Processo nº 00132/2021
Parecer nº 145/2021 CEC/RS
O projeto “DESSA FERREIRA - MÚSICA AFRO-INDÍGENA CONTEMPORÂNEA 1ª EDIÇÃO” é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. O projeto em pauta, após realizada a análise pela equipe técnica do Pró-Cultura RS e sendo atendidas as diligências solicitadas, é considerado adequado quanto a sua proposta, sendo recomendado para avaliação coletiva.
O projeto tem como produtor cultural SM ABREU PRODUÇÕES, por contador Marieri Gazen Braga, se classifica como AUDIOVISUAL e não está vinculado à data fixa. O valor proposto para financiamento em sua totalidade pelo sistema LIC é de R$ 112.235,00 (Cento e doze mil duzentos e trinta e cinco mil reais).
Além da Produtora Executiva Silvia Mara Abreu, ainda fazem parte da equipe principal Andressa Ferreira, como Diretora Geral; Kaya Rodrigues como Diretora Artística; André Luis Ferreira como Diretor de Fotografia; Rafael da Costa Braz como Gestor de Mídias Digitais e Impulsionamento e Vanessa Rodrigues Garroni como Diretora de Arte e Figurinista.
O projeto acontecerá nos municípios de Porto Alegre e Mostardas.
Este projeto prevê a produção audiovisual de três videoclipes das faixas do EP Pulso, primeiro trabalho autoral solo de Dessa Ferreira, gravado entre 2018 e 2020. Para cada videoclipe, será feita uma LIVE Podcast de lançamento com convidados especiais. O EP Pulso foi impulsionado pelo trabalho de conclusão da artista no curso de Música Popular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, voltado para a produção fonográfica, provocando discussões em relação ao racismo estrutural presente na universidade e sobre a falta de representatividade de mulheres negras e indígenas na área do áudio e da tecnologia. Nesse processo, Dessa Ferreira teve a possibilidade de registrar composições autorais que narram sua trajetória enquanto artista afro-indígena e sobre o reencontro com a sua ancestralidade e reconstrução da sua subjetividade. No dia 25 de julho, Dia da Mulher Afro Latina-Americana e Caribenha, foi lançado o clipe da música Pulso, com roteiro e direção de Kaya Rodrigues e codireção de Luis Ferreira.
Com o financiamento da Lei de Incentivo à Cultura do Estado (LIC), por meio do Pró-Cultura-RS e com o patrocínio do Natura Musical, conquistado na recente edição do edital (2020-2021), será possível dar continuidade à produção de conteúdos audiovisuais que complementam e potencializam o trabalho da produção musical feita pela artista. A proposta é dar seguimento a esse formato, pensando acessibilidade, com interpretação de Libras, montando uma equipe ainda mais potente e plural. As Lives e o podcast serão encontros entre artistas e pensadores negros e indígenas convidados, promovendo reflexões sobre ancestralidade, filosofia africana, racismo religioso, genocídio negro e indígena, povos originários, saberes ancestrais, demarcação de terras, e educação antirracista por meio da arte, considerando-se que esses temas atravessam e marcam o trabalho autoral de Dessa Ferreira.
Os videoclipes e Lives serão disponibilizados no canal do Youtube, já os podcasts das lives serão disponibilizados no Spotify da artista. No Instagram serão postados materiais referentes ao processo de produção dos videoclipes, como fotos e depoimentos de making-off. Será contratado serviço de gestão das redes sociais de impulsionamento; pretende-se alcançar, no mínimo, 20.000 visualizações para cada videoclipe. Para as lives e podcast, estima-se igual número devido à estratégia de impulsionamento. Agrega-se a esse esforço o trabalho de assessoria de imprensa especializada e serviço de emailmarketing, ampliando a visibilidade deste projeto.
Também atuando na curadoria de festivais e eventos, Dessa Ferreira, no presente projeto, é acompanhada por uma equipe experiente, como a produtora cultural Silvia Abreu, que atua há 29 anos na área de produção e divulgação de espetáculos. Além disso, é Jornalista formada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, é pós-graduada em Administração e Organização de Eventos pela Faculdade de Hotelaria e Turismo Senac-SP; é docente no Curso Superior de Tecnologia em Produção de Espetáculos nas Faculdades Monteiro Lobato. Com diversos prêmios em sua área de atuação, atualmente, desenvolve o projeto “Cartografia dos Palcos – Mapeamento dos Equipamentos Culturais do RS”.
O trabalho de Dessa Ferreira já é fruto de um legado de muitas lutas e conquistas, porém, enquanto sociedade, ainda temos muitos desafios postos pelo nosso desgoverno e pela desinformação massiva, o que tem feito aumentar cada vez mais as injustiças e a destruição da biodiversidade. Pulso propõe uma nova forma de se relacionar com a natureza, relembrando que também fazemos parte deste grande ecossistema, que precisa ser cuidado e cultivado. O grande legado desse projeto é o amor, a cura do planeta e de todos que o habitam.
A realização deste projeto, no que tange a sua dimensão econômica, proporcionará a geração de empregos temporários a artistas, técnicos e a toda a cadeia produtiva da música e do audiovisual. Ao todo, serão 55 empregos diretos. Trata-se de um projeto que auxilia o desenvolvimento econômico na medida em que incentiva a participação de profissionais das mais variadas áreas de atuação, proporcionando a troca de experiências, a continuidade e a fruição cultural entre a comunidade e os vários segmentos envolvidos.
Ao promover o trabalho de uma artista que provoca reflexão sobre a violência colonial que afetou totalmente nossa forma de estar, de agir e de pensar no mundo, se busca, na dimensão cidadã o presente projeto, uma real valorização do negro, da mulher, dos LGBTQIA+ e indígenas no mercado musical e cultural. PULSO fala sobre vozes que ecoam e pulsam há muito tempo e que precisam ser ouvidas; sobre corpos que querem se expressar e ser livres. Pensando em ampliar a acessibilidade do projeto, os videoclipes e as lives terão interpretação em Libras, os videoclipes terão legendas em português, inglês, yorubá, guarani, espanhol e francês e também audiodescrição (em português). Para as lives, será realizada uma mentoria de audiodescrição com todos os participantes.
É o relatório.
2. Historicamente e universalmente os povos Afro-indígenas vêm sofrendo todo o tipo de intempéries da vida. No Rio Grande do Sul não é diferente. A Guerra Guaranítica foi um verdadeiro extermínio da civilização que habitou os sete Povos das Missões. O Negro, na Revolução Farroupilha, foi traído e subjugado. Nos dias atuais é perceptível os resquícios desta discriminação ao olharmos sob as marquises das grandes cidades e vermos mulheres indígenas mendigando com seus artesanatos, enquanto seus filhos, em cânticos guaranis, ajudam na sobrevivência de suas aldeias, esquecidas pelos beirais das rodovias. Da mesma forma, a população negra é a mais afetada pela desigualdade no Brasil, onde pretos e pardos enfrentam maiores dificuldades na progressão da carreira, na igualdade salarial, e são mais vulneráveis ao assédio moral e têm mais chances de serem vítimas de homicídios. Além das questões de violência, o Brasil é um país que convive com um preconceito social que, invariavelmente, passa pelo racismo.
Em contraponto a essa discriminação e à falta de representatividade de mulheres negras e indígenas na área do áudio e da tecnologia, Dessa Ferreira há mais de 14 nos vem atuando através da música, cultura e educação, tendo participado de importantes projetos e circulado por diversos Países tentando dirimir com sua voz e ação esta gritante desigualdade. Atualmente, é liderança do Programa Marielle Franco, do Fundo Baobá, com o projeto Mulheres Negras e Tecnologia: Produção Musical Enegrecida.
Pelo especificado, este relator considera o presente projeto de real importância, bem arrazoado, com distribuição de valores equilibrados e metodologia usual e apropriada para os moldes a que se propõe, equipe competente, pertinente em relação as suas dimensões simbólica, cidadã e econômica, além de proporcionar a democratização do acesso e de produzir e salvaguardar bens culturais.
Embora a proponente tenha feito uma breve citação em sua metodologia de trabalho em relação à pandemia ao referir-se ao distanciamento, recomendamos que tal projeto observe o contido no art. 1º, parágrafo único, da Resolução Nº 02/2020 do CEC RS, onde deverão ser acatadas as decisões legais das autoridades competentes.
3. Em conclusão, o projeto “DESSA FERREIRA - MÚSICA AFRO-INDÍGENA CONTEMPORÂNEA 1ª EDIÇÃO” é recomendado para financiamento público, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo captar R$ 112.235,00 (Cento e doze mil duzentos e trinta e cinco mil reais) junto ao Sistema Integrado de Apoio e Fomento à Cultura.
Porto Alegre, 09 de maio de 2021.
Léo Francisco Ribeiro de Souza
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10h do dia 11 de maio de 2021.
Presentes: 24 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Benhur Bertolotto, Alexandre Silva Brito, Aline Rosa, Cristiano Laerton Goldschmidt, Elma Nunes Sant’Ana, Alice Inês Lorenzi Urbim, Daniela Giovana Corso, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos Duarte, Nicolas Beidacki, José Francisco Alves de Almeida, Paulo Leônidas Fernandes de Barros, Lucas Frota Strey, Vitor André Rolim de Mesquita, Rodrigo Adonis Barbieri, Luciano Gomes Peixoto, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luis Antônio Martins Pereira, Mario Augusto da Rosa Dutra, Vinicius Vieira de Souza e Rafael Pavan dos Passos.
Impedimentos: Michele Bicca Rolim.
Em razão do Of. Nº 151/2021 da SEDAC, os projetos recomendados por este Conselho foram submetidos à Avaliação Coletiva da Sessão Plenária Ordinária do dia 12/05/2021 e considerados prioritários.
Após a avaliação coletiva, que atribui o grau de prioridade aos projetos, o projeto é prioritário obtendo a nota final de 4,80 pontos.
José Airton Machado Ortiz
Presidente do CEC/RS
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