do projeto. Visto que seu estilo dialoga com a cultura hip hop, motivo da escolha do artista (além de ser conhecido e reconhecido no meio), Zudizilla vai compor uma música exclusiva para cada cidade e, no momento da finalização e da entrega do painel, ele irá performatizar sua canção, a ser escutada junto com a fruição do painel, compondo visualmente e sonoramente um objeto artístico. Nesse momento de entrega do painel, serão convidados todos os cidadãos e os envolvidos do projeto para apreciarem, ouvirem os relatos dos artistas e as canções. Ocasião simples, mas que marca a etapa. Importante salientar que não será gravado CD ou nada parecido, não representando custos relativos ao projeto, apenas o custo do artista compor as músicas e executá-las no dia. O músico reside em Pelotas e irá para cada uma das cidades apenas no dia de sua apresentação, não compondo o corpo da equipe viaja com o projeto. Para encerrar as atividades do projeto de forma a fazer jus a todo trabalho realizado, o projeto prevê ainda a confecção de um catálogo com as obras produzidas, e a documentação de todo o processo de construção dos painéis. Esse catálogo não se trata de divulgação, mas de um registro feito posteriormente e que servirá de recordação e inspiração para os locais por onde passou o projeto. Esses catálogos serão distribuídos gratuitamente para órgãos públicos das cidades que receberam o 6 Direções. Tendo esclarecido os termos na proposta, evidenciando que serão criados novos bens culturais (os painéis), estamos promovendo experiências criativas e inovadoras, além de propor integração entre os artistas do Estado. O trabalho realizado por este projeto é 100% autoral, sendo criado especificamente para esta iniciativa. A troca de linguagens, metodologias de trabalho e técnicas serão compartilhadas entre os envolvidos, mas também por todo um segmento que tem interesse, pois toda a trajetória do projeto será documentada por um produtor de vídeos e fotos e disponibilizada online na página do projeto. Dessa forma estaremos formando plateias e fomentando novas, ampliando a fruição para públicos virtuais, e expondo a arte pelas ruas gratuitamente, fortalecendo o sentimento de pertencimento a uma comunidade e reforçando laços de integração. O projeto 6 direções se propõe a fomentar linguagens artísticas atreladas ao grafitti, formar plateias e realizar um intercâmbio de ideias e técnicas. Propõe também novas maneiras de enxergar o espaço público e de como interagir com ele, 3 de 11 como ocupá-lo – viés essencial para a cidadania. Também traz uma releitura de manifestações artísticas, do que pode ser a arte e onde ela pode estar posta, propondo caminhos e ampliando possibilidades. Com o tema voltado para os jovens, vai discutir as realidades, o urbano e o coletivo, propondo formas de comunicação social. Projeto democrático e acessível, aguça a sensibilidade de todos os que se expõem a fruição livre de prerrogativas que engessam as interpretações. O ofício dos artistas normalmente marginalizados será qualificado e respeitado, propondo variar as ofertas artísticas que o povo gaúcho tem acesso. Projeto que propõe construções coletivas, rupturas com senso comum, intercâmbio, diálogos, reforço da cidadania, entre tantos outros aspectos, é fator importante para a cultura do Estado e para seus habitantes.
Na metodologia, o proponente traça detalhadamente as diversas etapas da produção do projeto. Entre outras coisas, justifica a utilização de adesivos na divulgação do projeto, por entender que o público jovem não se relaciona muito bem com flyers e folders, sendo que o adesivo fala a sua língua, tendo a ver com arte de rua, sendo que os jovens utilizam os adesivos em utensílios particulares como cadernos, como também em janelas, paradas de ônibus, muros etc. Cabe mais um destaque a título de esclarecimento, relativa à etapa da efetiva produção dos painéis, assim descrita pelo proponente:
(...) Nesta etapa, a execução do projeto irá ocorrer de fato, os artistas irão viajar e realizar as pinturas dos painéis. Como a logística ainda será feita sob a responsabilidade do produtor executivo, podemos aqui esboçar uma tentativa inicial. Será contratada uma van, com motorista, para realizar o transporte da equipe. Os custos orçados incluem todos os gastos com a van e com o motorista. Dentro da van, irão os dois artistas, o produtor executivo e o auxiliar de produção, o responsável por redes sociais e pelos registros de foto e vídeo e o diretor de marketing. Presume-se, apenas em caráter especulativo, que a ordem dos municípios poderiam ser Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Maria, Uruguaiana, Bagé e Porto Alegre. A ideia é chegar na segunda-feira nas cidades, passar alguns dias projetando o desenho junto com o artista local, tentando entender a realidade particular dos jovens da região. Após esse momento de reconhecimento e de construção do desenho, o painel será pintado, no prazo de até sexta-feira. No sábado serão feitos os retoques finais e a 'entrega' do painel para a cidade. No domingo parte-se para a próxima cidade onde todo o roteiro começa novamente. Importante salientar que isso é uma prévia, pois quem vai realizar e projetar a logística deste projeto é o produtor executivo, em momento posterior, de acordo com as disponibilidades dos artistas locais e outras variantes como o clima, por exemplo (não se pode pintar com chuva, por exemplo).
Em relação à impressão de um catálogo, o proponente esclarece que não se trata de peça de divulgação, pois o mesmo será produzido após a pintura dos painéis, representando uma documentação de todo o processo de sua elaboração e das etapas. Serão, posteriormente, distribuídos gratuitamente nas cidades e em órgãos públicos, visando estimular a arte na rua, divulgar a ideia e fazer com que outras localidades a abracem. O valor do projeto, habilitado pelo Setor de Análise Técnica da Sedactel, é de R$ 233.430,40, com financiamento integral através da LIC/RS. Da planilha de custos, aparecem, entre outros: cachês dos dois artistas principais – R$ 23.000,00 e R$ 20.000,00; soma dos cachês dos artistas locais, em número de seis – R$ 12.000,00; músico compositor – R$ 5.000,00; produtor executivo – R$ 16.000,00; auxiliar de produção – R$ 10.000,00; transporte – R$ 9.850,00; registro foto/vídeo – R$ 7.000,00; custos com hospedagem para 4 pessoas nas 5 cidades do interior do estado – valores que variam entre R$ 2.184,00 e R$ 3.311,00 em cada localidade; hospedagem do música nas 6 cidades – valor total de R$ 1.030,00; custos de alimentação – valor total de R$ 10.010,00; catálogo – R$ 3.000,00; tintas – R$ 45.700,00; estrutura para pintura dos painéis – R$ 11.300,00; custos de divulgação – R$ 23.135,00; captação de recursos – R$ 12.000,00; diretor administrativo – R$ 7.000,00; contador – R$ 1.800,00.
É o relatório.
2. O projeto acima descrito em detalhes trata de uma expressão artística não muito frequentemente abordada em ações culturais analisadas neste Conselho. A arte do grafite, como forma de manifestação artística em espaços públicos e dentro do universo das artes de rua, não obstante ter histórico milenar, vem se destacando na contemporaneidade a partir dos anos 1970, quando ficou marcante a iniciativa de jovens, em Nova York, de deixar em fachadas de ruas suas marcas que acabaram tendo uma evolução com técnicas e desenhos. No Brasil, a grafitagem alcançou o reconhecimento do seu conteúdo artístico e, com um toque brasileiro, costuma expressar a realidade social nos mais diversos sentidos, inclusive de problemas sociais e políticos, entre outros. O tema certamente mereceria, aqui, uma abordagem mais ampla, amparada por uma visão crítica de profissional e estudioso desta área artística, para o que este relator não se sente devidamente preparado. No entanto, tem-se como garantido e relevante o conteúdo cultural da ação pretendida neste projeto, após a leitura da sua descrição muito bem elaborada e detalhada no item 1 acima. Não obstante, para um melhor esclarecimento de alguns tópicos, este relator procedeu diligência cujo teor segue:
1) Considerando não haver menção a curadoria do projeto, haverá alguma ação ou acompanhamento que desempenhariam um papel semelhante ao de uma curadoria? RESPOSTA: Em nosso conceito, acreditamos que curadoria se refere às ações de organização, administração e seleção de bens artísticos e culturais para determinados fins (como exposições, coleções, etc.). Esse projeto pretende proporcionar a chance de os artistas produzirem novos bens artísticos, que serão os painéis pintados em cada cidade. Visto que as obras não existem ainda, não compreendemos como um curador poderia atuar neste projeto, visto que o processo de criação da obra não diz respeito ao curador, mas sim aos artistas envolvidos. O painel pronto e entregue, ficará para a cidade contemplada, independente da vontade de um sujeito curador que poderá vir a julgar essa obra. Talvez se este Conselho entenda o trabalho de curadoria de outra forma, pedimos desculpas e solicitamos que explique, por gentileza, mais detalhadamente quais atividades este profissional desempenharia e que ficaram faltando neste presente projeto. 2) Em relação a questões de segurança, APPCI, proteção e isolamento do entorno das instalações durante a produção, estão previstas as medidas necessárias? RESPOSTA: Sim, estão. Ao orçar e solicitar equipamentos e estruturas para pintar os painéis, estão incluídas todas as estruturas necessárias, incluindo as de segurança. Atualmente, devido ao alto grau de exigências para este tipo de trabalho, as estruturas já são contratadas com tudo incluso, tanto equipamentos para isolar o público do espaço, quanto para manter a segurança do próprio artista, que estará pintando em andaimes relativamente altos. Isso é uma preocupação constante de quem realiza este tipo de trabalho. 3) Considerando a toxicidade dos materiais manipulados na execução dos painéis (tintas), que medidas de proteção/segurança estão previstas, e como será o descarte das embalagens? RESPOSTA: Da mesma forma, esses equipamentos já são de praxe na compra de materiais de pintura. Ao comprar as tintas, já vêm junto as luvas, as máscaras, os rolos, etc., tudo está incluído no valor orçado e apresentado. Quanto ao descarte, quem faz grafitti já está acostumado a realizar o descarte consciente, que consiste em utilizar a tinta até o fim, para evitar restos e resíduos, depois separa as partes plásticas da lata (para que cada parte vá para um descarte específico) e por fim encaminhar para um posto de coleta especializado que o serviço púbico disponibilize na cidade.
Julgada atendida a demanda da diligência, cabe ainda alguma consideração relativa a questões de ordem mais técnica e formal, especificados nos itens 3 e 4 abaixo:
3. Glosa: item 1.7 da planilha de custos (auxiliar de produção), no valor de R$ 10.000,00, não devidamente justificado e sem identificação do prestador de serviço.
4. Condicionantes: a) apresentação ao gestor do Sistema, tempestivamente, da licença de uso do espaço nos locais da execução de cada painel; b) identificação e anuência dos artistas locais.
5. Em conclusão, o projeto 6 Direções - 2018 é recomendado para avaliação coletiva, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 223.430,40 (duzentos e vinte e três mil quatrocentos e trinta reais e quarenta centavos) do Sistema Unificado e Fomento às Atividades Culturais – Pró-cultura/RS.
Porto Alegre, 23 de abril de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
José Mariano Bersch
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 23 de abril de 2018.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Paula Simon Ribeiro, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Rafael Pavan dos Passos, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e Walter Galvani.
Abstenções: Ruben Francisco Oliveira.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 25/04/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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