Processo nº 1097-1100/16-0
Parecer nº024/2017 CEC/RS
O projeto “ZIZ GRAFITE – 1ª EDIÇÃO - 2017” é recomendado para a Avaliação Coletiva.
1. O projeto cultural “ZIZ GRAFITE – 1ª EDIÇÃO – 2017”, habilitado pelo SAT nos termos da legislação vigente, tem como proponente DIOGO KASPER SEVERO PRODUÇÕES, CEPC nº 5314. Integram a equipe principal de produção: como autor do projeto de intervenção urbanística e curadoria, o arquiteto e urbanista Alexandre Pereira Santos, da 3 C Arquitetura, que também é membro do Conselho Superior do Instituto de Arquitetos do Brasil - Departamento RS, com cachê de R$ 15.000,00; como coordenação geral e produção de base, a Cia de Produção, cujo responsável legal é Diogo K. Severo, acumulando em cachês a importância de R$ 20.000,00; a produção executiva é de Vitor Ortiz, cachê R$ 10.000,00; a direção de palco é da Telos Empreendimentos Culturais, no valor de R$ 3.500,00, que também é responsável pela captação do projeto no valor de R$ 16.000,00. A área do projeto é ARTES VISUAIS: ARTES GRÁFICAS. O período de realização é de 12/03/2017 a 31/03/2017. O local de realização é a cidade de Porto Alegre, em seis pontos de referência do bairro Floresta, no percurso denominado “Em busca da Floresta”, com os seguintes artistas: 1º QUADRO, artistas Matheus Grimm, Erick e Careca – com o título “A rua mais bonita chega na Floresta”, localizado no muro lateral do estacionamento do Shopping Total – prédio construído em 1873 pelo famoso arquiteto alemão Theodor Wiedersphan, personagem que percorrerá todo o trajeto; 2º QUADRO, com o artista Trampo, entitulado “A rua começa aonde o carro não passa”, localizado em um muro, na passagem de pedestres em frente à Casa do Comendador, prédio também projetado pelo referido arquiteto em 1925 e tombado pelo Patrimônio Cultural em 1993; 3º QUADRO, com a dupla Grimm e Trampo, sob o título “A procura da Floresta”, localizado na esquina do Hostel Boutique, prédio símbolo da economia criativa do Distrito C e também inventariado pelo Patrimônio Cultural da cidade; 4º QUADRO, com o artista canoense Renan Santos, obra a ser chamada “Arte e Ocupação”, localizado no prédio Vila Flores, premiado Centro Cultural do bairro Floresta que foi construído em 1928 pelo arquiteto Joseph Lutzenberger; 5º QUADRO, com o artista paulista Binho Ribeiro, com a obra “Festa da Floresta”, na esquina entre a rua São Carlos e Câncio Gomes; 6º QUADRO, composto pelos seis artistas em parceria com grafiteiros da região, com o nome “O que levamos da vida é a vida que levamos”, no extenso muro da UDC – Unidade de destino correto, do DMLU no bairro, que recebe resíduos especiais. Além dos cachês diferenciados entre os artistas que realizarão a grafitagem, que somam o total de R$ 48.000,00, 21% do montante solicitado à LIC no valor de R$ 227.550,00 (duzentos e vinte sete mil, quinhentos e cinquenta reais), o total dos valores de produção é R$ 60.000,00, que somados à quantia de R$ 45.800,00, destinada à realização de evento com dois shows (palco, sonorização, iluminação, etc) da Banda Cacife e de Luciano Alves (computados os cachês de R$ 1.000,00 para cada atração), alcançam cerca de 46,5% do valor solicitado para pagar tais despesas. O restante de recursos previstos está alocado na aquisição de materiais para pintura, rebaixamento das calçadas para acessibilidade a pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida aos locais das intervenções, materiais de comunicação e sinalização visual, designer gráfico, assessoria de imprensa, 01 (uma) oficina de grafitagem para o público (20 vagas) e demais despesas de produção com passagens, alimentação e hospedagem de um participante convidado de fora do estado, bem como filmagem das ações do projeto, divulgação nas redes sociais, captação de recursos e contabilidade.
É o relatório.
2. Nas palavras do proponente, “ZIS Grafite é um projeto de intervenção cultural na cidade, através da arte em grafite, criando uma história contada do bairro, relacionando memória, cultura e arte. A proposta é realizar um percurso cultural que pode ser visitado a pé ou de bicicleta, contemplando um roteiro elaborado a partir de seis quadros grafitados, que percorrerão uma série de pontos de referência do bairro Floresta. Serão convidados seis artistas para comporem as obras, sendo eles: Grimm, Trampo, Erick, Renan Santos, Careca e Binho Ribeiro (este último convidado de São Paulo e idealizador do Museu Aberto de Arte Urbana). O projeto também prevê a realização de uma oficina de grafite como contrapartida, ministrada pelo artista Matheus Grimm. Além disso, está previsto no projeto um evento de inauguração do percurso, que será realizado no espaço cultural Vila Flores, com shows gratuitos de Luciano Alves e Banda Cacife”.
Porto Alegre é prospera na arte do grafite. Suas avenidas, ruas e túneis são muitas vezes transformados em galerias a céu aberto desta manifestação artística contemporânea. Reconhecida pelos seus artistas urbanos, no entanto, causa estranheza e certa insatisfação a este parecerista que na relação de artistas constem apenas homens, sendo que a cidade é notável igualmente pela sensibilidade da arte de artistas como Nina Moraes, Carla Barth, Paula Plim, Silvia Marcon; entre outras mulheres pioneiras na cena local que, em tão pouco tempo e de forma tão destemida, ilustraram e coloriram o nosso cotidiano até então cinza e hostil.
A seguir, reproduzimos trecho do texto da Comunicação de Coordenação Social da PMPA de 22 de março de 2004, no qual anunciava o lançamento da 1ª Semana Municipal de Graffiti Expressão de Rua: “O graffiti surgiu nos anos 70 como forma de manifestação artística nos grandes centros urbanos. A espontaneidade do movimento, que utiliza os suportes possíveis da cidade e os materiais disponíveis aos artistas, revolucionou o conceito de arte e extrapolou fronteiras nacionais e culturais. Em Porto Alegre, o graffiti é uma realidade. Andando nas ruas, nos deparamos com muros coloridos de forma irreverente e alternativa. Frutos de iniciativa individual, das crews (grupos estabelecidos entre grafiteiros) ou de projetos do poder público, as paredes vão se transformando, mostrando que a cidade é um organismo vivo com múltiplas faces, percepções e expressões”.
Como se percebe, o grafite na capital dos gaúchos, além de abrangente, há mais de uma década goza de grande importância na política pública para este segmento, pois, como estilo artístico, tem o status que outras expressões das artes visuais têm que buscar diversas vezes em outros centros urbanos. Todavia, questionamos se não parece contraditório esta expressão cultural buscar financiamento público ao invés de preservar a autonomia do artista, sua liberdade de expressão social não atrelada ao patrocínio privado.
Parece-nos que, neste contexto, especialmente na região de revitalização do 4º Distrito, o tema vem a se relacionar com arte pública, onde estão em jogo os conflitos paisagísticos nas metrópoles contemporâneas — cidades incontroláveis, que se proliferam e multiplicam desordenadamente, objetos de interesses políticos na (des)ocupação do espaço urbano, motivado, principalmente, pela inculta especulação imobiliária, da valorização artificiosa do solo por este setor, e da inversão destes valores na construção civil. Henri Lefebvre (1901-1991), em seu clássico “O Direito à Cidade”, refere-se aos mercadores italianos, flamencos, ingleses e franceses, que amavam sua cidade como a uma obra de arte, ornada por todas as obras de arte. Discípulo de Lefebvre, Mario Gaviria (1938) reflete sobre o conceito de obra do autor francês, tal qual a apropriação da cidade como obra pelo habitante urbano, que considerava a cidade como obra total, a mais bela obra de arte da história da humanidade.
Podemos ir mais longe e pensar até mesmo que a obra de arte precede a cidade, pois desde o tempo das cavernas, o homem convive com alguma expressão estética em seu espaço social. Há séculos, organizamo-nos em torno de um espaço central que tem, não raramente, como seu primeiro habitante um monumento, uma estátua... enfim, uma obra de arte pública. Porém, atualmente, parece que vivemos o contrário. Num outro cenário, de vandalização da arte pública, deparando-nos diariamente com obras que são mutiladas, pichadas, roubadas, algo que, sem dúvida, reflete os conflitos sociais que ainda estão latentes sob a naufraga euforia progressista recente. Contudo, ainda preferimos a pichação a uma praça vazia, a uma cidade sem arte. Lefebvre também nos fala da consciência da cidade e da realidade urbana que se atrofia até sua desaparição, e que a destruição ideológica da cidade acaba por não evitar a instituição de um enorme vazio. Acreditamos que esta falta de diálogo com as obras de arte públicas, expressa e exposta amplamente pelo vandalismo, é um problema semelhante à falta de diálogo com a própria cidade, e que projetos como ZIZ GRAFITE podem recuperar.
Portanto, que Porto Alegre seríamos sem a existência da arte urbana? Uma Suíça, aquele “cemitério de sensações”, como dizia Clarice Lispector, ou uma “Alphaville” vigiada de Godard? Creio que preferiremos ser uma Barcelona como aos olhos de Gaudí, de Almodóvar ou de Woody Allen. Para não citar Londres, Paris, Roma e outras capitais europeias que são patrimônio e berço da nossa cultura ocidental.
Agora, é preciso pensar a cidade também como obra de arte para restabelecer um diálogo cultural e educativo entre ela e nós mesmos. Porém, no restante da capital dos gaúchos, o que se observa não é só um desprezo em relação à arte pública, mas à arquitetura e ao próprio espaço urbano, sendo a recente onda de vandalismo generalizado que observamos um sintoma disso. A nosso ver, existem duas razões bem definidas para esta situação: a primeira deve-se à ineficiência da gestão pública destas obras de arte; a segunda é a total alienação da sociedade, que, diante de um quadro de terror cultural, revela-se histericamente preocupada com a segurança particular e passa a habitar e trabalhar em oásis de tranquilidade – condomínios fechados e torres empresariais – em meio ao caos da metrópole. Exemplo dos não lugares que investem no tradicional “estilo neoclássico de viver” e outras pérolas da artificialidade publicitária. Nestas fortalezas contemporâneas, a sociedade esquece que nós, como seres humanos, precisamos estar vulneráveis ao olhar do outro. E a arte é exatamente esse meio de se estar vivo para o olhar do outro. Porém, parece-nos que as pessoas desaprenderam a se relacionar pela arte, pois estão usando como plataforma de vida uma imagem de felicidade montada sobre o fascínio consumista, o universo da autoajuda ou o velho fanatismo religioso, em que as próprias obras de arte perderam lugar para toda espécie de sensação medíocre e vulgar. Na contramão desse comportamento, o arquiteto e urbanista, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS, Joaquim Haas, em artigo vinculado a Zero Hora de 24/01/17, p.21, sob o título “Cidade: Grande Condomínio”, assevera que “todo o espaço deve carregar significado. É isso que transforma espaço em lugar”.
Acreditamos, como cidadãos, que devemos atuar no espaço dessa relação entre o público e o privado, governo e sociedade, construindo um debate permanente sobre a arte, a cidade e as chances de um desenvolvimento humano mais sustentável. Portanto, este projeto, associado à ZISPOA – Zona de Inovação Sustentável, é mais um meio para pensarmos o que a arte pública pode fazer pelo espaço urbano, transformando toda espécie de espaço vazio em um espaço disponível para o exercício da nossa sensibilidade.
Já a grande explosão da arte de rua, com suas cores ácidas e fluorescentes, diluem o macabro da vida nas grandes cidades. Este repertório da pintura urbana já foi apresentado de forma inédita em um museu público no estado, com alguns destes artistas sob minha curadoria, na mostra “Metropolitanos – A nova urbanidade em exposição”, no Museu de Arte Contemporânea do RS, o qual tive a honra de dirigir. Essa arte é capaz de nos transportar de volta à praça pública, a ágora primordial. Para muitas pessoas falta, justamente, esta visão da cidade hora coberta de grafite. Seria como se nós, seus habitantes, enfim a percebêssemos — e nos surpreendêssemos — diretamente com o seu inconsciente urbano. Estas pinturas surgem a cada novo dia como tatuagens neste corpo de concreto já marcado por diversas cicatrizes estéticas. Seus artistas têm a potencialidade de criar novos lugares em meio a ruas, avenidas e becos. Suas intervenções nos tornam mais experientes da cidade. Não olhar para elas é não querer perceber o que a metrópole nos diz atualmente. E a cidade nos fala pelos olhares de seus habitantes, artistas ou não, e suas paredes que edificam também são murais de desejos pintados e muitas vezes pichados como gritos visuais. Vivemos em uma cidade que nos observa todo o tempo, numa paisagem que nos espreita.
O grafite, de modo geral, cria esta nova cidade, pois estes artistas criam tudo que veem. Mesmo a cidade sendo algo que, cada vez mais, nos atemoriza, esta pintura urbana e sua disseminação obscena são contrárias à paisagem triste das paredes cinzas e paradas. O mais espetacular na obra destes artistas urbanos é que tornam os labirintos das ruas e avenidas anônimas, secretas e proibidas, galerias expostas para sua arte. Nessa cidade que pulsa, não são controlados pela sociedade e pintam na face urbana como se fosse a própria cara. Esses artistas asseguram, mesmo de forma primitiva e ancestral, nossa criatividade humana e têm papel crucial no advento da cidade criativa. Fazem uma arte disponível que está por todos os lados, como os carros e a publicidade, simplesmente urbanos e necessários. Esses artistas são o avesso da cidade que tem medo, sua arte nasce da coragem, da mais pura liberdade de pintar a urbe contemporânea de veias abertas com todas as suas experiências e vivências, todos os seus delírios e inquietações, exibindo-a como o lugar onde suas criações poéticas saem dos subterrâneos da noite para ocupar a luz do dia, refletindo toda a ousadia e subversão que os diferenciam. Temos que assumir a arte pública, a exemplo destes artistas, como um direito inerente ao ser humano e que o maior trauma que podemos sofrer é não sabermos disso e sermos privados da sua fruição por preconceitos sociais.
Pode-se dizer que, antropologicamente, a linguagem do grafite tem uma relação ancestral com a arte primitiva das cavernas; assim como se manifesta na criança um instinto selvagem e de certo modo inconsciente ao desenhar nas paredes. Portanto, não causa espanto que o grafite associado a essas manifestações do nosso ser atinja majoritariamente a sociedade humana na atualidade. A ponto de virar tema de debate urbano recente na capital econômica do país, São Paulo, mobilizando as redes sociais e a grande mídia, onde o recém-eleito prefeito João Dória promove uma onda de higienização urbana pintando de cinza os grafites “envelhecidos ou mutilados por pichadores” nas grandes avenidas da cidade, como a 23 de Maio, e propondo transformar pichadores em artistas por meio de um sugestivo programa específico chamado de “Grafitódromo”, com um espaço para convivência e oficinas, também inspirado em Miami com o Bairro Wynwood. Outro exemplo é o brasileiro Eduardo Kobra. O muralista finalizou no começo de novembro de 2016 o gigantesco retrato de David Bowie (1947-2016) em um edifício em Jersey City, pintado na fachada do prédio de apartamentos de luxo Cast Iron Lofts, com 18 metros de largura por 60 metros de altura. De acordo com o artista paulistano, o convite para a obra, batizada de ZIGGY STARDUST, surgiu do prefeito da cidade norte-americana, Steven M. Fulop, uma vez que Jersey City possui um projeto denominado Mural Arts Program, que já viabilizou 80 murais na cidade — o maior deles feito por Kobra. O objetivo é transformar as ruas de lá em uma galeria de arte urbana. Este ano o artista ainda pintará 28 murais nos Estados Unidos.
Porém, o projeto em análise não traz referências estéticas dos artistas, apenas os currículos que certificam o notório saber dos convidados, e não propõe, claramente, uma metodologia de trabalho entre os artistas e as comunidades em que vão atuar, onde exatamente, e como, nos seis pontos do bairro. Em todo caso, apresentam os termos de anuência dos proprietários dos muros pré-selecionados a serem pintados.
Contudo, no que pese a falta de experiência do curador Alexandre Pereira Santos na área artística, a justificativa condiz com o objetivo proposto. Porém, como parecerista, é preciso dizer que a primeira vez que analisei um projeto desta natureza foi no início dos anos 2000, na Comissão de Avaliação e Seleção do Fumproarte, e passado 15 anos, fui curador do projeto “ARTE NO MURO”, reunindo 30 artistas que pintaram 450 metros do muro da Mauá, no Cais do Porto, patrocinado pelo Santander Cultural, cujo total investido na ação foi R$ 103.644,40. Este conselheiro, na função de curador do projeto acima mencionado, também emitiu na época textos críticos para cada um dos artistas e coletivos selecionados (que se encontram afixados em placas no local) que, por sua vez, entregaram anteprojetos das propostas artísticas, que foram acompanhadas do texto curatorial de apresentação, serviço pelo qual recebi a importância de R$ 7.000,00. Além disso, sou parecerista cadastrado no governo do estado do Paraná e do Mato Grosso do Sul, onde tive a oportunidade de relatar projetos similares, portanto tenho a expertise necessária para atestar que os valores referentes aos cachês de projeto de intervenção artística e curadoria (1.1), coordenação geral (1.2), produção executiva (1.3) e produção de base (1.5) estão hiperdimensionados para o projeto em tela, no que propomos a glosa de 50% dos mesmos, sem qualquer prejuízo aos cachês dos artistas grafiteiros pré-estabelecidos e assegurados por este relator. O mesmo se aplica às rubricas de Produção Audiovisual - filmagem (1.4), de Sinalização do Percurso (1.13) e de Serviço de rebaixamento de calçadas (1.27), este último não apresentando detalhamento técnico. Assim, como solicitamos o redimensionamento do evento de encerramento com shows (exceto os cachês dos músicos) para uma estrutura mais adequada à escala urbana do local com uma glosa de 50% nos itens de locação de palco com cobertura (1.17), de sonorização (1.18), de iluminação (1.19), banheiros químicos (1.23), diretor de palco (1.24). Quanto á rubrica “2.2 Divulgação nas redes sociais”, como está a definir o responsável desta atividade, no questionável valor de R$ 9.000,00, e a julgar que esta atribuição cabe perfeitamente à assessoria de impressa com cachê já estabelecido de R$ 4.000,00, não obstante a falta de um plano de divulgação, optamos por inabilitar este item em sua integralidade, bem como a rubrica de locação de espaço para oficina (1.28) – a qual solicitamos que a produção busque parceria com a representativa lista de estabelecimentos privados a serem beneficiados com o projeto e que não aportam nenhum recurso ao mesmo. Também se altera a rubrica da atividade de Captador de Recursos para que corresponda a 10% do total solicitado, de acordo com Sistema Unificado de Apoio e Fomento às Atividades Culturais - Lei de Incentivo à Cultura, instituído pela Lei nº 13.490, e conforme a IN 01/2016.
Sobre a justificativa, vale agregar ao contexto mexicano, mencionado pelo proponente, que Orozco, Rivera e Siqueiros, os três grandes pioneiros do muralismo mexicano, transcenderam a ideologia socialista que os unia naquele momento para perpetuarem sua arte em escala monumental. Que Basquiat, artista nascido no Haiti, ícone do graffiti art, viveu a curta aventura de tornar-se rei de uma arte desterritorializada (não poderia ter escolhido melhor cidade para isto que New York), e é por isso mesmo que o grafite mal nasce e já se eterniza como uma expressão global. Relembrar que o projeto Mural Global, liderado pelo artista alemão Klaus Klinger, é outra prova —conselheiro Élvio — de que a Europa também é capaz de aprender com as experiências latino-americanas, afinal somos a matriz desta ideia cujas referências são, como vimos anteriormente, o muralismo mexicano e Basquiat; sendo que Porto Alegre possui três destes murais, legados do Fórum Social Mundial, um deles inclusive com a autoria do artista Trampo, que integra a equipe do projeto ZIZ Grafite. Importante salientar que a desocupação cultural da área central, primeiro para os centros de bairro e logo depois para o interior dos shopping centers, cedeu espaço para a voracidade exploratória capitalista, onde camelôs e camelódromos, numa leitura pós-moderna, servem de modelos tridimensionais do caos urbano que também está representado nas pichações. Ambos invadiram o centro histórico, atacando indiscriminadamente praças, logradouros e marcos históricos, vide as pichações no Monumento aos Açorianos, da recém-restaurada Ponte de Pedra ou do Monumento a Julio de Castilhos na Praça da Matriz.
Do caldeirão multiétnico em que estamos mergulhados, os grafites e pichações emergem como imagens e escrituras aparentemente desconexas que configuram uma forma totalmente autônoma de ver e ler a cultura urbana que vem da periferia para o centro. Os grafiteiros e pichadores, tal qual Champollions pós-modernos, reivindicam para si o título de tradutores dos signos e hieróglifos da vida contemporânea. Suas inscrições urbanas representam um mundo dissoluto, cuja realidade intensa e veloz das ruas se configura na sua Gran Galerie de paredes e muros onde expõe os fragmentos desta mesma cultura. Desse modo, o grafite ainda floresce em inúmeras áreas abandonadas da cidade, como se reservasse, metaforicamente, um jardim sensível em meio à construção dos não-lugares que vemos estampados em tapumes de famigerados empreendimentos imobiliários.
3. Em conclusão, o projeto “ZIZ GRAFITE – 1ª EDIÇÃO - 2017” é recomendado para a Avaliação Coletiva, podendo vir a receber a importância de até R$ 150.067,50 (cento e cinquenta mil, sessenta e sete reais e cinquenta centavos) do Sistema Unificado Pró-Cultura RS.
Porto Alegre, 25 de janeiro de 2017.
André Venzon
Conselheiro Relator
Informe:
O prazo para recurso somente começará a fluir após a publicação no Diário Oficial.
O Presidente, nos termos do Regimento Interno, somente votará em caso de empate.
Sessão das 13:30 horas do dia 25 de janeiro de 2017.
Presentes: 20 Conselheiros.
Acompanharam o Relator os Conselheiros: Ivo Benfatto, Paula Simon Ribeiro, José Mariano Bersch, Élvio Pereira Vargas, Erika Hanssen Madaleno, Marco Aurélio Alves, Bibiana Mandagará Ribeiro, Dael Luis Prestes Rodrigues, Maria Silveira Marques, Gilberto Herschdorfer, Luiz Carlos Sadowski da Silva, Marlise Nedel Machado, Luciano Fernandes, André Venzon,
Impedimentos: Luiz Armando Capra Filho, Vinicius Vieira.
Ausentes no momento da votação: Ruben Francisco Oliveira, Walter Galvani e Ieda Gutfreind
Antônio Carlos Côrtes
Conselheiro Presidente do CEC/RS
0pt;line-height:115%'>Conselheiro Presidente do CEC/RS
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