Processo nº 18/1100-0002221-9
Parecer nº 456/2018 CEC/RS
O projeto BLOCO DA LAJE - 4 ESTAÇÕES é recomendado para a avaliação coletiva.
1. O projeto Bloco da Laje - 4 Estações tem como produtor cultural M51 PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA – EPP, CEPC: 4411, como contador, Cristiano Cunha de Melo, CRC 59655-0 e se realizará de 07 de julho a 09 de novembro de 2019, em Porto Alegre/RS e São Paulo.
Segundo o proponente, o projeto em tela se insere na realidade urbana da cidade de Porto Alegre e influencia na contemporaneidade artística do Rio Grande do Sul. Contemplado pelo edital NATURA MUSICAL 2018 (a ser executado em 2019 e aguardando aprovação da LIC). O projeto foi aprovado na categoria Edital Rio Grande do Sul, como pode ser conferido na carta de intenção de patrocínio da Natura, em anexo ( https://www.natura.com.br/blog/mais-natura/natura-musical-anuncia-os-50-artistas-bandas-e-coletivos -patrocinados-em-2019).
O projeto propõe a realização de cinco ações diretas através de diferentes linguagens e expressões artísticas. Entre elas está um (1) registro audiovisual do processo de criação dos artistas para composição de um mini documentário, duas (2) gravações de 4 videoclipes, três (3) residências artísticas e quatro (4) shows em São Paulo e cinco (5) performances de rua em Porto Alegre. O Bloco da Laje é um bloco de rua carnavalesco que, em 2019, estará completando 8 anos. Nessa trajetória, tem ocupado lugar de destaque no panorama artístico nacional apresentando-se em grandes festivais por todo o país. Entre imagem e som, real e virtual, o Bloco da Laje cria neste projeto um território cultural transformador e coletivo que pretende expandir nacionalmente esta genuína expressão artística gaúcha. O registro audiovisual e os videoclipes terão assinatura da Bloco Filmes, expoente produtora audiovisual da nova geração do vídeo no Rio Grande do Sul. A residência artística em São Paulo será com a renomada banda Francisco El Hombre. Durante o processo de realização, o projeto será divulgado e apresentado ao público de maneira versátil. Serão lançados conteúdos de making-off e teasers durante todas as etapas em blogs e redes sociais. O Bloco da Laje arrasta milhares de pessoas coloridas pelas praças e bairros da cidade. Por onde passa deixa alegria e amor, coisas muito necessárias nos dias atuais. Este projeto fortalecerá a cultura da paz proporcionando um momento único de co-criação, troca e vivências para amplificar as linguagens que o Bloco já se utiliza.
A dimensão simbólica do Bloco da Laje se constitui no carnaval coletivo, na rua, nas telas e nos palcos. O grupo construiu uma linguagem própria com uma expressão cênica carnavalizada, inspirada na cultura popular e na composição de jogos e canções. O projeto Bloco da Laje terá como resultado um produto cultural híbrido, que transita em diferentes segmentos artísticos. A composição estética do bloco se origina no improviso, na alegria, no encontro. O conceito “Laje” considera mais a criatividade do que o luxo, mais a beleza do artesanal do que a beleza padronizada sempre em busca da expressão com mais originalidade. O coletivo se diferencia por procurar sua própria forma de brincar e de oferecer estas brincadeiras ao público: esteticamente organizado, pulsante e principalmente convidativo à participação, à celebração e a momentos de comunhão através de uma experiência artística compartilhada, onde o público se integra fisicamente à obra e se torna co-autor. O Bloco da Laje não é apenas um bloco de carnaval, é um estuário no qual artistas de vários segmentos se encontram. Possui uma energia criativa tão forte que leva mais de 10 mil pessoas na saída de rua durante o carnaval. Além disso, dezenas de outros grupos foram formados a partir destes encontros, como Crionças, Não Mexe Comigo Que Eu Não Ando Só, Cósmica, Bate & Sopra, Orquestra Maravilha, etc. As ações previstas nesse projeto irão contemplar um enorme número de participantes, tanto na sua produção direta quanto no desfrute das ações programadas. O projeto Bloco da Laje levará a mensagem de paz contida na expressão artística deste coletivo, lutador pelo fim dos preconceitos e pela propagação da alegria. O projeto irá ampliar a importância histórica do Rio Grande do Sul na vanguarda artística nacional.
A dimensão econômica está estimada para movimentar mais de 40 artistas contratados diretamente, somando todas as etapas previstas na execução desta proposta, pois para na sua execução serão contratados os serviços de produção, assistentes, transporte, músicos, artistas, locação de equipamentos, designer gráfico, assessoria de imprensa, gráfica, limpeza, segurança, banheiros, translados, hotéis, entre outros. Trata-se de uma iniciativa que movimentará a economia da cultura na contratação direta de mais de 100 profissionais em todos os segmentos necessários. Além disso, também irá movimentar a economia local. Todos os artistas participantes do projeto são atuantes profissionais que necessitam de estímulo para continuar contribuindo para a cultura local de maneira mais ampla e consistente. O uso de espaços públicos é um incentivo extra ao uso comum e apropriação coletiva, sempre visando e educando para a circulação, lazer, recreação contemplação e conservação dos mesmos. Servindo, assim, de referência para gerar valor imaterial à cidade.
A dimensão cidadã se reflete através das ações previstas, que serão gratuitas: as apresentações e a performance de rua serão em locais públicos e com sempre com grande fluxo de pessoas. O horário e a acessibilidade facilitada ensejam condições adequadas para o comparecimento de muitas pessoas. A inserção dos videoclipes e do registro audiovisual no projeto também amplia o acesso popular aos bens previstos, vistos que estes serão postados em blogs, sites e redes sociais para livre acesso a qualquer pessoa. Além disso, os artistas, em sua totalidade, são gaúchos e gaúchas que possuem profunda relação com a comunidade porto alegrense. As diversas saídas de rua nos carnavais de Porto Alegre, as participações em Festivais como Morrostock e Psicodália e os shows nas principais casas noturnas da capital gaúcha fazem as ações do Bloco da Laje serem seguidas por milhares de pessoas, fator determinante do quesito formação de plateias. Como os cortejos se dão pelas ruas, são amplamente acessíveis a pessoas deficientes.
É o relatório.
2. O Bloco da Laje tornou-se referência no carnaval de blocos de Porto Alegre. Seus criadores tem origem no teatro, principalmente no teatro de rua, e, essa experiência cênica é o diferencial que facilita o jogo estabelecido com o público, numa espécie de recriação mais branda e festiva do ritual dionisíaco. Os aspectos mais violentos do ritual são substituídos pelo lúdico, sem abrir mão do lado subversivo de fazer ascender a deus todos aqueles que comunguem do rito. Claro que a comunhão neste caso, é a comunhão da folia e do jogo popular. No projeto 4 Estações, selecionado pelo edital da Natura, além do material audiovisual que será produzido para ser disponibilizado em blogs, sites e redes sociais para livre acesso a qualquer pessoa, o bloco vai expandir sua projeção, ao realizar apresentações também em São Paulo e aprimorar suas trocas através de uma residência com a banda Francisco El Hombre, grupo independente formado em Campinas – SP indicado ao Grammy de 2017 na categoria melhor canção em língua Portuguesa. Francisco El Hombre é uma banda inovadora e bem postada em seu discurso político e na defesa do feminismo. Por ser ligada a movimentos sociais, pode ser uma boa influência no sentido de deixar mais claro as posições sociais e políticas do Bloco da laje.
As duas falhas do projeto estão na dimensão cidadã, primeiro por não prever apresentações do bloco em bairros mais periféricos como a restinga, onde poderia haver uma grande troca carnavalesca e popular. Depois, por citar as ruas de Porto Alegre como espaço de acessibilidade, pois é sabido que as ruas da capital deixam muito a desejar no quesito acessibilidade a pessoas com deficiência. A questão da acessibilidade deve ser olhada com mais atenção e seriedade para que se promova realmente um projeto de acessibilidade que abarque toda sua diversidade de pessoas com deficiência. No entanto, são questões simples de serem corrigidas diante dos méritos que o projeto demonstra em sua dimensão simbólica, ao possibilitar a instrumentalização e expansão de seu coletivo artístico para além das fronteiras.
Condiciona-se a liberação dos recursos deste projeto à observância das medidas de segurança, incluindo o APPCI, além de medidas de redução de impacto ambiental e acessibilidade. E caso haja a utilização de menores nas apresentações é necessário a inclusão de alvará do ECA e o cumprimento dos termos da Lei do Artista – Lei nº 6533/1978, Decreto nº 82385/1978, Portaria MTB nº 656/2018 e Normas de Segurança do Trabalho: NR10, NR18 e NR 35 nas contratações de artistas e técnicos profissionais.
3. Em conclusão, o projeto Bloco da Laje - 4 Estações é recomendado para a avaliação coletiva, em razão de seu mérito cultural – relevância e oportunidade – podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 142.400,00 (cento e quarenta e dois mil e quatrocentos reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 07 de dezembro de 2018, ano do cinquentenário do Conselho Estadual de Cultura.
Marcelo Restori da Cunha
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 10 de dezembro de 2018.
Presentes: 21 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Ruben Francisco Oliveira, Gisele Pereira Meyer, Plínio José Borges Mósca, José Édil de Lima Alves, Antônio Carlos Côrtes, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Jorge Luís Stocker Júnior, Artur Santos Daudt de Oliveira, Marlise Nedel Machado, Claudio Trarbach, Dalila Adriana da Costa Lopes, André Venzon e José Airton Machado Ortiz.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 14/12/2018 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
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