Processo nº 00474/2021
Parecer nº 430/2021 CEC/RS
O projeto “2 BATUTAS DE PELOTAS” é recomendado para financiamento pela LIC-RS.
1. O projeto em pauta, após realizada a análise pela equipe técnica do Pró-Cultura RS e sendo atendidas as diligências solicitadas é considerado adequado quanto a sua proposta sendo recomendado para avaliação coletiva.
O projeto tem como produtor cultural RRPP PRODUÇÕES DE EVENTOS LTDA, por contadora Luciana de Souza Gomes, se classifica como LITERATURA e não está vinculado à data fixa. O valor proposto para financiamento em sua totalidade pelo sistema LIC é de R$ 93.182,00 (noventa e três mil cento e oitenta e dois reais)
Constitui-se num livro documentário ilustrado, intitulado Batutas de Pelotas no formato impresso e digital (e-book), tem como ideia central registrar a importância do trabalho realizado pelos maestros e compositores pelotenses João Pinto Bandeira nascido em 1845 e falecido em 1931 e José Duprat Pinto Bandeira nascido em 1885 e falecido em 1955, pai e filho, figuras relevantes na cena cultural musical do Estado do Rio Grande do Sul, especialmente em Pelotas, conforme documentação em jornais da época e teses acadêmicas publicadas. Paralelamente ao livro, será realizado um vídeo documentário ilustrando o trabalho de pesquisa realizado pela autora, bem como imagens dos locais de onde viveram os personagens do livro, depoimentos e entrevistas realizadas com pessoas da época e músicas das partituras resgatadas dos acervos dos maestros. A trajetória profissional de cada um dos maestros será contada com a inclusão de algumas histórias pessoais relevantes como a relação com o maestro alemão H. J. Koellreutter, compositor, flautista e regente que introduziu a composição atonal com a técnica do decafonismo, que esteve em Pelotas. Curiosidades como o registro do pintor italiano Aldo Locatelli, convidado a pintar os afrescos da Catedral São Francisco de Paula, de Pelotas, que incluiu nas cenas das paredes laterais da nave central os rostos de José Bandeira, como um dos apóstolos, e de sua filha Magloire, como um dos anjos. A presença do Imperador Dom Pedro na cidade. Tudo será contado incluindo alguns fatos históricos relevantes, contextualizando a importância da cidade de Pelotas como pólo cultural na época que mantinha dois teatros que recebiam óperas, orquestras e companhias de zarzuelas e de teatro.
As pesquisas para a busca de mais informações e registros de suas obras e as gravações de entrevistas com familiares, ex-alunos e pessoas que o conheceram nas cidades de Pelotas (RS), Buenos Aires e Rosário de Santa Fé (Argentina), onde viveram, trabalharam e lecionaram, em Brasília, onde reside um ex-aluno de um dos maestros, pesquisador e divulgador de sua obra, e em Porto Alegre, serão realizadas de forma on-line, através de plataformas digitais, de acordo com o “novo normal que estabelece o distanciamento social em virtude do COVID-19”. O levantamento será feito em arquivos de jornais, instituições, bibliotecas, conservatórios de música e universidades. A autora já dispõe de parte da bibliografia: livros e teses que trazem citações sobre os maestros, bandas e companhias líricas; artigos de jornais; partituras dos dois compositores; um diário com o registro de turnês realizadas pelo próprio maestro com fotos, programas de teatro e notícias de jornais.
Pelotas foi um cenário cultural riquíssimo recebendo companhias estrangeiras e de todo o país. Mas pouco da história dos protagonistas locais da época é conhecida. É um trabalho de resgate e conhecimento da produção e da atuação musical do nosso interior nos séculos 19 e 20. Cada capítulo uma micro-história, um local ou um personagem de Pelotas, fazendo um paralelo entre os biografados e a cidade.
Os dois maestros que serão estudados eram professores de vários instrumentos, tendo contribuído para a formação de gerações de músicos; eram versáteis, pois tocavam e criavam música erudita, popular e sacra, formando bandas e corais, e participando de companhias líricas, de operetas e zarzuelas; foram pioneiros, por ter participado, um, da criação da primeira orquestra sinfônica do estado e, outro, por criar uma orquestra de ocarinas. O livro, como resultado do estudo e pesquisa, terá publicação impressa e digital (e-book), tornando público o projeto, em canal do youtube, página de facebook, e blog próprio, abrindo um grande leque de leitura e visibilidade, além da distribuição em escolas de música, universidades e bibliotecas, democratizando o acesso ao material.
O vídeo documentário, que também contará com áudio descrição (AD), legendas para surdos e ensurdecidos (LSE) e janela de Libras (JL), será amplamente disponibilizado. Como importância simbólica, identitária e de pertencimento para a cultura local, podemos dizer que o maestro João Pinto Bandeira foi um pioneiro, criou e foi diretor artístico integrante (1º soprano), compositor e intérprete da Orquestra de Ocarinas que criou. Desempenhou a função de organista da Igreja Matriz de Pelotas e de mestre capela do coro e dos conjuntos que organizava para eventos religiosos.
Foi regente da Banda Santa Cecília, do Grupo Coral Giusee Verdi (que fazia parte da PhilarmônicaPelotense, da qual era diretor artístico), da estudantina Esperança e do Club Beethoven. Foi professor de piano, violino, viola, violão, bandurras, bandolim, mandolas, ocarina, flauta, clarinete, contrabaixo, canto e teoria musical.
Seu filho José Pinto Bandeira foi fundador da primeira orquestra sinfônica do Estado do RS em 1948, a Sociedade Orquestral de Pelotas, junto com o maestro Romeu Tagnin, com quem alternava a regência. Arranjador, orquestrador, compositor e professor era executante de todos os instrumentos de cordas. Autor de músicas sacras, regente da orquestra e do coro da Catedral de Pelotas, membro fundador da Orquestra Rochinha, de música popular, e membro da Sociedade Orquestral de Rosário de Santa Fé, Argentina. Viajou pelo Brasil, Argentina e Uruguai com a Orquestra da Companhia Lírica Schiaffino, entre 1908 e 1914,viagens que estão registradas em seu diário. Fundou o Coral São Matheus da Classe Bancária Pelotense e, com os irmãos, fundou um conjunto de cordas que apresentava audições na Biblioteca Pública e se apresentava nos bailes do Clube Comercial de Pelotas. Uma cadeira do Conservatório de Música de Pelotas e uma rua da cidade têm seu nome.
O trabalho desenvolvido vai gerar renda para vários agentes culturais abrindo caminho para outros trabalhos similares aumentando o mercado em pesquisa na área cultural, além de oferecer informação para diversos entes, sejam profissionais, curiosos ou estudantes, estimulando o conhecimento e a formação cultural por meio da distribuição do material de forma digital e impressa.
É o relatório.
2. O relatório acima descrito é uma síntese muito bem elaborada pelo proponente restando a este relator apenas ratificar a importância de tal projeto. O resgate e a preservação da memória cultural de quem fez história é por demais importante. O livro 2 Batutas de Pelotas será composto de forma impressa em mil unidades, um e-book on line, bate-papos com adolescentes da rede pública além de um vídeo documentário retratando imagens de Pelotas, partituras traduzidas dos maestros e executadas por renomados músicos locais. Contará com janela de Libras além do acervo, entrevistas e materiais já coletados pela autora, antes da pandemia. No roteiro há uma descrição muito clara sobre o processo de pesquisa, depoimentos de pessoas da mesma época e de personalidades que conhecem a importância do trabalho proposto. A metodologia está dentro dos padrões sendo considerada uma proposição oportuna e com mérito cultural além de contemplar as dimensões simbólica, econômica e cidadã. Tal obra, que não será comercializada, tem como autora e pesquisadora Lúcia Bandeira Karan e por Editora a Libretos.
Sobre as diligências do SAT, todas foram atendidas satisfatoriamente. A primeira solicitando anexação de documentos representativos aos workshops e oficinas com o conteúdo programático, plano pedagógico, número e critério de escolha dos participantes e carga horária. As oficinas serão através de um bate-papo em formato presencial, com tempo de duração de uma hora, sendo escolhidas três escolas da periferia de Pelotas apontadas pela Secretaria de Educação, a estudantes de nível médio numa faixa etária de 15 a 20 anos, com distribuição gratuita dos livros.
Além do formato presencial, ou na impossibilidade de estar presente caso haja ainda problemas de ordem sanitária (pandemia), parte da conversa será abordada também no videodocumentário, proporcionando uma abrangência maior, pois poderá ser utilizado em todas as escolas onde o livro será distribuído, alcançando um número maior de estudantes, que seria limitado em uma oficina.
Em relação ao conteúdo, a autora fala da importância da pesquisa histórica e da memória, ressaltando que Pelotas possui uma biblioteca pública antiga, com tradição de oferecer conhecimento gratuito a toda a população e universidades com amplo catálogo de teses e dissertações. Na área da música, especificamente, Pelotas tem o potencial do resgate pelos teatros, clubes, rádios pioneiras, um Conservatório de música, um festival de Música (do Sesc) e ensino musical na Universidade pública (UFPel). O músico Risomá Cordeiro fala sobre o uso dos instrumentos de corda em uma orquestra e transposição de partituras para cada instrumento, composição, técnica e harmonia.
3. Em conclusão, o projeto “2 BATUTAS DE PELOTAS” é recomendado para financiamento público, em razão de seu mérito cultural, relevância e oportunidade, podendo captar R$ 93.182,00 (noventa e três mil cento e oitenta e dois reais) junto ao Sistema Integrado de Apoio e Fomento à Cultura.
Porto Alegre, 07 de novembro de 2021.
Léo Francisco Ribeiro de Souza
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
A liberação dos recursos solicitados em incentivos fiscais está condicionada à comprovação junto ao gestor do sistema do rígido cumprimento das normas de prevenção a incêndios no(s) local(is) em que o evento for realizado.
Sessão das 10h do dia 11 de novembro de 2021.
Presentes: 23 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Alexandre Silva Brito, Aline Rosa, Cristiano Laerton Goldschmidt, Elma Nunes Sant’Ana, Alice Inês Lorenzi Urbim, Daniela Giovana Corso, Sandra Helena Figueiredo Maciel, Nicolas Beidacki, José Francisco Alves de Almeida, Paulo Leônidas Fernandes de Barros, Lucas Frota Strey, Vitor André Rolim de Mesquita, Rodrigo Adonis Barbieri, Luciano Gomes Peixoto, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Luis Antônio Martins Pereira, Mario Augusto da Rosa Dutra, Vinicius Vieira de Souza, Michele Bicca Rolim, Rafael Pavan dos Passos e José Airton Machado Ortiz.
O projeto foi considerado prioritário obtendo a nota final de 5,00 pontos.
Benhur Bortolotto
Presidente do CEC/RS
Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul Departamento de Fomento Centro Administrativo do Estado: Av. Borges de Medeiros 1501, 10º andar - PORTO ALEGRE - RS