Processo nº 18/1100-0001258-2
Parecer nº 388/2018 CEC/RS
O projeto FESTIVAL CULTURAL – DE BERLIM A PORTO ALEGRE, UMA IDEIA CONTEMPORÂNEA! 1ª EDIÇÃO 2018 não é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto FESTIVAL CULTURAL – DE BERLIM A PORTO ALEGRE, UMA IDEIA CONTEMPORâNEA! 1 ª EDIÇÃO 2018 foi cadastrado eletronicamente em 30 de maio de 2018 e habilitado e encaminhado ao CEC pelo SAT/SEDACTEL em 17 de julho de 2018. Após pareceres rejeitados pelo pleno, foi redistribuído a este conselheiro no dia 08 de outubro de 2018. O projeto está inserido na área de Artes Integradas e será realizado durante os dias 27 e 28 de outubro de 2018 no Anfiteatro Pôr-do-Sol, em Porto Alegre.
Da análise dos documentos que instruem o processo, destacamos:
Do proponente e equipe principal:
O proponente é o 6 PRO EVENTOS EMPRESARIAIS LTDA., cujo responsável legal é Rodrigo Vargas Machado. O contador responsável é Francisco Hypólito da Silveira, e integram a equipe principal do projeto a empresa Efexis Marketing e Eventos Ltda (produção geral e captação de recursos) e M2 Publicidade & Eventos LTDA (produtor executivo e coordenador administrativo-financeiro).
Do projeto:
O projeto propõe a realização de um festival cultural, reunindo em um único evento manifestações culturais como música, exposição de artes, projeção de filmes, palestras e oficinas, todos com a temática do expressionismo alemão. Pretende reunir mais de trinta mil pessoas nos jardins do Anfiteatro Pôr-do-Sol, em Porto Alegre. O valor total do projeto é de R$ 232.395,00 (duzentos e trinta e dois mil, trezentos e noventa e cinco reais), integralmente solicitado ao Sistema Pró-Cultura RS LIC.
Os shows musicais previstos são “Trabalhos Espaciais Manuais”, “Moio” e “Ultramen”. A programação de cinema terá as exibições dos filmes “A Onda”, “Edukators”, “Corra, Lola, Corra” e Metropolis. Serão selecionadas obras de arte através de edital público para uma exposição, e será oferecida uma oficina de artes plásticas para alunos de escola pública. O espaço a ser ocupado pelos espetáculos, exposições e demais atrações será ambientado com decoração criada tendo como referência o expressionismo alemão; brindes e souvenirs poderão vir a ser distribuídos pelos patrocinadores.
Das justificativas:
A justificativa de dimensão simbólica discorre longamente sobre o expressionismo alemão, reproduzindo informações sobre este movimento que se estendeu por quase todas as artes, como o cinema e a pintura. Afirma-se que o projeto pretende trazer ao público um pouco deste movimento de arte. A justificativa da dimensão econômica afirma que os artistas e demais envolvidos na programação receberão cachê e passarão a fazer parte do Sistema de Informações e Indicadores Culturais, possibilitando novos contratos de trabalho. Ressalta que todos os profissionais contratados são regionais, movimentando a microeconomia local, fomentando o turismo cultural, o comércio e os serviços do município. A justificativa da dimensão cidadã aborda as medidas de acessibilidade, democratização do acesso e formação de platéia e medidas de redução dos impactos ambientais.
Programação:
27/10
20h Show de Rodrigo Munari;
15h - Oficina de Artes;
14h - Abertura da Exposição de Artes;
14h30 - Início da Exibição Filmes;
19h - Grupo MOIO Trabalho Espaciais;
28/10
17h - Show Temático David Bowie;
19h - Show Banda Ultramen.
Da acessibilidade:
O proponente declara que serão tomadas todas as medidas de acessibilidade previstas nas normas, resoluções e legislação. Será garantido o livre acesso de idosos e pessoas com deficiência ou capacidades reduzidas, reserva de vagas, banheiros acessíveis e colocação de rampas caso necessário. Em relação a acessibilidade de conteúdo, será contratado intérprete de libras para as atividades, legendagem dos vídeos produzidos e impressão dos programas das atividades em braile.
Do impacto ambiental:
O proponente indica que serão realizadas as seguintes medidas: colocação de lixeiras seletivas; a frase “Não jogue lixo na rua, mantenha nossa cidade limpa” em todos os materiais impressos; ponto de recolhimento de lixo eletrônico e lâmpadas fluorescentes.
Plano de Prevenção Contra Incêndio:
O projeto não apresenta o PPCI - Plano de Prevenção Contra Incêndio para os locais de realização do evento, mas prevê a sua contratação.
É o relatório.
2. Este conselheiro ficou bastante entusiasmado desde o momento em que o projeto aportou pela primeira vez em relatório para votação, em especial devido ao nome, bastante sugestivo. Quando apresentada a intenção de homenagear o expressionismo alemão, o entusiasmo foi ainda maior, pois abriria um leque interessantíssimo de possibilidades de diálogos, influências e intersecções com a produção contemporânea.
Como visto, a justificativa do valor simbólico do projeto fundamenta-se longamente no expressionismo alemão – movimento de enorme importância e repercussão, discorrendo sobre alguns dados e filmes. Entretanto, apesar de figurar como principal justificativa, quando verificamos a programação de filmes vemos que o expressionismo alemão ocupa, de fato, apenas uma projeção do filme “Metrópolis”. Quanto aos demais filmes listados, nos parece uma programação “cult” diversificada com destaques da produção cinematográfica alemã das últimas décadas, todos eles já exaustivamente projetados em Porto Alegre. A programação, em geral, guarda pouca ou nenhuma relação com o movimento expressionista. Também não são feitas relações locais com o tema – já que a cidade de Porto Alegre é citada no nome - por exemplo, a influência do expressionismo alemão na arquitetura porto-alegrense, tema já abordado há décadas pelo Arq. Günter Weimer e estudado também no contexto da obra arquitetônica e urbanística de Arnaldo Gladosh, pesquisado pela Arq. Anna Canez e outros.
Não obstante, o título “De Berlim a Porto Alegre, uma ideia contemporânea” nos empolgou num primeiro momento, ao nos remeter à realização anual do Festival Internacional de Cinema de Berlim, evento importante e que em 2018 teve sua 68º edição. Aliás, o filme brasileiro “Ex-Pajé” foi um dos destaques da referida mostra. Constatamos, um pouco frustrados, que a programação não contempla o cinema contemporâneo alemão, e, tampouco, a produção internacional de cinema que circula no Festival de Berlim, ficando restrito, como já nos referimos, a uma programação “cult” de alguns filmes alemães consagrados das últimas décadas.
Quanto a programação referente às artes visuais, também verificamos inconsistências. Está prevista uma oficina de artes, que, segundo o programa anexo, tem por objetivo “desenvolver junto com os participantes trabalhos artísticos utilizando diferentes técnicas de artesanato, escultura e grafismo”. Aponta-se que seriam 40 vagas, e a oficina teria duração de oito horas. Entre os objetivos, fala-se em desenvolver competência estética e artística nas diversas modalidades das artes visuais; desenvolvimento de sensibilidade e harmonização psíquica; busca de autonomia pessoal e social; treinamento de responsabilidade social e criatividade através de reciclagem de sucata; intercâmbio do aperfeiçoamento para outras demais artes (dança, música, teatro, etc.) para produção de trabalhos conjuntos; etc. São apresentadas ainda as seguintes metas: oferta de oficinas de artes plásticas e artesanatos para mães de alunos e jovens e adultos da comunidade; em médio prazo, a volta das oficinas de costura para mães de alunos e demais moradores da comunidade; e, em longo prazo, a criação de pequena loja para venda dos produtos manufaturados no Centro de Artes como ajuda à sustentabilidade da Instituição (sic). Em todas as oficinas haverá o incentivo aos alunos para que transformem essa aprendizagem em venda dos produtos em locais por eles organizados.
Ao analisar a proposta, entendemos ter objetivos e metas inviáveis para o tempo programado de apenas 8 horas, citando ações de longo prazo que demandariam meses de envolvimento e gerenciamento das atividades. Além disso, lembramos que o proponente afirma que a oficina “será oferecida para alunos de escola pública”, mas, no programa referido, fala-se de um Centro de Artes e de uma Instituição sem nomeá-los, indicando que foi em algum momento pensado para uma comunidade específica, e que, eventualmente, esta oficina possa ter sido reaproveitada neste projeto. A apresentação do projeto fala de uma oficina com “a temática do expressionismo alemão”, o que também não se verifica no programa.
Ainda sobre a oficina, não havia inicialmente a indicação do oficineiro responsável. Após uma diligência do SAT, foi apresentada uma carta de anuência que, no entender deste conselheiro, não corresponde às expectativas. Foi apresentada em papel timbrado e em nome do sócio proprietário de uma empresa agência de entretenimento e marketing esportivo, não havendo currículo que comprove vinculação com a área. Não é possível entender quem de fato exercerá a função de oficineiro e auferir sua qualificação.
Quanto à exposição de artes visuais, parece salutar num primeiro momento a iniciativa de realização um edital público. No entanto, a leitura da proposta de edital nos trouxe outros questionamentos. São apenas duas páginas, que, em geral, reproduzem alguns princípios bastante genéricos. É proposto como “tema” o expressionismo alemão, o que nos parece limitar e interferir na expressão dos artistas e sugerir apropriações mais caricatas da linguagem. Não fica claro como será constituída a banca avaliadora, quais serão os critérios de seleção, qual será o espaço especificamente reservado para esta exposição, sua duração, etc. Sugerir-se-ia, para qualificar a proposta de uma mostra de arte contemporânea em diálogo com o expressionismo alemão, que fosse designado um curador responsável para apresentação de um projeto curatorial tratando do expressionismo alemão, fundamentando a temática.
A programação musical é o principal ponto positivo do projeto, pois aponta artistas muito relevantes. Na proposta global, entretanto, nos parece que há dificuldade de contextualizá-los na proposta macro. Não foi possível para este conselheiro entender a relação entre a maior parte das atrações musicais e o expressionismo alemão – ou então, entre as atrações musicais e a Alemanha/Berlim contemporânea. Lembramos que estas relações não são necessárias para afirmar o mérito cultural da programação musical, mas da proposta global, posto que a própria sugere ser este o mote do projeto em sua fundamentação.
Por fim, o resultado final do projeto nos parece bastante confuso, uma vez que seu título remete a um possível intercâmbio entre a Berlim contemporânea e o Brasil – algo que não se constata na programação; e que toda sua justificativa está sedimentada na importância do expressionismo alemão, movimento que ocupará apenas a projeção de um dos filmes da programação (irrelevante no orçamento total do projeto). As atividades de artes visuais carecem de maior embasamento e a programação musical – que é, com efeito, a mais relevante no orçamento do projeto – carece de maior contextualização com o todo da proposta.
Recomenda-se ao proponente que busque reformatar a proposta com maior coesão interna. Em especial, sugere-se que busque profissionais aptos para orientar as escolhas de cada parte da programação, qualificando a programação de cinema, as atividades voltadas às artes visuais e musicais, fundamentando cada uma destas propostas. Também, sugere que, de fato, se articule um intercâmbio cultural com a Alemanha contemporânea.
Por fim, verificamos que não foi apresentada a carta de anuência da Prefeitura de Porto Alegre para utilização do espaço público indicado (Anfiteatro Pôr-do-Sol).
3. Em conclusão, o projeto Festival Cultural – De Berlim a Porto Alegre, Uma Ideia Contemporânea! 1ª Edição 2018 não é recomendado para a avaliação coletiva.
Porto Alegre, 16 de outubro de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
Jorge Luís Stocker Júnior
Conselheiro relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Sessão das 13h30min do dia 17 de outubro 2018.
Presentes: 23 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, Gisele Pereira Meyer, Plínio José Borges Mósca, José Édil de Lima Alves, Antônio Carlos Côrtes, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Moreno Brasil Barrios, Marlise Nedel Machado, Marcelo Restori da Cunha, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e José Airton Machado Ortiz.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Dael Luis Prestes Rodrigues e Gilberto Herschdorfer.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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