
Processo nº 00247/2020
Parecer nº 310/2020 CEC/RS
O projeto “F|O 2020” é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. Identificação do Projeto
Titulo do projeto: F!O
Processo:
Produtor: Florencia Del Carmen Nieto - ME
CEPC: 6836
Função: Coordenação do projeto
Equipe Principal
Nome do profissional: Cristina Nora Calcagnotto
Função: Produção Cultural
Nome do profissional: Sigrid Augusta Busellato Nora
Função: Direção Artística
Nome do profissional: Carlos Alberto Pereira dos Santos
Função: Dramaturgista
Nome do profissional: Leticia de Cassia Costa de Oliveira
Função: Consultoria de Patrimônio Imaterial
Nome do profissional: Cristina Lucia Alberti Lisot
Função: Concepção e Intérprete
Contador: Soraia de Almeida
CRC: 100426/O-0
Período de Realização: Evento não vinculado à data fixa.
Local de Realização: Caxias do Sul
Área do Projeto: ARTES CÊNICAS/Dança
Recursos próprios do proponente: não há
Receitas previstas com a comercialização de bens e serviços: não há
Patrocínios ou doações, sem incentivo fiscal: não há
Valor Proposto para a LIC: R$ 92.525,00
Valor Habilitado pelo SAT: R$ 92.525,00
Segundo o SAT: “Realizada a análise pela equipe técnica do PRÓ-CULTURA RS, foi verificada a adequação da proposta ao enquadramento previsto na Instrução Normativa SEDAC 05/2020, art. 3°, conforme informações deste parecer.”
É o relatório.
2. O projeto proposto tem como objetivo realizar uma pesquisa em arte contemporânea a partir de elementos têxteis e de movimento, além de verificar os seus possíveis desdobramentos. Além disso um dos objetivos é realizar, gratuitamente, cinco demonstrações cênicas do processo de pesquisa, em diferentes períodos de tempo, abertas à colaboração externa. Para mais, consta como objetivo registrar o processo de pesquisa por um compilado imagético do trabalho em vídeo (making-off) e produzir cinco textos que traduzam o processo de pesquisa.
Nas palavras do proponente: “F|O é um processo de investigação que aproxima a dança contemporânea e as artes têxteis... Tem como como ponto de partida para pesquisa as experiências da intérprete-criadora Cristina Lisot, apresentando como eixos principais de aprofundamento, por um lado, o material cênico da performance intitulada Florescer de 2009, e por outro, o objeto têxtil “O”, de 2019, ambos de sua autoria. Assim, este projeto é o planejamento de um processo de pesquisa que parte de substratos cênico-dramatúrgicos, donde o resultado do trabalho serão as soluções e desdobramentos encontradas ao longo do tempo de depuração de informações e possibilidades.”
3. Análise de Mérito
Em sua dimensão simbólica, o proponente nos diz: ” Fiar, tecer, tramar são trabalhos manuais categorizados como bens culturais de apropriação coletiva do Rio Grande do Sul, o que justifica o viés artesanal e acresce f.i.o.s de memórias, de gênero e de identidade a este projeto. Criar com as mãos é uma atividade do corpo. Como a dança, requer disciplina e refinamento de movimento. Assim, assumir a arte de tramar f.i.o.s, no contexto da arte do movimento, tem como propósito, além de ampliar e valorizar as manifestações da intérprete-criadora, que é nata na Serra Gaúcha, pesquisar e documentar de maneira contemporânea esta particularidade da cultura brasileira e do patrimônio imaterial do Estado do Rio Grande do Sul. O projeto, ligado à cultura regional e, por permitir livre criação, tem como f.i.o condutor a investigação de significativos conteúdos poéticos, políticos e psicológicos, com um enfoque, natural e inerente, ao feminino.”
Em sua justificativa de sua dimensão econômica, o proponente coloca: “No tocante ao assunto tessituras, e por contar com consultoria em patrimônio imaterial, o projeto F|O apresenta potencial desdobramento no setor têxtil. O objeto “O” foi elaborado com a utilização de f.i.o.s e retalhos de tecidos disponibilizados pelo Banco do Vestuário de Caxias do Sul, um programa de triagem de resíduos da indústria têxtil, capitaneado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico de Caxias do Sul, que tem por objetivo a geração de trabalho e renda, a capacitação de pessoas e a transformação de desperdício em benefício social e ambiental. Esta parceria pretende ser mantida. Em consonância com essas ações, o projeto em tela reafirma a importância do conhecimento das artes manuais e da sustentabilidade ambiental, social e econômica, contribuindo com movimento para o desenvolvimento das cadeias produtivas relacionadas à reciclagem, ao artesanato.”
O projeto proposto conta com diversos profissionais das artes e de áreas correlatas, exercendo seu papel também de geração de emprego e renda. Os profissionais envolvidos desempenharão suas funções e, numa construçao multifacetada, são sem dúvida a composição central do coletivo. É importante registrar que parte da equipe, como a intérprete-criadora (e coordenadora do projeto), a diretora cênica, a produtora cultural e o dramaturgista trabalharão em cronograma integral.
Na sua dimensão cidadã, o projeto não apresenta uma maior determinação sobre a fluidez da produção cultural, sem o devido esclarecimento sobre os aspectos formativos e um plano com indicações precisas dos locais da cidade onde se realizará para, assim, com estes dados, podermos avaliar a sua real capilaridade e inclusão social. O texto do projeto afirma que “o objeto do projeto em tela, o processo de pesquisa em si - e as suas experimentações - será amplo, acessível e democrático. As demonstrações cênicas do processo de pesquisa serão em locais que atendam às exigências técnicas quanto à acessibilidade para pessoas idosas e/ou portadoras de deficiência, além de serem gratuitas. Os ingressos, caso ocorram em espaços com capacidade limitada, poderão ser retirados diretamente nos locais de realização, ou com pessoas previamente indicadas. Independentemente da configuração que o produto desse projeto venha a tomar, o público poderá acessar às demonstrações, sem distinção de gênero, idade ou classe social, apenas por sua poética e/ou forma inusitada.”
O proponente também coloca: “Ainda, após cada demonstração cênica, os colaboradores do projeto colocar-se-ão disponíveis ao diálogo, democratizando ainda mais as ações e convidando o espectador a atuar ativamente. O processo se colocará de forma igualitária e será registrado em relatos escritos pelo dramaturgista e assessor de comunicação da equipe, bem como em imagens pelo videomaker. Os encontros serão estimulados através de ampla divulgação, ou, surpreendentes ao estarem instalados em locais de livre circulação. Em ambos os casos, registros audiovisuais terão livre acesso e serão disponibilizados por canais sociais para o estímulo à fruição.”
O mundo mudou, as pessoas mudaram e as instuições - assim como a Cultura - estão se transformando. Os avanços tecnológicos, a conectividade e a chamada digitalização vêm trazendo alterações na lógica social e cultural.
A Cultura pode ser comparada a uma vacina. Quando você toma vacina, seu vizinho também fica melhor, porque você se preveniu. Da mesma forma, quando se consome Cultura, a população fica melhor: melhora a educação, o bem estar, a inclusão social, etc.
Os bens e serviços culturais não são apenas mercadorias: eles são expressões de identidades que eles contribuem a formar. Sua mais-valia deve-se essencialmente à dimensão simbólica, imaterial. As indústrias culturais, “indústrias do imaginário”, alimentam em grande parte as redes e os suportes informativos e são submetidas aos imperativos da rentabilidade econômica, que não favorecem o pluralismo da entrega de determinadas produções culturais. É fundamental reconhecer a Cultura em sua forma mais ampla, multifacetada e insubsttuível, porque é essa riqueza de traços que faz dela o centro do desenvolvimento econômico de uma cidade, região ou país.
O projeto “F|O” carrega em si a positiva descrença em formas definitivas e este é o instigante ponto de partida para a pesquisa das experiências da intérprete-criadora Cristina Lisot, em um processo inusitado de investigação que aproxima a dança contemporânea e as artes têxteis, sendo seus pontos de intersecção e as chamadas “porosidades” entre movimento e tessituras, (re)significando estes conteúdos. Produto de estudo consistente, o objeto do presente projeto também contribuirá para produção de conhecimento, substrato e produto para futuras pesquisas.
4. Em conclusão, o projeto “F|O 2020” é recomendado para financiamento público, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo captar R$ 92.525,00 (noventa e dois mil e quinhentos e vinte cinco reais) junto ao Sistema Integrado de Apoio e Fomento à Cultura.
Porto Alegre, 15 de dezembro de 2020.
Paulo Leônidas Fernandes de Barros
Conselheiro Relator