Processo nº 18/1100-0001543-3
Parecer nº 294/2018 CEC/RS
O projeto PLANO ANUAL DE MANUTENÇÃO DE ATIVIDADES 2019 – FÁBRICA DE GAITEIROS (IRB) é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto Plano Anual de Manutenção de Atividades 2019 – Fábrica de Gaiteiros (IRB) foi cadastrado eletronicamente em 21 de junho de 2018 e habilitado pelo SAT/SEDACTEL em 14 de agosto de 2018; sendo posteriormente encaminhado ao CEC e distribuído a este conselheiro no dia 21 de agosto de 2018. O projeto está inserido na área da Música. Será realizado durante todo o ano de 2019 nos municípios de Barra do Ribeiro, na Sede da Fábrica de Gaiteiros; de Porto Alegre, no SESC Protásio Alves; de Guaíba, no Colégio Estadual Augusto Meyer; Butia, no Ginásio Municipal Gastão Hoff; Tapes, na Casa de Cultura Ruy de Quadros; São Gabriel, no Centro de Cultura Sobrado da Praça; de Bagé, na Biblioteca Pública Municipal e Lagoa Vermelha, na Casa de Cultura Athos Branco.
Da análise dos documentos que instruem o processo, destacamos:
Do proponente e equipe principal:
O produtor é o Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música, cujo responsável legal é o músico Renato Becker Borghetti. A contadora responsável é Marlene Teresinha Chassot e a empresa Rafael Costa - Muito Nós Cultura e Entretenimento Colaborati atua na produção executiva. Integram também a equipe principal do projeto Rogério De Oliveira Guimarães (coordenação técnica, mestre luthier de gaitas e coordenação na fabricação de gaitas), Renato Muller de Fraga, Claiton Santos da Silva e Eduardo Gonçalves Vargas (professores de gaita).
Do projeto:
O projeto contempla o plano anual de 2019 para o funcionamento da Fábrica de Gaiteiros, um projeto social que busca mudar a vida de crianças e adolescentes com música, resgatando o acordeão diatônico (gaita de 8 baixos ou gaita-ponto). O projeto, criado em 2012 pelo músico Renato Borghetti, oferece aulas gratuitas de gaita-ponto para jovens de 7 a 15 anos de idade em 8 cidades do Rio Grande do Sul, alcançando cerca de 500 jovens por ano. Além de aprender a tocar o instrumento, o participante do projeto acompanha de perto a produção de gaitas. Sendo assim, a fábrica produz gaitas e gaiteiros. As gaitas fabricadas no projeto não são comercializadas, sendo exclusivas para o uso dos alunos durante as aulas, nos estudos em casa e nas apresentações. O plano anual de 2019 contempla aulas de gaita (professores e monitores), fabricação dos instrumentos, manutenção de recursos humanos da sede na Barra do Ribeiro, eventos culturais voltados à comunidade local e distribuição de gaitas fabricadas e métodos para as outras 7 unidades.
Das Justificativas:
A justificativa de dimensão simbólica reforça o intuito de manter a tradição, além de perpetuar a arte da gaita ponto; instrumento importante para a cultura sul-riograndense. Lembra que o estado já sediou mais de 20 fábricas de gaitas e foi referência mundial na fabricação do instrumento, mas em determinado momento todas as fábricas faliram ou migraram para outros produtos.
A justificativa da dimensão econômica afirma que o projeto movimenta a economia da região, gerando trabalho e renda dentro da Fábrica de Gaiteiros, nos eventos produzidos durante o ano e nas visitações a sede do projeto, que influenciam no fluxo turístico da cidade. Além disso, os jovens participantes adquirem perspectiva de profissionalização na música.
Das metas:
- Realizar aulas regulares de gaita mediante a inscrição sem custos para crianças e adolescentes de 7 a 15 anos, mantendo quatro professores de gaita com aulas de segunda a sexta;
- Manter a fabricação de gaitas para uso exclusivo do projeto, manter o mestre luthier, dois auxiliares, matéria prima e material permanente para fabricação das gaitas;
- Realizar três oficinas com entrada franca sobre o instrumento e a fabricação, estimulando projetos de iniciação artística e profissional para crianças e adolescentes; democratizando, assim, o acesso a bens culturais. (Datas: 16/03/2019, 20/07/2019 e 16/11/2019);
-Promover encontro no final deste ciclo de atividades que tem por objetivo proporcionar troca entre os participantes das atividades desenvolvidas, além de possibilitar apresentações informais em estilo de penha; estimulando, assim, projetos de iniciação artística para crianças e adolescentes. (Data: 15/12/2019);
-Promover visitas regulares abertas e visitas guiadas ao centro cultural, feitas em grupos com inscrição prévia aberta à comunidade; contribuindo, assim, para a ampliação da interface entre cultura, turismo e educação. (Público previsto: 3000 visitas)
Dos custos do projeto:
O valor total do projeto é de R$ 239.840,00 (duzentos e trinta e nove mil, oitocentos e quarenta reais), integralmente solicitado ao Sistema Pró-cultura RS LIC.
Da acessibilidade
O produtor informa que o prédio da sede tem plano de acessibilidade.
Do impacto ambiental:
Afirma-se que o projeto é realizado com respeito e cuidados ao meio ambiente, não apenas reduzindo impactos, mas, também, sensibilizando o público. A confecção dos instrumentos é realizada com madeira certificada de eucalipto, proveniente de plantios renováveis.
Plano de Prevenção Contra Incêndio:
O projeto não apresenta o PPCI - Plano de Prevenção Contra Incêndio para os locais de realização do evento.
É o relatório.
2. O projeto consiste em um resgate da “gaita ponto” – instrumento mundialmente conhecido como acordeon, também conhecido como “sanfona” no nordeste brasileiro, mas que em terras gaúchas firmou-se como gaita. Segundo o produtor, trata-se de um acordeão diatônico com algumas diferenças em relação ao “acordeon apianado”, tendo somente botões ao invés de um teclado. Outra diferença importante é que cada botão corresponde a duas notas, uma se dá abrindo o fole e outra fechando, tornando-se um instrumento de mais difícil execução.
A Fábrica de Gaiteiros contou com o apoio da empresa Celulose Rio Grandense desde o seu início, em 2012, sem utilização de renúncia fiscal. Em diligência, o proponente afirma que o apoio, atualmente, se dá mediante necessidades urgentes e tratadas diretamente, dentro da viabilidade e possibilidades da empresa, e, que para o ano de 2019, não existe nenhuma tratativa de apoio em andamento.
A sede da Fábrica de Gaiteiros, em Barra do Ribeiro, consiste em um excelente caso de reabilitação do patrimônio arquitetônico daquela localidade; sendo situado em ponto privilegiado junto à praia Canto das Mulatas, banhada pelas águas do Guaíba. Trata-se de um dos muitos pavilhões industriais remanescentes de um período próspero da navegação no estado que é ressignificado, reabilitado e aberto aos visitantes pelo projeto. A intervenção executada no local respeita a pátina do tempo, deixando clara a passagem do tempo e enriquecendo a percepção histórica dos visitantes.
O processo de fabricação da gaita é complexo, muito baseado no trabalho manual e artesanal. Talvez por este motivo, esteve em vias de desaparecimento, sendo o resgate deste instrumento e de sua presença na música gaúcha um dos pontos importantes do projeto. Seu idealizador, Renato Borghetti, também conhecido como Borghettinho, é referência na música nativista gaúcha. Com carreira consolidada, inclusive, a nível internacional; o músico começou a tocar aos dez anos de idade, com uma gaita-ponto que ganhou do pai em Barra do Ribeiro.
O impacto social do projeto é inegável, atingindo dezenas de jovens em 8 municípios gaúchos. Nos documentários anexos em forma de link junto ao projeto cultural, podemos ouvir declarações de alguns destes jovens e crianças, que fazemos questão de transcrever:
"Trabalho com a música, realizo shows, gravações... A gaita é meu instrumento de trabalho. Estou no começo da minha carreira." (Roger Correa)
"Eu comecei como aluno, fiz aula durante dois anos, e por este período o professor Eduardo me indicou para fazer parte da fabricação. (...) A gaita mudou minha vida, porque comecei a crescer a partir daqui, e hoje tenho minha profissão." (Mateus Costa Alves)
"Aí eu vi alguns tocando e pensei, onde é que esta fábrica, tenho que entrar nela! Aí começou. (...) Eu vou seguir carreira na gaita". (Eduardo Gonzaga Gonçalves)
"Eu me sinto muito feliz tocando, eu vejo o Borghetti falando e fico me imaginando em cima do palco me apresentando com ele, me apresentando sozinha, fazendo shows. É uma coisa que penso seriamente em fazer quando crescer." (Maria Luiza Raznievski Bastos)
"Antes eu só via meu pai e meu tio tocando, agora eu toco com eles. A música mostra a alma da gente, e dividir isto com meu tio e com meu pai é muito bom" (Karoline Costa)
"Eu sempre quis aprender um instrumento, mas nunca tive oportunidade. (...) A gaita significa pra mim um melhor amigo, meu irmão, porque está sempre comigo, nas horas boas e ruins. Quando eu estou triste, eu pego a gaita e toco uma música, e quando estou feliz também." (Nicolás Ávila Souza)
Trata-se, sem dúvidas, de um projeto que cumpre com méritos os requisitos de relevância e oportunidade, tendo impactos positivos na cultura gaúcha através da formação de novos músicos, produção de um instrumento musical antes em vias de desaparecimento, difusão da música tradicional gaúcha, formação de novos públicos, fomento da economia da cultura e preservação do patrimônio cultural gaúcho.
3. Condicionantes:
Da acessibilidade:
Condiciona-se o recebimento dos recursos captados à apresentação das medidas tomadas para garantir acessibilidade para pessoas com deficiência, idosos e com mobilidade reduzida, em todos os locais de realização do projeto. Este deverá, também, integrar a prestação de contas no seu relatório físico.
Condiciona-se o recebimento dos recursos captados à apresentação do Alvará de Prevenção contra Incêndios em todos os locais de realização do projeto. Este deverá, também, integrar a prestação de contas no seu relatório físico.
4. Em conclusão, o projeto Plano Anual de Manutenção de Atividades 2019 – Fábrica de Gaiteiros (IRB) é recomendado para a avaliação coletiva em razão de seu mérito cultural – relevância e oportunidade – podendo receber incentivos até o valor de R$ 239.840,00 (duzentos e trinta e nove mil e oitocentos e quarenta reais) do Sistema Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 25 de agosto de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
Jorge Luís Stocker Júnior
Conselheiro relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 29 de agosto de 2018.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Gisele Pereira Meyer, Plínio José Borges Mósca, Antônio Carlos Côrtes, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Liana Yara Richter, Moreno Brasil Barrios, Marlise Nedel Machado, Marcelo Restori da Cunha, Claudio Trarbach e José Airton Machado Ortiz.
Abstenções: Maria Silveira Marques.
Ausentes no Momento da Votação: André Venzon, Dalila Adriana da Costa Lopes, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Paula Simon Ribeiro e José Édil de Lima Alves.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 29/08/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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