Processo nº 00209/2021
Parecer nº 221/2021 CEC/RS
O projeto “50 ANOS DO NATIVISMO - TEMPO E MOVIMENTO 1ª EDIÇÃO” é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. O projeto em pauta, após realizada a análise pela equipe técnica do Pró-Cultura RS e sendo atendidas as diligências solicitadas, é considerado adequado quanto a sua proposta, sendo recomendado para avaliação coletiva.
O projeto tem como produtor cultural CAMINHA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS, por contador Marcelo Barbosa Silveira, se classifica como TRADIÇÃO E FOLCLORE e não está vinculado à data fixa. O valor proposto para financiamento em sua totalidade pelo sistema LIC é de R$ 286.194,00 (duzentos e oitenta e seis mil, cento e noventa e quatro reais).
Em 2021, o movimento nativista está completando 50 anos de existência, mesmo passando por diversos percalços, ainda seguimos preservando e desenvolvendo um número considerável desses encontros. Gerações de poetas, instrumentistas, melodistas e cantores passaram anualmente nesses palcos. Por tudo isso, o projeto “50 anos do Nativismo - Tempo e Movimento” busca não apenas celebrar, mas refletir sobre esse meio século de produção musical que tivemos. Para tanto, está prevista a realização de três noites de espetáculos no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. A primeira delas, em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, será reservada ao cinquentenário da Califórnia da Canção Nativa, onde serão apresentadas 20 canções que marcaram esses 50 anos pelos quais passou o Festival. Também em sua programação constam painéis onde serão abordados aspectos como a memória, a história e as perspectivas do movimento dos festivais no Rio Grande do Sul. Tanto a Assembleia Legislativa, quanto o Theatro São Pedro são parceiros do projeto.
As artes, as expressões intelectuais, as configurações tipológicas e simbólicas das cidades e povoados, bem como os modos de vida expressos nos cotidianos das sociedades, moldam a diversidade cultural que compõe as identidades coletivas. Ao longo dos anos 70, 80, 90 e das duas primeiras décadas do nosso século tivemos um número extremamente significativo desses festivais surgindo no Rio Grande do Sul. Esse conjunto de eventos, que, em sua plenitude, chegou a ter perto de uma centena ocorrendo ao longo de um ano, movimentou um mercado enorme de músicos, compositores, intérpretes, sonorização, gravadoras e imprensa escrita, falada e televisiva, todos esses citando apenas o envolvimento de forma direta.
Porém, sem dúvida nenhuma a maior contribuição deu-se em relação à produção musical, que revolucionou em termos estéticos nosso cancioneiro através de música, poesia, arranjos e intérpretes que ficaram eternizados em nossa cultura. Cabe salientar o valor simbólico do instrumento identitário que esses eventos trouxeram para as comunidades, onde muitas cidades acabaram vinculando sua imagem à desses eventos. O projeto estimula a criatividade, propiciando o resgate da cidadania pelo reconhecimento da importância da cultura produzida em nosso Estado. O efeito é o envolvimento intelectual e afetivo da comunidade, motivando os cidadãos a criar, participar e reinterpretar a cultura, aproximando diferentes formas de representação artística e visões de mundo.
Ao celebrarmos os 50 anos do Nativismo vamos acionar uma cadeia produtiva e consumidora direta, quando da realização do espetáculo, mas também indiretamente pois o envolvimento e expectativa das cidades em que ocorreram esses festivais também serão acionados das mais diferentes formas, através dos veículos de imprensa e mobilização social-cultural.
Os Festivais de música atraem grande público por onde são realizados. Bem como a movimentação de um mercado enorme de profissionais da chamada Economia Criativa, passando pelo evento em si, imprensa, rede hoteleira, alimentação, além de outros setores indiretos. O exercício da produção musical, ao longo dessas cinco décadas, vem sendo desenvolvido em sua plenitude, retratando as comunidades e suas regiões através de sua História, suas origens étnicas e sociais em verso e melodia através de um cancioneiro que ficou e ficará imortalizado na memória de nossa cultura.
É o relatório.
2. No dia 10 de junho deste ano o Governador Eduardo Leite sancionou Lei que define 2021 como o Ano do Nativismo Gaúcho. Recentemente alguns colegas Conselheiros e eu, conversávamos sobre a origem do nativismo e quais suas diferenças para o tradicionalismo e o regionalismo. Na verdade tais terminologias foram adaptadas e incorporadas a um segmento da cultura gaúcha voltada para a preservação dos costumes oriundos do modo de viver interiorano de alguns locais do Rio Grande do Sul.
O Regionalismo gaúcho tem origem já na formação das missões, através dos povos guaranis e dos ensinamentos de arte trazidos pelos padres jesuítas. Embora na atualidade se fale de aldeia global, o mundo está fragmentado em fronteiras naturais e artificiais. Em cada território ou região, seus habitantes vão formando sua própria realidade vital. Os costumes gastronômicos, artísticos ou festivos normalmente são entendidos em suas coordenadas geográficas. É o caso específico dos chamados regionalistas do Rio Grande do Sul. Musicalmente falando, numa época em que as rádios nos traziam de São Paulo e de Buenos Aires as canções sertanejas e os tangos e boleros, respectivamente, os maiores expoentes da cantiga regionalista gaúcha eram nomes como Pedro Raymundo, Conjunto Farroupilha, Os Irmãos Bertussi, Teixeirinha e alguns outros. Não muitos. No versejar oral improvisado, também inserido em nosso regionalismo, é importante a citação do trovador Gildo de Freitas.
Já o tradicionalismo, obviamente tem origem na palavra tradição que, por sua vez, refere-se ao ato de transmitir ou entregar, associado aos elementos de repassar. Neste sentido, em toda tradição há um "ato de entrega", uma espécie de ensinamento que vai passando sucessivamente de pai para filho. Todo indivíduo é herdeiro de um complexo legado cultural e esta herança constitui a ideia fundamental de qualquer tradição. Pode-se dizer que uma tradição é como um ritual invisível que permite que uma série de conhecimentos e costumes passe de uma geração para outra ao longo dos tempos. Buscando estes elementos o folclorista Paixão Côrtes e o chamado "Grupo dos Oitos" deram início ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, que nada mais é do que cultivar a tradição de origem pastoril de uma maneira normatizada. Seus integrantes são denominados de tradicionalistas. Embora reconhecendo a importância de tal entidade não devemos esquecer que a tradição gaúcha é anterior e vai muito além do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Em relação ao Nativismo, foco deste projeto, tal movimento teve início com o advento dos festivais, mais precisamente a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, no idos anos de 1971. Este movimento é caracteristicamente musical tendo como identidade composições mais trabalhadas, letras lapidadas, melodias em sua maioria de caráter mais introspectivo, arranjos e harmonias com um viés contemporâneos, tudo sem perder autenticidade e o foco regional. Neste sentido o nativismo oportunizou o aparecimento de novos talentos que não iam além da territorialidade municipal. Podemos citar como exemplo típico desta afirmação o reconhecido cantor César Passarinho, intérprete carnavalesco em Uruguaiana que, através da Califórnia da Canção Nativa, tornou-se conhecido e admirado nacionalmente.
No movimento festivaleiro andejamos dentre os identificados com a musicalidade campeira ou galponeira até os de conceito mais urbano aonde, não raro, temos a participação de artistas de diversas partes do país como é o caso de Zé Alexandre, vencedor do último reality The Voice. O que caracteriza o nativismo é justamente isto, a identidade própria de cada evento. Não há uma normatização geral para seus participantes. O nativismo é uma instituição livre, imaterial, sem sócios e sem patrão.
A realização do Especial 50 anos de nativismo – tempo e movimento será realizado em 4 etapas distintas, a primeira contemplará ensaios da banda base A segunda será a realização do espetáculo. As equipes de sonorização e iluminação foram cedidas a partir da parceria com a Assembleia Legislativa. Os espetáculos serão realizado com captação de som e imagens em 3 noites no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, a primeira delas, em parceria com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, terá como mote o cinquentenário do festival precursor - Califórnia da Canção Nativa. As duas noites posteriores serão reservadas para uma celebração dos 50 anos de existência do ciclo dos Festivais como um todo, abrangendo cerca de 18 canções por noite, com intérpretes convidados acompanhados por uma banda base formada especialmente para o projeto.
Foi definido como critério para o roteiro, a divisão em décadas para dar um entendimento cronológico de apresentação das músicas. Além disso, na terceira etapa, que será uma contrapartida do projeto para a sociedade, ao longo desses dias, serão realizados no próprio theatro painéis de discussões sobre a conjuntura dos Festivais no Rio Grande do Sul, com personalidades, estudiosos e membros da imprensa. Serão trazidos temas que irão tratar desde a História e Memória desses eventos, bem como as perspectivas de futuro dos mesmos face um mundo de transformações que vivemos.
O ingresso do público à tarde aos painéis e apresentações de lançamento será gratuito, obedecendo protocolo sanitário. Os espetáculos à noite, caso seja permitido público, também terá acessibilidade gratuita e haverá espaço determinado para cadeirantes e público com necessidades especiais, intérprete para pessoas com deficiência auditiva, bem como obedecerá regras de distanciamento social e os cuidados recomendados em relação a Covid.
Nesta quarta etapa, que acontece paralela às anteriores serão realizados todos os que poderão tornar-ser making off de um provável documentário posterior, divulgada e impulsionada nas redes sociais e disponibilizada como contrapartida do projeto a fim dar maior alcance e visibilidade ao mesmo.
Notem que a grande maioria destes eventos, que há cinquenta anos vem dando uma nova roupagem a musicalidade gaúcha, tem seu nome ligado a localidade aonde acontece, mesclando a própria identidade com o lugar de sua realização. Como breve exemplos podemos citar a Tafona, de Osório; a Moenda, de Santo Antônio da Patrulha, a Coxilha de Cruza Alta; a Seara, de Carazinho; o Reponte, de São Lourenço do Sul; o Canto Missioneiro, de Santo Angelo; o Carijo, de Palmeira das Missões; a Tertúlia, de Santa Maria e, além de tantos outros, o ícone de todos, ou seja, a Califórnia, de Uruguaiana. E o engraçado de tudo isto é que Porto Alegre, a capital de todos os gaúchos, nunca conseguiu firmar um evento neste segmento. Talvez esteja neste projeto a oportunidade de reunir todos estes festivais em uma grande homenagem através deste projeto.
Por considerar a proposição bem arrazoada, com distribuição de valores equilibrados e metodologia usual e apropriada para os moldes a que se propõe, pertinente em relação as suas dimensões simbólica, cidadã e econômica além de proporcionar a democratização do acesso e de produzir e salvaguardar bens culturais, este relator recomenda o projeto
3. Em conclusão, o projeto “50 ANOS DO NATIVISMO - TEMPO E MOVIMENTO 1ª EDIÇÃO” é recomendado para financiamento público, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo captar R$ 286.194,00 (duzentos e oitenta e seis mil, cento e noventa e quatro reais) junto ao Sistema Integrado de Apoio e Fomento à Cultura.
Porto Alegre, 12 de julho de 2021.
Léo Francisco Ribeiro de Souza
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10h do dia 19 de julho de 2021.
Presentes: 24 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Benhur Bertolotto, Aline Rosa, Cristiano Laerton Goldschmidt, Elma Nunes Sant’Ana, Daniela Giovana Corso, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos Duarte, Nicolas Beidacki, José Francisco Alves de Almeida, Paulo Leônidas Fernandes de Barros, Lucas Frota Strey, Vitor André Rolim de Mesquita, Rodrigo Adonis Barbieri, Luciano Gomes Peixoto, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luis Antônio Martins Pereira, Mario Augusto da Rosa Dutra, Vinicius Vieira de Souza, Michele Bicca Rolim e Rafael Pavan dos Passos.
Impedimentos: Alice Inês Lorenzi Urbim.
Ausentes no Momento da Votação: Alexandre Silva Brito.
Em razão do Of. Nº 151/2021 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 26/07/2021 e considerados prioritários.
Após a avaliação coletiva, que atribui o grau de prioridade aos projetos, o projeto é prioritário obtendo a nota final de 4,32 pontos.
José Airton Machado Ortiz
Presidente do CEC/RS
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