Processo nº 00225/2021
Parecer nº 291/2021 CEC/RS
O projeto “Semana Farroupilha Virtual 2021” não é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. Trata este parecer de u projeto da área de artes integradas, evento não vinculado à data fixa. O proponente é Ás Administração e Cobrança EIRELI, CEPC 7528. A equipe principal é formada por Mandala Asessoria, Victor Cramer, Rene Trindade Goya Filho, Andreas Müller, Ás Administração e Cobrança Eireli, e Gabriel Silva Tavares. A contadora é Marília Machado Minuto.
O projeto consiste na realização de programação virtual em comemoração à Semana Farroupilha, a qual inclui três espetáculos ao vivo (Tchê Garotos, Baitaca e João Luiz Correa, e ainda a gravação e veiculação de três entrevistas com os artistas, e ainda quatro episódios sobre a Revolução Farroupilha, protagonizados pelo historiador Eduardo Bueno, o Peninha.
Na dimensão simbólica, o proponente aponta a realização das comemorações da Semana Farroupilha em todas as cidades do Estado até o ano de 2019, tradição rompida pela pandemia de Covid-19. Segue com uma descrição histórica desde a origem das comemorações desde o Grupo dos Oito.
No aspecto econômico, afirma a não realização de desfiles ou apresentações musicais, a exemplo do ano passado, o que acarreta prejuízos ao setor, justamente na época do ano em que os artistas relacionados com o tradicionalismo têm agenda lotada. Lembra que a pandemia atingiu a economia em diversos setores, mas em especial a cultura, e traz números relativos ao setor segundo painel de dados do Observatório Itaú Cultural. Afirma que nesse contexto, a proposta “contribui com a valorização dos profissionais da indústria criativa da música dando relevância econômica, social e institucional, fortalecendo e ampliando a cadeia produtiva e o mercado para a cultura ao divulgar a produção de artistas regionais (...); gerar renda não somente para o artista principal, mas para toda uma gama de profissionais ligados a estes artistas (...) que neste momento estão desamparados”.
Na dimensão cidadã, destaca a criação de um cenário decorado em alusão a um galpão “estilo gaúcho”. A veiculação terá acesso gratuito e contará com intérprete de Libras, e a fim de promover a acessibilidade a deficientes visuais, os artistas irão descrever suas roupas e o cenário. Neste item o proponente afirma as formas previstas para a aplicação da marca do Pró-Cultura conforme normas vigentes.
Uma webserie em quatro episódios com Peninha contará fatos históricos da Revolução e tratará sobre a cultura gaúcha, entre outros, segundo o proponente. São previstos quatro episódios de 10 minutos, tendo como locação a ponte da Azenha e praça do Portão, Palácio Piratini e esquina da Avenida Independência com Rua Barros Cassal, em Porto Alegre, o cipreste da cidade de Guaíba e a llha de Fanta, em Guaíba, e a casa de Bento Gonçalves, e ainda a cidade de Piratini; todos locais onde ocorreram fatos marcantes da Revolução.
O projeto tem como única fonte de receitas o Sistema Pró-Cultura RS, ao qual solicita financiamento no valor trezentos e quarenta e oito mil, oitocentos e sessenta reais.
É o relatório.
2. O projeto Semana Farroupilha Virtual 2021 propõe uma programação com espetáculos ao vivo pela internet de três atrações reconhecidas no meio tradicionalista, sem envolver artistas locais. Quanto aos valores de cachê, as três atrações musicais somam um total de cinquenta e seis mil reais; para Peninha o valor total é de vinte mil reais. Há ainda cachês para equipe técnica.
O custo total do cenário é de quarenta e cinco mil reais, e há ainda a previsão de locação de espaço, painel de led, iluminação e sonorização.
A comunicação prevê assessoria de imprensa, gestor de mídias sociais e um total de quinze mil reais em impulsionamentos e anúncios online.
O projeto tem mérito quanto à intenção de promover uma Semana Farroupilha virtual, principalmente pelo diferencial em realizar uma webserie com o jornalista Eduardo Bueno, o Peninha. Porém nos parece inoportuno, ante o grande valor total do projeto, o qual – parece-nos – não encontra uma boa relação custo-benefício, uma vez que se trata de três espetáculos, sem haver o envolvimento de artistas locais – o que é bastante característico de comemorações farroupilhas nas cidades gaúchas.
O alto investimento para encenação de um galpão, ainda que possa promover o setor de cenografia, nos parece outro fator que compromete a oportunidade do projeto. Afinal, há uma significativa quantidade de galpões “ao estilo gaúcho” que poderiam ser utilizados como cenários, carecendo eventualmente de algum trabalho de direção de arte a fim torná-lo apto e até mesmo mais autêntico. Opta, o proponente, por um alto investimento cênico, proposição – diga-se – que é de sua total autonomia, porém cabe a este Conselho, observar o custo-benefício dos projetos aqui propostos, e considerando o resultado que se pretende alcançar, parece-nos haver um desequilíbrio neste fator.
Trata-se de projeto bem desenvolvido, em que pese não haja um roteiro das entrevistas, tampouco da webserie sobre a história da Revolução, o que entendemos importante para analisar o diferencial proposto, uma vez que há farto material sobre o tema nas redes sociais, inclusive com o próprio Eduardo Bueno.
Vivemos, como o próprio proponente nos lembra, um período de pandemia, ante o qual os eventos presenciais seguem comprometidos, ainda que as notícias mais atuais apontem para a realização de festejos farroupilhas presenciais. Tal conjuntura exige do Sistema Pró-Cultura e de cada um dos proponentes, um cuidado maior com os custos e investimentos, visando maximizar os resultados do produto cultural e a mais justa distribuição dos recursos junto a trabalhadores e trabalhadoras do setor.
Neste sentido, é reconhecida a relevância do projeto, ainda que parcialmente comprometida pela ausência de artistas locais, porém nos parece carecer de oportunidade por todo o acima exposto. Uma produção cujo custo-benefício nos coloca ante o questionamento de sua oportunidade para financiamento público, mas que poderia encontrar – quiçá – lugar junto a financiadores privados.
3. Em conclusão, o projeto “Semana Farroupilha Virtual 2021” é recomendado para financiamento público.
Porto Alegre, 23 de agosto de 2021.
Rafael Pavan dos Passos
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Sessão das 10h do dia 01 de setembro de 2021.
Presentes: 24 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Alexandre Silva Brito, Aline Rosa, Alice Inês Lorenzi Urbim, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Rodrigo Adonis Barbieri, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luis Antônio Martins Pereira, Mario Augusto da Rosa Dutra, Michele Bicca Rolim e José Airton Machado Ortiz.
Não Acompanharam o Relator os Conselheiros: Elma Nunes Sant’Ana, Cristiano Laerton Goldschmidt, José Francisco Alves de Almeida, Luciano Gomes Peixoto, Paulo Leônidas Fernandes de Barros, Liliana Cardoso Rodrigues dos Santos Duarte e Vitor André Rolim de Mesquita.
Abstenções: Lucas Frota Strey, Vinicius Vieira de Souza e Nicolas Beidacki.
Impedimentos: Daniela Giovana Corso e Léo Francisco Ribeiro de Souza.
Benhur Bortolotto
Presidente do CEC/RS
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