Processo nº 18/1100-0001795-9
Parecer nº 453/2018 CEC/RS
O projeto ROCK AUTORAL - 2ª EDIÇÃO - 2019 não é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto ROCK AUTORAL 2ª EDIÇÃO 2019, habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura, Esporte, Turismo e Lazer, distribuído a este conselheiro em 08 de outubro de 2018, nos termos da legislação em vigor, pertence à área de Música, com período de realização de 06 a 07 de abril de 2019 (menos de um dia, pois o evento propriamente dito começa às 19 horas do dia 06, sendo que a última das cinco bandas convidadas se apresentará a 1 hora na madrugada do dia 07), no município de Venâncio Aires - Ginásio de Exposições do Parque Municipal do Chimarrão - acesso Dona Leopoldina. O projeto é apresentado pelo produtor cultural BOLA PRODUTORA LTDA. - ME, CEPC 5523; a contadora é Gabriela Lenz Ceratti, CRC: 081578/0-3. O projeto em segunda edição, reafirma “o potencial da música autoral e performance cênica; acessibilidade assegurada para PcD; programação composta por Rafael Sehn Trio, Thomás Lenz & A Banda, Tequila Baby, Gelpi e Tenente Cascavel, com apresentações de 60 minutos para cada banda, garantem a sonoridade de diferentes vertentes do Rock: instrumental, groove, punk rock, folk e o clássico rock gaúcho. Entre cada show musical, mantendo a energia e vibração dos shows, será apresentado performance de danças urbanas, através de coletivo de Dança.”. Não há maiores detalhes sobre a apresentação de dança, a não ser anuência e currículo de Francelle Costa da Silveira que se responsabiliza pela atração nos intervalos de cada show. A respeito da acessibilidade, além da sumária frase exposta na apresentação, limita-se a citar a Constituição quanto ao direito de acesso à cultura, sem descrever quais medidas de acessibilidade garantirá para as pessoas com deficiência. Embora o local de realização seja em um parque municipal, não há participação financeira da Prefeitura, muito menos carta de anuência e plano de redução de impacto ambiental, ou previsão na planilha de custos do PPCI para o local do evento. Todavia, solicitam o total de R$ 88.850,00 (oitenta e oito mil oitocentos e cinquenta reais) ao financiamento do Sistema LIC RS.
Metas:
É o relatório.
2. Em 20 de dezembro de 2017, este conselheiro emitiu a seguinte análise de mérito da referido proposta, naquele momento em sua 1ª edição: “estamos diante de um projeto que teria futuro senão esquecesse-se de tantos atributos no presente. No afã de ser expedito na apresentação e justificativa em relação às dimensões simbólica, econômica e cidadã, não traz inovação, tampouco processos de interação e encontros entre o público e o território das ações gastronômicas do FECEVA, do qual só sabemos que é uma festa de cerveja artesanal em sua segunda edição. Analisados os itens do depauperado cadastro deste projeto cultural, restou-nos buscar referências nos releases das bandas em anexo que, por sua vez, não deixam dúvidas quanto à qualidade artística. Contudo, o projeto em seu caráter simbólico não chega a formular uma intenção realmente produtiva no campo da cultura e da arte, além de montar um palco para apresentação de seis conhecidas bandas regionais no seu gênero musical, com apresentações cênicas no intervalo dos shows, porém são atrações a definir, talvez porque o proponente também tenha julgado apenas a ideia suficiente. Não podemos esquecer que cultura também é cultivo de conhecimento. A cultura não deve ser só usada como meio, mas como fim.” Perdoem-me repetir as palavras daquele parecer, mas faço isto para evidenciar que o proponente também aposta, como estratégia neste CEC, na mera repetição para tentar aprovar projeto que, se no seu original já não empolgava, na sua reprise aprofunda a decepção nas três dimensões da cultura. A propósito deste tema, a cultura, citamos na época daquela não recomendação, acompanhada pelo pleno, o trecho final do conhecido discurso de Mario Vargas Llosa, sob o título Breve Discurso sobre a Cultura, que humildemente voltamos a ofertar ao proponente de modo que possa considerar em futuros projetos estes preceitos:
Uma cultura pode ser experiência e reflexão, pensamento e sonho, paixão e poesia e uma revisão crítica constante e profunda de todas as certezas, convicções, teorias e crenças. Mas ela não pode se afastar da vida real, da vida de verdade, da vida vivida, que nunca é a dos lugares comuns, do artifício, do sofisma e frivolidade, sem o risco de desintegrar-se. Posso parecer pessimista, mas minha impressão é que, com uma irresponsabilidade tão grande como a nossa irreprimível vocação para o jogo e a diversão, fizemos da cultura um daqueles vistosos mas frágeis castelos construídos sobre a areia que se derrubam no primeiro golpe de vento (Granada, junho de 2009).
Reforçamos que qualquer semelhança da metáfora do castelo de areia usada pelo Nobel de literatura com um palco montado para um dia de evento não é mera coincidência. Além dessa reflexão sobre o significado da cultura e os projetos que aportam náufragos, aqui, neste Conselho Estadual de Cultura, oferecemos novamente ao proponente e sua equipe que, em uma terceira tentativa por vir, repensem, entre outros aspectos deste projeto, os termos de acessibilidade, o que significa refletir e promover o acesso a tudo que a arte tem a oferecer, na forma de conteúdo e potenciais desdobramentos, para o maior número de pessoas. Todos são públicos em potencial e podem fruir do que existe de melhor: pessoas com deficiência, público da saúde mental, em vulnerabilidade social, idosos, crianças e todos aqueles para quem a acessibilidade possa estar dificultada devido às barreiras físicas, sensoriais, comunicacionais e atitudinais. A acessibilidade não deve promover o acesso ao que já existe e está instituído, mas também gerar a tomada de consciência sobre o que se deseja, para poder assim intervir na realidade. Neste sentido, serve de referência o recente projeto da área musical “Broadway em 4 tempos”, de Gabrielle Fleck, financiado pelo Pró-cultura RS, que demonstrou grande sensibilidade ao dispor do lado do palco três intérpretes de Libras que se revezavam para transmitir, de forma emocionante, a diversidade e plasticidade da coletânea musical apresentada por orquestra, bailarinos e a notável cantora. Não obstante a complexidade das interpretações cênico-musicais, Gabrielle encontrou momento durante sua apresentação para compartilhar com a plateia, também em sinais de libras, alguns versos cantados de forma esplêndida. Portanto, quanto mais produzirmos heterogeneidade e considerarmos as diferenças, mais atuaremos na construção permanente de uma sociedade plural, onde todos podem ser iguais em direitos, por reconhecermos suas diferenças. No entanto, investir na estratégia da repetição para tentar construir propostas culturais, é persistir no mesmo, o que denota até uma certa ideia de atraso, pois, de um ano para o outro, a proposta já não aprovada assim em 2017, apenas mudou a nominata das bandas em sua programação. Seguimos recomendando ao projeto se diferenciar futuramente em seu objetivo, justificativa e metodologia.
3. Em conclusão, o projeto Rock Autoral - 2ª Edição - 2019 não é recomendado para a avaliação coletiva.
Porto Alegre, 04 de dezembro de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Sessão das 13h30min do dia 04 de dezembro 2018.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Ruben Francisco Oliveira, Gisele Pereira Meyer, José Édil de Lima Alves, Antônio Carlos Côrtes, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Artur Santos Daudt de Oliveira, Marlise Nedel Machado, Marcelo Restori da Cunha, Claudio Trarbach.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Dalila Adriana da Costa Lopes.
Ausentes no Momento da Votação: Jaime Antônio Cimenti.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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