Processo nº 19/1100-0000315-5
Parecer nº 106/2019 CEC/RS
O projeto GRAMADO JAZZ & BLUES FESTIVAL - 1ª EDIÇÃO é recomendado para a avaliação coletiva.
1. Produtor: Traga Seu Show Ltda
Período de Realização: de 07/06 à 30/09/2019
Responsável Legal: Bruno Melo Pereira
Função: Proponente
Coordenador artístico: Carlos Badia
Área do Projeto: Música
Local de realização: Gramado
Contador: Escritório SOMMA de Contabilidade
Valor total do evento: R$ 713.018,00
Recursos próprios do proponente: não há
Receitas previstas com a comercialização de bens e serviços: R$ 18.000,00
Patrocínios ou doações, sem incentivo fiscal: não há
Recursos Orçamentários do Estado: não há
Receitas originárias do MinC: R$ 350.818,00
Valor proposto ao SAT: R$ 344.200,00
Valor habilitado pelo SAT: R$ 315.600,00
É o relatório.
2. O Gramado Jazz & Blues Festival será realizada em três dias, com três apresentações diárias, com grupos locais, nacionais e internacionais. Dentro da programação haverá atividades culturais ao ar livre, shows de duos instrumentais por bares e restaurantes da cidade, além de debates sobre música, cinema, turismo e o mercado cultural. Na parte educacional, serão realizadas de master classes com músicos consagrados no cenário musical, oficinas para crianças e capacitação para professores da rede municipal de ensino.
A programação principal do Gramado Jazz & Blues Festival é dividida entre atividades ao ar livre e shows na Secretaria Municipal de Cultura. Serão seis apresentações no Lago Joaquina Rita Bier, sendo três de grupos locais, valorizando os artistas da região e oportunizando o intercâmbio entre músicos iniciantes e consagrados. Entre uma apresentação e outra haverá a participação de DJs com música instrumental. Na Secretaria de Cultura serão realizadas três apresentações a preços populares de 40 reais, praticando-se a meia-entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos. Também serão selecionados duos de jazz e blues da região para realizarem 20 apresentações em bares e restaurantes da cidade com entrada franca. Essas atividades ocorrerão em 3 de 16 dias que antecedem ao festival, com o objetivo de criar o ambiente para a realização do evento.
O Gramado Jazz & Bues Troupe, grupo formado por músicos da região, realizará 20 intervenções musicais gratuitas nas ruas da cidade nos dias que antecedem ao festival, com o objetivo de divulgá-lo. Uma semana antes do início do festival será realizado um picnic ao ar livre com a participação de DJs de música instrumental (uma espécie de aquecimento).
No período do festival, serão realizados debates sobre o mercado da música, do cinema, da cultura e a sua relação com o turismo. Haverá também master classes com músicos consagrados, voltadas para estudantes de música, músicos iniciantes e profissionais que desejam aprimoramento, bem como uma mostra de filmes, selecionados para mostrar a relação entre a música e o cinema, especialmente por se tratar da cidade que realiza o Festival de Cinema de Gramado.
Com o objetivo de criar um grupo permanente de percussão, serão realizadas 28 oficinas com estudantes e professores da rede municipal de ensino. Com exceção dos três shows na Secretaria Municipal de Cultura, com preços simbólicos entre 20 e 40 reais por noite, os outros seis shows no Lago Joaquina Rita Bier serão gratuitos, além de todo o restante da programação.
3. Análise de mérito
Minha relação com o jazz é antiga e de grande admiração. Reproduzo a seguir crônica publicada em meu livro Nova York como testemunha:
“Blue Notes
A cidade que nunca dorme.
E as sirenes nunca se calam.
Como uma fatia de pizza no Joe’s Pizza, que dizem ser a mais saborosa da cidade. A massa fina e crocante está coberta por uma camada de molho mais fina ainda. Isso para que fique pronta rapidamente, exigência em uma cidade onde todos têm pressa. Depois dou uma passada no Café Wha?, onde Bob Dylan iniciou a carreira, e encerro o dia começando uma noitada de jazz. Há muitas casas no Greenwich Village, o difícil é saber qual a melhor.
O 55 Bar funciona desde a Lei Seca num porão difícil de encontrar. Apresenta bandas de blues a shows de Mike Stern, o antigo guitarrista de Miles Davis. No Cornelia St Café há saraus literários do Writers Room, um grupo de escritores locais. E pela Village Vanguard já passaram os maiores astros que o jazz produziu nas últimas décadas.
Deixo o improviso para os músicos.
Vou ao local mais badalado.
O Blue Notes é a mais famosa casa de jazz de Nova York, referência musical no bairro; ele que é a própria referência musical da cidade. Já a frequentei em outras viagens, mas ela está sempre na moda. Como tudo em Nova York, se renova a cada dia; a programação é feita com o maior cuidado. Improviso aqui só na genialidade dos músicos.
Pode-se sentar às mesas, em frente ao palco, ou ao balcão. O som é o mesmo, varia apenas o preço do couvert, o mais caro da cidade para este tipo de show. Uma vez, na mesa ao lado da minha, um grupo de japoneses comeu costeletas de porco e conversou durante todo o espetáculo, e eu me odiei por ter escolhido ficar aonde os caras vão para jantar. Mas nem todo mundo é assim. Woody Allen já deu canja aqui.
Dizem.
Eu nunca vi.
Já assim de saída, para entrar no clima do ambiente e antes que os músicos subam ao palco, peço um Blue Note Martini, um coquetel criado pelos barmen da casa. O copo com a vodka com suco de limão e curaçao emite luz própria, iluminando a penumbra do local. Tomado no balcão e com uma visão privilegiada do palco, me sinto parte do show. E que show!
Tenho a sorte de assistir Stanley Clarke, o menino prodígio da Philadelphia Academy of Music que, tão logo chegou à Nova York, explodiu com um estrondoso sucesso. Solando em um baixo acústico, ele revolucionou o jazz colocando o instrumento na frente da banda. Um improvisador nato.
Discípulo de John Coltrane, ele tocou com Dexter Gordon e Stan Getz, entre muitos outros. Ganhou um Grammy e uma infinidade de prêmios e foi classificado pelo Los Angeles Times como “a revolutionary force on bass guitar”. Já nos primeiros acordes me cai o queixo. É.
Mas disfarço.
Acho que ninguém viu.
Segue-se uma hora e meia do mais puro jazz, a banda é afinadíssima; ouvimos extasiados. Mas o ponto alto é quando os holofotes se concentram em Stanley Clarke e somos brindados com um solo onde as notas musicais são intercaladas com o silêncio provocado entre o dedilhar das cordas e a batucada na madeira do grande instrumento. Um baixista que acompanha a si próprio na percussão.
Lá pelas tantas, para dar uma folga aos nossos retesados sentidos, ele apresenta a banda. Formada por jovens músicos, faz uma brincadeira dizendo que a idade dele é maior do que a soma das idades dos seus três garotos. Que, por sinal, também são muito bons.
Gosto dos improvisos do jazz.
E não só na musica.
Na saída como um cachorro-quente na esquina, junto com outros retardatários. Grande parte da cidade dorme, mas o bairro em torno da universidade está bem acordado. Muita gente saindo dos pequenos teatros, a maioria salas de comédias. Aquelas caras de quem veio, ouviu e gostou. Agora, um último trago.
A cosmopolita vila me envolve na sua atmosfera, o jazz e os drinques me fazem esquecer a hora. O álcool, em todas as suas variáveis, é que dá sentido às fantasias deste mundo louco. Depois, vem o dinheiro; mas bem depois. E, nisso, Nova York é a número um.
Dispenso o subway e volto de táxi para o hotel, em meio às sirenes das ambulâncias, dos bombeiros e da polícia, trilha musical de uma cidade sonâmbula. Escadarias de metrô não combinam com alguns Blue Note Martini a mais. Apenas no ano passado dezenas de pessoas morreram atropeladas pelos trens. Não quero dar trabalho aos paramédicos de plantão.
Uma vila mágica ao som do jazz.
A poucas quadras do centro financeiro do mundo.”
A instrumentação do Jazz teve influência direta de muitos grupos, enquanto o Blues continuou fiel aos seus instrumentos originais (violão de aço, voz e gaita diatônica). O Jazz vive nos últimos anos um ressurgimento e o Brasil possui uma grande quantidade de festivais. Assim, a realização de um festival na Serra Gaúcha tem uma importância e um significado imenso, pois é uma cidade cosmopolita onde aportam inúmeros perfis de públicos, vindos seja pelo interesse turístico ou para congressos. O festival, além de reunir grandes músicos do jazz e blues, irá valorizar a produção musical de qualidade e dar visibilidade à cena musical local e seus artistas e produtores.
4. Glosas
Os valores, de uma forma geral, são altos. Tendo em vista os parcos recursos do Estado em financiar projetos culturais através de renúncia fiscal, deve-se enxugar ao máximo os custos de cada evento para que um número maior de pessoas se beneficie. Assim, gloso em 10% (dez por cento) o valor habilitado pelo SAT, num total de 31.560,00 (trinta e um mil, quinhentos e sessenta reais), aplicado a critério do produtor, exceto aos cachês artísticos e obrigações legais.
5. Condicionantes
6. Em conclusão, o projeto Gramado Jazz & Blues Festival – 1ª Edição é recomendado para a avaliação coletiva, em razão de seu mérito cultural – relevância e oportunidade – podendo vir a receber incentivos até o valor de R$ 284.040,00 (duzentos e oitenta e quatro mil e quarenta reais) do Sistema Estadual Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais – Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 01 de abril de 2019.
José Airton Machado Ortiz
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 13h30min do dia 02 de abril de 2019.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, Plínio José Borges Mósca, Antônio Carlos Côrtes, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Paulo Cesar Campos de Campos, Luis Antonio Martins Pereira, Dael Luis Prestes Rodrigues, Gilberto Herschdorfer, Maria Silveira Marques, Liana Yara Richter, Jorge Luís Stocker Júnior, Moreno Brasil Barrios, Marlise Nedel Machado, Marcelo Restori da Cunha e Gabriela Kremer da Motta.
Abstenções: Gisele Pereira Meyer e Dalila Adriana da Costa Lopes.
Em razão do Of. Nº 182/2015 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 09/04/2019 e considerados prioritários.
Marco Aurélio Alves
Conselheiro Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS