Processo nº 00023/2021
Parecer nº 098/2021 CEC/RS
O projeto “Paixão de Cristo no Morro da Cruz convida Orquestra Filarmônica do RS – 62ª Edição” é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. O projeto Paixão de Cristo no Morro da Cruz convida Orquestra Filarmônica do RS – 62ª edição consiste na produção de um registro audiovisual que recupera a história de seis décadas da Via Sacra do Morro da Cruz. Paralelamente, serão oferecidas, de forma online e gratuita, duas oficinas: (1) “Corpos com asas”, com 60 minutos de duração, destinada a atores e bailarinos; e (2) “Brinquedos e adereços com sucata”, com 120 minutos de duração, destinada ao público em geral. O projeto contará ainda com uma performance da Orquestra Filarmônica do Rio Grande do Sul e um coro composto por 8 vozes.
O custo total do projeto é de R$ 250.000,00. O valor foi integralmente solicitado à LIC-RS.
Houve duas diligências. A primeira, por parte do SAT, solicitando preenchimento mais detalhado da planilha de custos, inclusões de itens e ajustes de cronograma e descrição. Todas as solicitações enviadas pelo SAT foram respondidas, resultando na habilitação do projeto. A segunda diligência, enviada pelo primeiro relator, buscava informações sobre três pontos específicos: (1) datas; (2) eventos com presença física, tanto de público quanto das equipes de produção, técnica e artística; e, por fim, (3) discriminação dos artistas e equipe técnica.
Sobre (1) as datas, o conselheiro avaliador apontava que o evento, embora vinculado à Semana da Paixão de Cristo, não possuía data fixa. A resposta da proponente reiterou aquilo que consta na redação do projeto, a saber, que o vínculo é temático, alusivo, e não de data. A proponente ainda esclarece que o evento, embora originalmente concebido para acontecer de forma presencial, dando continuidade a sua longeva história, precisou adequar-se às contingências impostas pela pandemia da Covid-19.
Sobre (2) as atividades presenciais, a proponente informou, novamente corroborando informações já prestadas no projeto, que os eventos foram adaptados para exibição gratuita em plataformas online. Assim, houve remanejamento de rubricas, uma vez que certas estruturas físicas se tornaram dispensáveis ao passo que serviços técnicos (como, p. ex., de captação e edição de imagens) passaram a ser parte fundamental para o desenvolvimento do projeto. Todas as atualizações haviam sido previamente realizadas na planilha orçamentária e obtido parecer positivo, sem glosas, do SAT.
Sobre (3) a discriminação dos artistas e técnicos, a proponente encaminhou, em anexo, breves currículos de oito profissionais em funções de coordenação e direção, técnica ou artística. Cabe, ainda, enfatizar que o projeto, com mais de seis décadas de história, conta com grande participação da comunidade, entusiastas e amadores, e, sendo assim, não será razoável demandar, para além da resposta fornecida, um rol pormenorizado de nomes.
O projeto, em sua dimensão econômica, tem impacto na economia local, para os trabalhadores da cultura e para os fornecedores, movimentando diretamente o setor da economia criativa e segmentos adjacentes. Em sua dimensão cidadã, o acesso gratuito ao memorial do evento, às oficinas e às produções correntes – como a performance da Orquestra Filarmônica – será ampliado pelo alcance menos restrito da internet. Oportuniza-se, assim, não apenas a fruição dos conteúdos compilados de uma trajetória de 60 anos mas, também, o contato com a comunidade que o produz e que, repita-se, há 60 anos preserva e aprimora sua tradição de investir dinheiro, tempo, entusiasmo e dedicação em cultura.
A proponente afirma que que haverá monitoramento constante das equipes de trabalho, com adoção de medidas de segurança e prevenção ao contágio e disseminação da Covid-19.
É o relatório.
2. O projeto em apreciação consiste na busca de uma comunidade por recursos que lhe permitam preservar parte fundamental de uma história de êxito na valorização das mais distintas manifestações artísticas. São seis décadas em que a tradição literária do texto bíblico articula produção de figurino e cenário, elaboração de roteiro, execução e produção musical, atuação e direção de cena, levando artistas, sejam amadores ou profissionais, e técnicos do setor cultural, a construir um espetáculo exemplar do que é a cultura. O projeto Paixão de Cristo no Morro da Cruz não se resume a episódio de entretenimento, nem a parada religiosa, muito menos a preciosismo estético destinado a fruições pretensamente sofisticadas. Trata-se do conjunto de esforços daqueles que, com as mais distintas e variadas aptidões e possibilidades, empenham-se para viabilizar uma festa verdadeiramente comunitária, em que a experiência comum e a experiência pessoal se misturam, sem se confundir, na produção de um evento significativo para a vida prática, para a formação humanista e para a identidade local.
Nesse sentido, é importante considerar que a trajetória do evento, por si só, constitui-se como uma força simbólica, para além do recurso literário à narrativa bíblica, a seus acervos ético e estético. Por isso, o material compilado de entrevistas e imagens, além de seu aspecto histórico e memorialístico, por celebrar um evento importante para a comunidade que o executa, surge como um investimento no futuro, por permitir a difusão do evento via plataformas digitais. Mas, permite, sobretudo, registrar o testemunho de continuidade e permanência diante das desventuras surgidas com a pandemia do novo coronavírus.
Quando as condições sanitárias nos obrigam ao isolamento, o sentido comunitário precisa ser fortalecido. Todo esforço e sacrifício que tem custado o apreço pela vida justifica-se pela crença de que, lá fora, os nossos laços sociais e afetivos mantêm-se firmes e nos prometem dias melhores. A Via Sacra do Morro da Cruz é um projeto que revigora essa crença.
Embora faltem detalhes sobre, nas palavras do relato original, a “pesquisa que subsidiará esta (sic!) narrativa”, a análise de mérito não pode deixar de considerar o cenário atípico em que nos encontramos, que exige adaptabilidade e celeridade de produtores e artistas; tampouco o caráter comunitário do evento, realizado em grande parte por artistas amadores, o que, além de condicionar sua elaboração, na parte burocrática e formal, confere mais riscos de alterações específicas durante o desenvolvimento. A pergunta que se impõe, afinal, é se os elementos metodológicos e o plano oferecidos dão boa base para que este Conselho considere que os meritórios objetivos gerais e específicos – meritórios em sua dimensão simbólica, relevantes para o interesse público, oportunos cultural e socialmente – serão alcançados.
Cito-os. Objetivo Geral: “Realizar a 62ª edição da Paixão de Cristo do Morro da Cruz, mantendo e preservando uma encenação que faz parte do patrimônio imaterial de Porto Alegre, a qual encontra-se incluída no Calendário Turístico da Capital do Estado do RS”. Objetivos específicos: “Estimular a economia da cultura proporcionando novos postos de trabalho, na medida em que mobiliza profissionais das artes cênicas, sejam artistas ou técnicos, bem como os profissionais de diversas áreas necessários para a composição final do evento Fortalecer o sentimento de pertencimento, na medida em que valoriza os moradores da comunidade do Morro da Cruz e arredores por meio de sua cultura e suas tradições”.
Cabe à sensibilidade deste Conselho apreciar os planos e cronogramas oferecidos à luz dos currículos e do histórico dos artistas envolvidos, parte essencial de todos os projetos que avaliamos, e reconhecer a capacidade de execução e de alcance dos objetivos. Assim, acredito que as informações oferecidas, o histórico do evento, suas fortes raízes em uma comunidade que, empenhada em preservá-lo, aprimora-o e aprimora-se, dão suficiente respaldo à recomendação do projeto.
Neste início de 2021, diante das dificuldades econômicas, de saúde pública e de civilidade que nossa sociedade enfrenta, o projeto Paixão de Cristo no Morro da Cruz ganha importância especial. Dentre todos os sentidos que a narrativa literária e religiosa encenada conjura, a comunidade do Morro da Cruz faz revigorar aquele que, de modo tantas vezes gratuito e inócuo, tem sido evocado como o mais fundamental: a renovação da esperança.
3. Em conclusão, o projeto “Paixão de Cristo no Morro da Cruz convida Orquestra Filarmônica do RS – 62ª Edição” é recomendado para financiamento público, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo captar R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) junto ao Sistema Integrado de Apoio e Fomento à Cultura.
Porto Alegre, 08 de abril de 2021.
Benhur Bortolotto
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10h do dia 08 de abril de 2021.
Presentes: 24 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Alexandre Silva Brito, Cristiano Laerton Goldschmidt, Léo Francisco Ribeiro de Souza, Elma Nunes Sant’Ana, Daniela Giovana Corso, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos Duarte, Nicolas Beidacki, José Francisco Alves de Almeida, Paulo Leônidas Fernandes de Barros, Lucas Frota Strey, Vitor André Rolim de Mesquita, Luciano Gomes Peixoto, Mario Augusto da Rosa Dutra e Vinicius Vieira de Souza.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Rafael Pavan dos Passos, Aline Rosa, Alice Inês Lorenzi Urbim, Michele Bicca Rolim, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Rodrigo Adonis Barbieri e Luis Antônio Martins Pereira.
Em razão do Of. Nº 021/2021 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 28/04/2021 e considerados prioritários.
Após a avaliação coletiva, que atribui o grau de prioridade aos projetos, o projeto é prioritário obtendo a nota final de 3,82 pontos.
José Airton Machado Ortiz
Presidente do CEC/RS
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