Processo nº 18/1100-0000889-5
Parecer nº 230/2018 CEC/RS
O projeto DE VINHO E VIDA II é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto passou pela análise técnica do sistema Pró-cultura e foi habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura, Esporte, Turismo e Lazer, sendo encaminhado a este Conselho nos termos da legislação em vigor e a este conselheiro no dia 28 de maio de 2018. O projeto é da área de Literatura e será realizado de 1º de outubro a 28 de novembro de 2018, em Santa Maria, no Cesma (Centro Cultural), Porto Alegre, noTheatro São Pedro, Pelotas, no Teatro Guarani, Novo Hamburgo, no Centro Municipal de Cultura e em Gramado, no Teatro Elizabeth Rosenfeld. O proponente é VH PRODUÇÕES CULTURAIS E ARTÍSTICAS LTDA., e a contadora é Lauren Scasso Colman. O valor total do projeto solicitado a LIC é de R$ 359.810,00 e não há previsão de outras fontes de financiamento. Trata-se do livro “De Vinho & Vida” do poeta, compositor e escritor Gilberto Carvalho, edição do volume II de uma obra trilíngue que contém poemas nos idiomas brasileiro (sic), espanhol e inglês. Traz encartado um CD com as gravações de alguns destes poemas recitados pelo autor. O tema central é exclusivamente o vinho. Serão realizadas 06 sessões de lançamentos. Em cada uma delas será proferida palestra sobre o processo de construção dos poemas, mais um recital dos mesmos declamados pelo próprio escritor/autor e a presença de dois grandes artistas da música gaúcha, o cantor Thedy Corrêa e a cantora e apresentadora de TV Shana Müller.
METAS
Edição de 2000 livros de Vinho e Vida II;
Seis apresentações de Pockets Shows de Lançamento do livro;
Atingir um público de 1.800 pessoas nos shows com entrada franca;
2.000 CDs com poemas declamados do livro De Vinho e Vida II.
É o relatório.
2. A ligação entre a humanidade e o vinho é milenar. Das festas dionisíacas às celebrações cotidianas, a cultura do vinho está representada ao longo dos séculos por meio de esculturas e pinturas nos principais museus de arte e especializados na simbólica bebida, que ainda é tema de livros, dramaturgia e filmes. Conforme podemos ver no deus Baco (c.1595) que foi eternizado na pintura barroca de Caravaggio (1571-1610).
Esta obra exposta na galeria de Uffizi, em Florença, mostra um Baco jovem reclinado à moda clássica com uvas e folhas de videira em seus cabelos, tocando o cordão de seu roupão frouxamente drapeado. Em uma mesa de pedra a sua frente está uma cesta de frutas e um jarro grande de vinho tinto; com sua mão esquerda, ele oferece ao espectador uma taça rasa do mesmo vinho, aparentemente convidando o observador a se juntar a ele. Esta sensualidade despertada pela célebre bebida está presente também no popular poema Ode ao Vinho, do poeta chileno Pablo Neruda, que assim como Virgílio, Safo e Salomão entoaram loas ao vinho, para não falar de Omar Khayyam, poeta persa que morreu por volta de 1120, e que provavelmente é o autor do maior número de poemas relativos ao vinho feitos por um homem só. Enquanto Shakespeare falava do “espírito invisível do vinho”, o poeta francês Victor Hugo lembrava que “Deus criou a água, mas o homem fez o vinho”. Como fonte de alegria, alucinação, relaxamento e prazer, o vinho é nascente segura de arte e talvez seja a própria disposição para artistas. O vinho, para muitos autores, representa vida e morte, cuja compreensão se faz tão misteriosa quanto o processo produção da bebida. A vida é líquida — o próprio e entorpecente estado físico do vinho — para a escritora e poetisa brasileira Hilda Hilst. Em Alcoólicas, ela teceu em vários versos algo que pode ser considerado uma bela homenagem ao vinho, à liquidez da vida, que ela compara à bebida de Baco. E diz: “Miséria/ Bebendo, vida, invento casa, comida/ E um Mais que se agiganta, um Mais/ Conquistando um fulcro potente na garganta/ Um látego, uma chama, um canto. Ama-me./ Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos/ Quando não sou líquida.” Espiritual e inspirador, o vinho talvez seja o líquido que mais tenha suscitado interesse na literatura. Tão antiga quanto a bebida sagrada do deus Baco é a arte de descrevê-la. Nenhum outro drinque se prestou tanto a comparações e citações literárias. Além das festas báquicas, a ele está presente na definição do Carpe diem — colha o dia, as uvas e aproveite! —, na transfiguração do sangue divino e nos sentidos explícitos ou escondidos do vício, do trágico e do cômico. E a literatura acolhe o vinho desde os primeiros textos aos quais o homem teve acesso, o que inclui a própria Bíblia, até autores modernos como Baudelaire, e os contemporâneos Clarice Lispector e Vinicius de Moraes. O vinho ainda simboliza a fertilidade, o conhecimento, o prazer, a iniciação, bem como o sagrado e o amor divino. Para além disso, devido à sua coloração, o vinho está relacionado com o sangue, e representa a poção da vida, da imortalidade, considerado, acima de tudo, a bebida sagrada dos deuses. Algumas religiões, além da católica, adotaram o vinho como bebida santificada, como a Judaica, a Cristã Ortodoxa, dentre outras. Como já citado, Dionísio (Baco, para os romanos) é o deus grego do vinho, da viticultura e da fertilidade. Em oposição a Apolo, na mitologia, Dionísio era a divindade do excesso, da expansão, do riso, das alegrias profanas... No tocante à representação, Dionísio era retratado com uma coroa de uvas, símbolo da eternidade. Porém, muitas vezes o vinho foi considerado uma bebida perigosa e causadora da embriaguez, na medida em que estava intimamente associada aos cultos pagãos. Nesse sentido, destacam-se os denominados “bacanais”, festas de cunho religioso e sagrado destinadas ao culto de Baco (Dionísio). Na modernidade, essa expressão tornou-se sinônimo de orgia.
Analisando a amostra de poemas de Gilberto Carvalho é possível observar que o referido autor também ama o tema que estuda, pelo valor das metáforas que emprega como elemento poético e íntimo do seu trabalho, como se verifica nesta estrofe:
O melhor vinho
nos inunda a vida
e nos consome
desnudadamente;
Vai presenteando
combinadamente
a parceria, a mão
a voz, o passo.
- no copo o corpo -
firme traço e assim
incêndio e calma,
brisa e temporal.
Vital, sereno
- incondicional -
e se reserva em Ti
e guardo em Mim
Associar estes textos com as vozes de populares cantores gaúchos auxiliará com certeza a promover ainda mais o vinho como parte indissociável da cultura da humanidade, quadro no qual o Rio Grande do Sul foi precursor do cultivo em nosso país.
3. No entanto, o proponente, talvez inspirado pelo tema, comete uma série de excessos no orçamento que não se justificam em projetos desta natureza. Para preservar o uso adequado dos recursos públicos aplicamos uma glosa linear de 49%, restando o total de R$ 183.503,10 para a publicação e realização dos eventos de lançamento do livro.
4. Não consta a previsão de alvará de PPCI dos espaços onde serão realizados os shows de lançamento da obra literária, tampouco as cartas de anuência dos referidos lugares. Da mesma forma, não se verifica no projeto quaisquer medidas ou preocupações com a acessibilidade para pessoas com deficiência. Assim, resta condicionado ao proponente comprovar junto ao gestor do Sistema Pró-cultura/RS, tempestivamente, o atendimento de tais medidas, sob pena de não usufruir os recursos pleiteados.
5. Em conclusão, o projeto DE VINHO E VIDA II é recomendado para participar da avaliação coletiva, pelo seu mérito, relevância e oportunidade, estando apto a receber incentivos até o valor máximo R$ 183.503,10 (cento e oitenta e três mil quinhentos e três reais e dez centavos) do Sistema Unificado de Apoio e Fomento à Cultura- Pró-cultura RS.
Porto Alegre, 07 de julho de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 09 de julho de 2018.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, José Mariano Bersch, Plínio José Borges Mósca, Élvio Pereira Vargas, Antônio Carlos Côrtes, Erika Hanssen Madaleno, Paulo Cesar Campos de Campos, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Liana Yara Richter, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, Dalila Adriana da Costa Lopes e Walter Galvani.
Abstenções: Maria Silveira Marques e Ruben Francisco Oliveira.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 17/07/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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