Processo nº 18/1100-0001454-2
Parecer nº 306/2018 CEC/RS
O projeto FESTIVAL SUL BRASILEIRO DE BLUES é recomendado para avaliação coletiva.
1. O projeto Festival Sul Brasileiro de Blues habilitado pela Secretaria de Estado da Cultura e encaminhado a este Conselho, nos termos da legislação em vigor, trata da realização de um festival de música, inserido no segmento de Artes Integradas, a ser realizado em Porto Alegre.
Trata-se de um festival de blues a ser realizado de 07 a 09 de dezembro de 2018, na Esplanada da Restinga, na Praça Julio Mesquita e no Parque Farroupilha.
Na apresentação e descrição do projeto, o proponente relata que se trata de um festival de Blues, e define:
Blues é mistura, é Jam. No Brasil confunde-se a música blues como sendo elitista; na realidade é muito pelo contrário. Ela vem da voz do povo. Do povo oprimido, marginalizado, discriminado. Originado na mistura do canto com o tambor. Originou o rock, hip-hop, o rap. É música para dançar, para sentir, para eviscerar” definido assim por Luciano Leães, um dos mais célebres pianistas blues da história do rio Grande do Sul, fundador do clube do Blues e que desde os 17 anos divide o palco com os maiores nomes do blues mundial (...). Este projeto propõe essa “mistura” musical: unir o Blues Gaúcho, nas suas diversas vertentes – piano, guitarra, harmônica, popular, rural/raiz – com outros aspectos culturais de similar contexto social local, como o Tambor Africano, o Hip-hop, as danças urbanas e o tão atual Slam (....). A partir do convívio com os grandes “bluezeiros” mundiais, Luciano aprendeu que o blues não se faz apenas na música, pelo contrário; o que mais importa e o que mais é valorizado é a integração social, a possibilidade de expressão popular, que é de onde provém o surgimento do próprio blues. Nascido no fim do século XIX nas canções entoadas durante o trabalho nas plantações de algodão no sul dos Estados Unidos, o blues apareceu como manifestação cultural e social própria do negro diante da segregação e da situação opressora.
No Brasil, paralelamente, outros ritmos e musicalidades refletem esta cultura afrodescendente que foram aos poucos também criadas como ferramentas culturais de afirmação do negro diante da sociedade colonial e como uma forma de se introduzir perante estas. através da demonstração da resistência, intenção de mudança, recusa da um estado de subordinação e anonimato. Trazendo para o contexto atual do sul do Brasil, este projeto propõe uma integração jamais vista em todo o território brasileiro.
O projeto está sob a produção cultural de EFEXIS Marketing e Eventos Ltda. Na equipe principal constam: Agnata Marketing e Eventos Ltda., na função de direção de palco, projeto gráfico e coordenação do projeto; Mosaico Produções Comércio e Serviço Ltda., na função de direção técnica e produção de logística; e, Tiago Magrini Rigo, como assistente de produção; Francisco Hipólito da Silveira, CRC 31.305, como contador.
Dimensão Simbólica: linguagens e práticas artísticas, referências estéticas
Textualmente o proponente diz:
O Brasil tem hoje a maior população de origem africana fora da África e, por isso, as tradições desse continente exercem grande influência na cultura brasileira, principalmente na musicalidade. Ainda persiste uma visão generalizada de que a presença negra no Rio Grande do Sul foi pequena, porém, os dados históricos refutam essa ideia e sabemos que por ganância e preconceito os conhecimentos das culturas afro foram suprimidos e ignorados pelo poder branco ao longo de muitos anos. Mesmo que grande parte da construção da identidade do brasileiro seja oriunda de saberes afros, pouco se fala, conhece e cria espaços para estas erudições. É através deste entendimento que se propões através de um Festival de Blues, que junta a tradição e história de povos que dividem raízes e cultura similares a se encontrarem para momentos de trocas, identificação e celebração. Revelando ao grande público a semelhança e importância dos povos africanos na construção cultural e social das Américas. O Blues, Tambor e ritmos brasileiros representam a junção e co-construção da identidade atual dos povos das Américas. O Slam (e o Slam Poetry, aqui chamado de Peleia Poética, campeonatos de poesia) foi criado nos anos 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que a cultura hip hop tomava forma. Segundo a pesquisadora Jéssica Balbino, o slam contribui na autorrepresentação de minorias, como mulheres, negros, lésbicas e gays e moradores das periferias em geral. Precisamos combater os preconceitos raciais direcionados aos negros e à música negra, aproximando todos e incentivando a representatividades desta cultura.
Dimensão econômica: aspectos relacionados à economia da cultura, geração de empregos e renda, fortalecimento da cadeia produtiva, formação de mercado para a cultura. Neste campo o proponente justifica:
Um projeto com esta relevância possui em si a necessidade de movimentar toda a cadeia produtiva. São estimados 84 artistas contratados diretamente, somando todas as apresentações. Na sua execução serão contratados os serviços de produção, assistentes, transporte, músicos, artistas, locação de equipamentos de som, de luz, de palco, designer gráfico, assessoria de imprensa, gráfica, liberações municipais, limpeza, segurança, banheiros, passagens aéreas, hotéis, restaurantes, entre 3 de 13 outros. Trata-se de uma iniciativa que movimentará a economia da cultura na contratação direta de mais de 100 profissionais em todos os segmentos necessários. Além disso ele também irá movimentar a economia local. Todos artistas participantes do projeto são atuantes profissionais que necessitam de apoio para contribuir para como o entretenimento social destinado ao público geral de maneira mais ampla e consistente. Tais profissionais tem experiência de anos e conhecimento. O uso de espaços públicos é um incentivo extra ao uso comum e apropriação coletiva, sempre visando e educando para a circulação, lazer, recreação contemplação e conservação dos mesmos. Servindo assim de referência para gerar valor imaterial à cidade. A presença do Clube do Blues como um dos idealizadores deste projeto também agrega muito, pois é o projeto responsável por inserir o Rio Grande do Sul na rota de shows de blues nacionais e internacionais.
Dimensão cidadã: neste campo o produtor informa que,
O projeto universaliza o acesso à musicalidade e celebração da integração cultural musical e consagração pela ancestralidade. Haverá ampla divulgação dos eventos. Os locais escolhidos para os shows, ao ar livre, em locais públicos e com grande fluxo de pessoas, o horário e a acessibilidade facilitada ensejam condições adequadas para o comparecimento de muitas pessoas. A inserção do hip-hop, dos tambores e do slam, junto ao blues, traz um sentimento de pertencimento muito grande ao público. Além do mais, artistas da própria comunidade serão inseridos em cada apresentação.
Objetivos e metas:
Objetivo geral: realizar um festival de blues e outras vertentes artísticas descendentes da cultura afro, valorizando e resgatando a sua verdadeira identidade.
Objetivos específicos:
- Democratizar a cultura através da musicalidade;
- Resgatar e incentivar o conhecimento histórico e importância das raízes da cultura afro na cultura brasileira;
- Estimular a valorização da cultura negra, do negro e do Blues;
- Oportunizar um momento de representatividade da cultura negra;
- Integrar a musicalidade de diferentes povos através de uma arte e linguagem tão antiga e universal que é a música;
- Celebrar e reconhecer a possibilidade de pontos comuns e trocas entre diferentes estilos musicais;
- Movimentar e fortalecer o mercado da música;
- Estimular a ocupação de espaços públicos através da arte;
- Promover a diversidade, tolerância, cultura da paz e não violência;
- Fortalecer a nova vertente poética Slam.
Da Metodologia:
Em linguagem clara, o proponente discorre sobre a metodologia empregada esclarecendo as ações necessárias para um desempenho de sucesso.
Esclarece que para os shows, além de toda a equipe de produção, contaremos com o apoio total do Clube do Blues, que já possui um currículo invejável de coordenação e produção de shows aqui no estado.
Quadro de financiamento:
O valor total proposto é de R$ 239.866,70 totalmente solicitados à LIC.
Não tem receitas originárias da prefeitura.
Não tem outros patrocínios nem receitas de comercialização de bens e serviços.
É o relatório.
2. O projeto está instruído com os documentos necessários para a apreciação do seu mérito. Algumas retificações solicitadas pelo SAT na diligência foram efetuadas.
É um projeto consistente, amplo e abrangente, valorizando a cultura musical do Blues, e demais vertentes artísticas descendentes da cultura afro, valorizando e resgatando a sua verdadeira identidade, como consta em seu objetivo geral.
Seus objetivos, geral e específicos, são coerentes com o que se propõe.
Condicionantes:
Condicionamos a liberação dos recursos à anuência expressa da Prefeitura de Porto Alegre para utilização da Esplanada da Restinga, Praça Julio Mesquita e Parque Farrroupilha para os dias e horários elencados no projeto.
No campo da dimensão cidadã deveriam constar medidas de acessibilidade e espaço confortável destinado a pessoas com deficiências, idosos, gestantes e outros.
Não identificamos no corpo do projeto ações e medidas para reduzir o impacto ambiental, tais como colocação de lixeiras e contêineres para coleta de tipos diferentes de detritos nem referência a PPCI. Estas medidas de segurança e de preservação ambiental deverão ser comprovadas junto ao gestor do Sistema.
3. Em conclusão, o projeto Festival Sul Brasileiro de Blues é recomendado para avaliação coletiva, em razão do seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo receber incentivos até o valor de R$ 239.866,70 (duzentos e trinta e nove mil, oitocentos e sessenta e seis reais e setenta centavos) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e fomento às Atividades Culturais- Pró-cultura RS.
Porto Alegre, 27 de agosto de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
Paula Simon Ribeiro
Conselheira Relatora
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 22 de outubro de 2018.
Presentes: 24 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Jaime Antônio Cimenti, Ivo Benfatto, Ruben Francisco Oliveira, Plínio José Borges Mósca, José Édil de Lima Alves, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e José Airton Machado Ortiz.
Abstenções: Jorge Luís Stocker Júnior, Marcelo Restori da Cunha, Gisele Pereira Meyer, Marlise Nedel Machado e Moreno Brasil Barrios.
Impedimentos: Antônio Carlos Côrtes.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 24/10/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS